Sunday, February 25, 2007

Semelhanças




O homem de cabeleira farta e loira que está a falar, personalidade famosa e o criador da conhecida marca Virgin, tem um ar pesaroso. Atrás dele, no meio da paisagem rural, onde o verde predomina, vêm-se uma série de carruagens tombadas, peças de um comboio que descarrilou. Quando o acidente aconteceu a sua velocidade era de 150Kms por hora e, de acordo com informações preliminares já apuradas, o maquinista, ex-polícia e uma das 5 vítimas em estado grave, já tinha conseguido reduzi-la um pouco. Vistas do exterior as carruagens do Pendolino – composição fabricada com avançada e dispendiosa tecnologia – parecem intactas. Há, para já, a lamentar a morte de uma senhora de oitenta e quatro anos. São desconhecidas as causas mas parece que terá a ver com problemas nos carris. Um técnico, funcionário da empresa pública de manutenção das linhas está no local, a conduzir o inquérito.

O homem que está a falar, é o dono da empresa proprietária do comboio, uma empresa privada de caminhos-de-ferro inglesa, a Virgin Railways. Além de aventureiro, é tido como um empresário preocupado em investir, dinheiros privados, em tecnologia e conceitos que permitem gerar bons lucros a vender barato, produtos que outros vendem mais caro e com muito menos investimento: dos discos, às telecomunicações, às viagens aéreas, etc. A filosofia do seu grupo é analisar os sectores e investir onde acha que a competição é fraca e os serviços caros e maus. Uma das paixões do homem é o espaço; fundou a Virgin Galactic, empresa que, para ele, marca o início de uma nova era na comercialização barata das viagens espaciais. Apesar do primeiro voo estar programado para 2009, ele diz que não tem pressa, o dinheiro lá investido é dele, não tem ninguém a exigir-lhe prazos, não está numa corrida.
Veio porque achou que os passageiros e os seus familiares quereriam ver no local o dono da composição acidentada, tal como ele quereria se fosse algum dos seus filhos a viajar naquele comboio e ele não fosse o seu proprietário.
Chama-se Richard Branson e veio dar a cara!

Joaquim Barbosa é engenheiro e trabalha na área de sinalização da Refer, empresa publica que gere a rede ferroviária nacional.
Em meados de 2004 recebeu 120 mil euros (24 mil contos) de indemnização para rescindir o seu contrato de trabalho, quando o seu salário rondava os 5 mil euros (mil contos) por mês. No final desse mesmo ano de 2004, é contratado pela mesma empresa, a Refer, para dar assessoria ao novo conselho de administração. A ganhar à volta de 6 mil euros (mil e duzentos contos) por cada mês.
Eu, que ando a adiantar dinheiro meu, ao meu estado, por conta dos meus impostos e que fiquei ferido e a esvair-me em dinheiro com este acidente, apreciava os seguintes esclarecimentos:
Quantos Joaquim Barbosa estão registados na nossa base de dados, na base de dados do meu estado? Quanto é que nós vamos pedir de indemnização ao senhor Barbosa e aos senhores administradores da Refer por este descarrilamento? Foi só mesmo este? Quem é que nós vamos ter que despedir? Parte do dinheiro que nos vai – de certeza absoluta – ser devolvido por esses senhores pode servir para me devolver parte dos meus adiantamentos?
Aguardo que o dono da Refer apareça. A dar a cara

Saturday, February 24, 2007

Leituras





A direcção do DN – jornal que deixei de comprar desde que ela foi eleita – foi demitida na semana passada por um dos manos Oliveira, actuais proprietários do jornal. Não foi por minha causa! Eu, que nem o meu escasso cabelo consigo dominar, não ia agora que ia pôr-me em bicos de pés armado ao pingarelho; quando era rapazola e ainda tinha uma farta e encaracolada cabeleira, para tentar mantê-lo liso, domesticado e apresentável para um qualquer bailarico, molhava-o e atava uma toalha à volta da cabeça até secar – dai ter ficado com o cérebro assim, meio morto e congelado.
Mas fiquei contente por saber que fomos muitos a virar as costas a um jornal há muito dominado por jornalistas que são a escrita dos seus donos.

Na Venezuela, o bonacheirão ditador local lá vai aumentando a pressão á volta do pescoço dos seus concidadãos; com os preços dos produtos tabelados, uma inflação galopante e a desvalorização da moeda local, os proprietários de supermercados que retiraram os produtos das prateleiras, para não os venderem com prejuízo, ou os que os estão a vender acima da tabela foram ameaçados com o roubo, perdão, a nacionalização das suas lojas.
Entretanto vai vendendo petróleo abaixo do seu preço aos pobres americanos, através de organizações privadas americanas que, em compensação, passam anúncios televisivos elogiando o seu gesto benemérito.

O troglodita que escraviza os norte coreanos não só conseguiu que o deixassem mexer no taco depositado nas contas bancárias que tem em Macau como também consegiu a promessa de receber petróleo e autorização para continuar a comprar os miminhos a que se habituou. Em troca? A promessa de mais uns mesitos de (suposto) bom comportamento.

Outra excelente proposta de um importante líder islâmico da Malásia: um cinto de castidade para as mulheres se protegerem dos depravados sexuais e para os maridos se sentirem mais seguros.
Como estas piadas hoje viajam à velocidade da luz, o senhor já veio dizer que, na realidade, estava a brincar, aquilo não era para levar a sério. Ainda!

Na Jordânia, um jovem universitário de 19 anos que matou a sua irmã de 22 quando soube que ela tinha uma relação amorosa fora do casamento, apesar de divorciada, saiu em liberdade, por já ter cumprido a pena de três meses a que foi condenado. O juiz decretou que o jovem cometeu o assassínio num acto de raiva, ao abrigo do artigo 98 do código penal. A sentença inicial foi de 6 meses, comutada para metade por a família ter desistido das queixas e por ele ser estudante.

De visita à Turquia, o presidente do Banco Mundial, o americano Paul Wolfowitz, tirou os sapatos para ir à Mesquita. Espanto geral e o embaraço particular: dois enormes buracos, um em cada uma das meias que o senhor presidente tinha calçadas (fotografias disponíveis em http://yalibnan.com/site/archives/2007/02/toetotally_emba.php). Sinto-me honrado por ter tão ilustre personalidade como companheiro de desgraças.

Monday, February 12, 2007

Manipulações





Cal é a coisa qual é ela que ainda agora falei nela?
Cal, claro!
O que é que antes de o ser já o era?
A pescada! Muito bem. Bravo!
Qual é o partido português que terá cem por cento – 100% – dos presidentes de câmara, eleitos pelas suas listas, constituídos arguidos?
Não, não é esse … também não … errado … está quase … bingo, esse mesmo, o Bloco de Esquerda, do tele-evangelista frei Louçã.

Cem por cento dos presidentes de câmara constituídos arguidos é obra, quer dizer são todos, não escapa um, apetece perguntar como diacho é que eles são escolhidos, ou quem é que os escolhe, para caírem assim todos, como tordos, na alçada da justiça?

Este número, cem por cento de autarcas alegadamente constituídos arguidos, terá sido atingido, de acordo com um órgão de comunicação social, na semana passada em Salvaterra de Magos. Após buscas feitas pela policia judiciária, a presidente da Câmara Municipal local, teria sido constituída arguida num processo que teve origem numa queixa apresentada pelo proprietário de uma casa de diversão nocturna (onde simultânea e alegadamente se ensina a escrever livros), que terá invocado perseguição pessoal acusando a autarca de, alegadamente, o impedir de exercer a sua actividade apesar de, alegadamente, estar na posse de todas as licenças e alvarás exigidos.

Em pequena, pequenina mesmo, nota de rodapé devo informar que a autarquia desmentiu prontamente a noticia afirmando “ainda ninguém, nem a senhora autarca, a própria autarquia, qualquer vereador ou funcionário foi constituído arguido”.

Se foi desmentido, porque é que eu vim para aqui com toda esta lengalenga? Porquê? Porque não resisti a utilizar os ensinamentos sabiamente pregados por frei Louçã, pelos seus apóstolos e por todos aqueles que vivem da exploração da primeira nódoa que, diariamente, notícias deturpadas ou falsas deixam gravadas sobre muito gente desgraçada. Eu, pecador, me confesso por ter cedido á manipulação fácil das notícias veiculadas e dos números!

Falando em manipulação de números, através de um dos meus programas de televisão favoritos, chamado a Liga dos Últimos (RTP-N), fiquei a saber que, numa distrital de futebol de onze de Trás-os-Montes, há uma competição em que o campeão e primeiro classificado fica também em penúltimo lugar e que último classificado é afinal o vice-campeão graças ao brilhante segundo lugar.
Divirto-me a ver este programa feito só com noticias e reportagens sobre clubes pequenos, que militam nas distritais, com nomes esquisitos para todos os gostos, como o ADC da Correlhã, o GDR Fiolhoso, o JDC Gache, o Benfica, o Sporting, o Atlético, o Estrela da Amadora, etc.

Monday, February 05, 2007

Musicando



Hoje apeteceu-me relembrar alguma da música que eu ouvia até para aí aos meus quinze anos. Tinha acabado de cortar a relva e quando me sentei – com dores por tudo quanto era João – para recuperar do esforço inglório a que fui obrigado, zás …assim, do nada, pensei: ó tempo volta para trás! Por mais que eu lhes diga, a minha patroa e os meus putos, não acreditam que daqui a dois meses a porcaria da relva vai estar outra vez na mesma: crescida! Não sei que mais hei-de fazer para meter naquelas cabeças duras que não adianta, não adianta perder tempo a cortá-la porque ela volta sempre a crescer. Mas, de um contra três, o que é que se espera? Casmurros, nem com uma oração os demovo!

O mar enrola na areia, ninguém sabe o que ele diz, rebola e desmaia, quanto mais se enrolam mais só nós dois é que sabemos, eu sou o lobo mau, as brotinhas a quererem passear no meu Calhambeque, aquele meu paleio de eu te darei o céu meu bem, as chatices com a namoradinha de um amigo meu, a malta a berrar pega ladrão e o senhor policia, quando se apercebe que eu roubo corações e não jóias, grita quero que tudo vá para o inferno, todas estas aventuras fazem parte desses meus primeiros anos e recordo-me de berrar algumas delas, a pedido, com a minha, na altura, voz esganiçada (felizmente não há registos gravados …).

Françoise Hardy levou-me, a mim e a tous les garçons et les filles de mon age a passear pelas ruas de Paris; quis que ela dançasse une valse à mille temps para ver até onde lhe subia a mini-saia, olhei-a como quem lhe diz, ó filha imagina que eu sou o Adamo e que te vou pôr mes mains sur tês anches. Ela gritou, apareceu l´italien, educadamente peço-lhe vous permettez monsieur que eu estou aqui a falar com a fofa, viens ma brune, não tenhas medo, o gajo era mesmo bronco, engalfinhámo-nos e eu fiquei sem une mêche de cheveux; acabou por me caçar e dei comigo feito um mèteque uma ilha italiana. Ainda hoje, para mim, Capri c´est fini! Com un peu d´amour ou d´amitié lá me consegui pirar et maintenant eis-me com o Bécaud na Rússia onde ele troca l´importance c´est la rose pela bela Natalie a quem diz je reviens te chercher um dia para te levar para o meu pommier à pommes, não sei se estão a ver bem a coisa.

Nesta desbunda total, a Sylvie Vartan e o Hallyday enrolaram-se, ela jura que si je chante c´est pour toi ele agradece e retribui je t´aime…je t´aime...je t´aime. Quando a Dalida me vê foi logo naquela de t´aimer follement, não gostei dp género dela, muito ele e ela, vou ali e já venho, ela não desiste, ne me quites pas, ó boneca, vá lá, tenho mesmo que ir, j´attendrai, tudo bem, tu é que sabes, mas é melhores sentares-te.

Sou um pupett on the strings por causa das pernas compridas e nuas da Sandy Shaw, e pour un flirt com ela até o pino estou disposto a fazer, escrevi-lhe cartas de amor a marcar encontros para Lisboa à noite; quando ela finalmente aceita e eu a aguardo numa canoa do Tejo, aparece-me, vindo não sei de onde, o carrapito da dona Aurora e ainda hoje me comparam com a lenda de el-rei D. Sebastião: passado que seja o susto, hei-de aparecer … um dia!