Monday, October 30, 2006

GATAS







Afável, elegante, simpático, vivo e digno de ser citado. Precisamente o género de epítetos que se fixam na mente de um jornalista! É assim que o senhor Nick Bryant, correspondente da BBC em Sidney (Austrália) vê o autor do discurso que, parcialmente, transcrevo nesta minha crónica e que, segundo me dizem, é o mais alto líder islâmico naquele continente, que dá pelo nome de Sheik Hilaly e que se pronunciava sobre a sentença aplicada a muçulmanos acusados de violação de mulheres:

“…Quando se trata de adultério, 90 por cento das vezes a culpa é das mulheres. Porquê? Porque a mulher tem a arma da sedução. É ela que despe as suas roupas, que as encurta, que põe maquilhagem e que vai para as ruas, Deus nos proteja, namoriscar… Depois, um olhar, um sorriso, uma conversa, um cumprimentos, um encontro, um crime e depois a prisão. Então, enfrentas um juiz, sem piedade, e ele dá-te 65 anos de cadeia.
Mas, quem começou este desastre? Nos seus textos, o escritor al-Rafee diz que se fosse confrontado com um crime de violação, disciplinaria o homem e dava prisão perpétua à mulher. Porquê? Porque se ela não deixasse a carne descoberta o gato não a teria arrebanhado. Se tiveres um quilo de carne e se a deixas num prato no pátio das traseiras em vez de a guardares no frigorifico, na panela ou na cozinha e tiveres uma luta com o teu vizinho porque o gato dele comeu a tua carne, tu és maluco. Não é isto verdade?
Se levas carne e a pões na rua, no pavimento, num jardim, num parque, sem a tapares e vier o gato e a comer, então de quem é a culpa, do gato ou da carne que estava à mostra? A carne destapada é um desastre. Se a carne estivesse dentro do frigorífico o gato ia andar às voltas, às voltas até desistir e ia para casa sem a comer.
Se a mulher estiver no seu quarto, na sua casa a usar o véu e a ser casta, os desastres não acontecem. As mulheres têm a arma da sedução e da tentação.
É por isso que o diabo diz das mulheres: vocês são metade de um soldado. Vocês são o meu mensageiro para eu atingir os meus fins. Vocês são o último recurso que uso para esmagar a cabeça do homem mais esperto e teimoso. Eu uso alguns homens para certas coisas, mas eles nunca me escutam. Mas vocês? Oh, vocês são a minha melhor arma.”

Meninas, portuguesas e não só, cuidem-se e revejam a história medieval. Além da BBC ser uma “tremenda referência” para os meios de comunicação social ocidentais quando se trata de educar as massas e vender certas realidades, convém não esquecer que dentro de uma ou duas dúzias de anos a nossa população vai ter muitos velhos e poucos novos e que, nas nossas fronteiras, vão continuar a estar os mesmos países do norte de África e do Médio Oriente, carregadinhos com milhões de jovens desempregados, fieis seguidores do afável, elegante, simpático e vivo Sheik Halily; sem esquecer os fiéis seguidores que já temos dentro de portas, como os irrequietos (subsidio dependentes) jovens franceses de origem magrebina que, felizmente, agora andam bem mais calmos e já só têm queimado cerca de duzentos carros por dia, incendiado uma meia dúzia de autocarros e atacado os policias em barda e em força (nada que mereça ser devidamente noticiado, nem na BBC nem noutros órgãos mais perto de nós, não se preocupem). Nessa altura os americanos, fartos de nos aturar e mais interessados noutras zonas do mundo, vão-vos mandar bugiar.

Até lá, sejam felizes e … miau!

Tuesday, October 17, 2006

Empréstimos, juros e Paz?





Não é que os marmanjos da academia sueca, aquela que atribui os prémios Nobel, ensandeceram de vez, passaram-se dos carretos e entregaram o da Paz a um ferrenho adepto do capitalismo e ao banco por si criado? A um desgraçado que preferiu passar a vida a lutar para arranjar dinheiro para os mais pobres dos pobres, não na forma de um subsidiozinho mínimo estatal garantido, tão do agrado que quem eu muito bem sei, mas através de empréstimos com a respectiva cobrança de juros? Pode lá ser? A economia que, através do risco e responsabilidade pessoal, visa o lucro, a ser galardoada com um prémio da paz?

O tresloucado, que dá pela graça de Mohammad Yunnus, começou, há cerca de trinta anos, a emprestar sem quaisquer garantias, pequenas quantias do seu próprio dinheiro a meia duzia de mulheres para que estas pudessem desenvolver negócios que as sustentassem, a elas e às suas famílias, permitindo ao mesmo tempo libertar fundos suficientes para reembolsar esses empréstimos. Como naquele país, o Bangladesh, que tem pouco mais do dobro do tamanho do nosso Portugal, clientes muito pobres não faltavam, o senhor Yunnus, para satisfazer a clientela, começou a moer o juízo aos bancos estatais e privados e, com muito engenho e muito mais persistência, lá acabou por criar um império de milhões de pequenos empresários e um grupo cujo rosto mais visível é o banco Grameen. Mas não é só ele que é louco; os seus clientes, mulheres na esmagadora maioria, em vez de se pirarem com a guita, lá vão trabalhando, desenvolvendo os negócios e pagando o capital e os juros.

Tivessem essas empresárias tempo livre e acesso a informação detalhada sobre a nossa sociedade actual e certamente já teriam pendurado o senhor Yunnus, de cabeça para baixo, no pau da roupa mais próximo. Com toda a razão, digo eu, pois se há centenas de milhar de almas lusas (mais as francesas, as espanholas, as alemãs, mais as outras europeias) a receberem, por mês e garantidinhos, uns trocos a troco de nada e a nada terem que dar em troca – excepto talvez uns votos de quando em vez – porque carga de água hão-de aquelas pobres desgraçadas, já de si (ainda) com poucos direitos cívicos numa sociedade ainda demasiado machista, terem que trabalhar que nem loucas para terem um sustento?

Acho bem que não se exagere na publicidade a este conceito capitalista, não vá perder-se o nosso modo de vida que é a esmolinha de caridade aos pobrezinhos, coitadinhos, eles nem sequer saberiam o que fazer se tivessem acesso ao dinheiro, os senhores intelectuais doutores é que sabem o que é melhor para eles, já pensaram bem, depois vinha o stress, a tensão alta, sabe-se lá se a independência, enfim, tudo problemas com que eles, os pobrezinhos, não iam, de certeza certezinha, saber lidar e por isso toca mas é a cuidar bem deles, anestesiando-os, vestindo-os e alimentando-os. Mal mas de boa vontade.
E se todas estas bondosas boas acções mesmo assim não forem suficientes para os manter quietos e anestesiados, inventam-se e implementam-se mais umas quantas normas, regulações e obrigações e outros tantos e pesados impostos. Assim, se alguém tiver peneiras e quiser sair da alçada do estado providência, ou consegue engendrar uma actividade que dê lhe lucro suficiente para sustentar a sua família e mais a família de dois ou três funcionários estatais ou então, o que é mais certo, arruma logo as botas e vai vivendo vegetando ou vegetando vivendo.

Diz o novo Nobel da Paz que caridade não, que a caridade não dignifica o ser humano. Mas o homem é doido ou quê?