Sunday, September 30, 2007

Fintas


(Cartoon seen here)
Graças a uma finta perfeita executada pelo meu adversário de ténis, estive uns dias no estaleiro, com dores terríveis no meu nome, enormes dificuldades para me sentar e movimentar. Por questões de (minha) saúde, aquele marmanjo não volta a jogar contra mim, a não ser que a tal me obriguem.

Quando finalmente me consegui aguentar sentado durante algum tempo, fui actualizar-me sobre o que se passa por esse mundo fora, sobre o que se anda a passar fora, mas fora das notícias da imprensa de referência, não fosse ser atingido por mais uma finta monumental.
Andei, portanto, a navegar pela Internet onde, entre outras curiosidades, fiquei a saber que:

- O nosso primeiro-ministro, de visita à Casa Branca e na presença do seu anfitrião, perdeu o norte e socorrendo-se do seu apurado inglês técnico, agradeceu a oportunidade para discutir com ele alguns problemas no mundo, nomeadamente a situação no “médio ocidente”. Até ao momento desconhecem-se quer os territórios quer os problemas que tanto preocupam o nosso dirigente.
- Segundo o Portugal Diário (do mesmo grupo que a TVI), mais ou menos por essa altura, Bush matou Mandela! O jornalista, usando o mesmo inglês técnico do nosso primeiro, não conseguiu interpretar uma analogia feita pelo americano – que como todo a gente sabe é burro e detém o recorde mundial de gaffes – sobre a inexistência de um Mandela iraquiano.
- A Bélgica, reino federal cuja capital é também a capital da união europeia, pequeno país que para as autoridades europeias é vista como a miniatura da UE, o verdadeiro modelo para a Europa, está dividida e desde as eleições de Junho que está sem governo; os flamengos e os valões não se entendem na sua limitada federação e as rupturas acentuam-se.
- A BBC, essa excelência informativa, admitiu que funcionários seus cometeram mais uma série de falsificações nos resultados de alguns concursos e em algumas das votações realizadas pelos espectadores; algumas das falcatruas foram cometidas em programas para crianças.
- A cadeia de televisão estatal francesa France 2, que em 2000 filmou a morte de um rapaz palestiniano de doze anos, trespassado pelas balas do exército israelita, jazendo ao lado do seu desesperado e impotente pai, foi, finalmente, intimada por um juiz de um tribunal francês a tornar públicos os vinte e tal minutos de filme onde, supostamente, se prova que todo o incidente foi uma monumental encenação feita pelos palestinianos. Relembre-se que o episódio deu origem a violentos e prolongados confrontos entre as duas partes e que a ampla publicação da fotografia originou um coro de protestos mundial contra o estado hebraico.
- O emplastro do Irão está de visita a Nova Iorque, no âmbito de mais uma reunião da ONU onde vai discursar. Quer ir em romaria até ao local onde antes estavam as torres gémeas mas ainda não sabe se pode ir ou não.
- O grande FCP soma e segue a fintar os adversários mais directos!

No colchão

(Adapted from an original ad found here)


Vai para aí um forrobodó danado nos mercados financeiros mundiais que é bem capaz de estoirar com a luz ao fundo do túnel da economia que a malta já dava como certa, ainda que os bolsos continuassem tão leves como dantes.

Em pleno século vinte e um, cai o queixo a qualquer um ao ver as enormes filas de gente desesperada que, em Inglaterra, correu e corre, a levantar os depósitos que tinham e ainda têm num banco local que está, alegadamente, com as calças na mão.

Apanhados no vendaval provocado pela chamada crise dos empréstimos “subprime” (empréstimos a pessoas de muito poucos rendimentos e com um historial elevado de calotes pregados noutros empréstimos anteriores, uma estratégia seguida quando as taxas de juro nos Estados Unidos estavam a valores historicamente muito baixos) os responsáveis do banco informaram que os seus lucros tinham sofrido um rombo do caneco; vai daí, uns quantos tipos começam a sacar a massa de lá, a coisa espalha-se num boca a boca imparável, o taco que existe no cofre não chega para as encomendas, toca pedi-lo emprestado a outros bancos, primeiro aos bancos amigos habituais, depois a bancos amigos dos bancos amigos e, como a resposta continua a ser um manguito, acaba-se a recorrer a quem quer que seja que esteja disposto a emprestar o guito, mesmo que cobre um pouco, ou muito, mais. Nada que qualquer um de nós não fizesse quando está mesmo à rasca e precisa, sem falta nenhuma, daquela massa naquela dia, naquela hora, já!

Mas a manta é curta e como a tempestade aumenta de intensidade o montante que lhe emprestaram já se foi e é preciso mais; muito mais! Os manguitos estão, nesta fase, generalizados e toda a gente desconfia de toda a gente. O cérebro de cada banco pensa assim: hum … se fulano, que é um rato de esperteza, se espetou naquilo então beltrano, que é do mais fino que há, também deve estar aflito! E sicrano? Só pode! Chiça, será que vão conseguir devolver-me aqueles milhões que me pediram emprestados há uns tempos atrás? Eh pá, se não mos pagarem, também não posso pagar o que devo! Porra, querem lá ver que também eu estou feito?

Como nós faríamos em desespero de causa e se os nossos pudessem, os responsáveis do banco viraram-se para os papás, neste caso o pai do sistema bancário lá do sítio, o banco central inglês. De joelhos e em confissão, desvendam-se os segredos das asneiras cometidas – nesta fase do campeonato tem mesmo que ser – promete-se nunca mais cometer o mesmo erro, pede-se a absolvição e ajuda.

E o pai absolve e ajuda! Por enquanto! E apesar dela e das múltiplas afirmações sobre a sólida situação do banco afiançadas pelas mais altas e qualificadas autoridades na matéria, a verdade é que o Zé-povinho não acredita e continua a fazer bicha para sacar a massa daquela instituição.

Por enquanto isto passa-se pelas terras de origem do clube de futebol de milionários que, esta semana, vai levar uma carga de porrada dos leões. Mas … e se a moda pega e alastra para outras paragens? Corre-se a levantar o taco? Para meter aonde?

Wednesday, September 12, 2007

Tabuletas




Passei o fim-de-semana em Vila Viçosa. Fui convocado para, na qualidade de amigo da artista pintora, assistir à inauguração da sua primeira exposição a solo; ela é uma calipolense, palavrão que classifica os naturais daquela vila alentejana, vila que é famosa por esse mundo fora graças ao seu mármore e às, de outros tempos, tricas e mexericos reais que por lá ocorreram em séculos passados, dentro e fora das paredes do Paço Ducal. Também é famoso pelo bom vinho Borba, os queijos, os enchidos de porco preto e a sericá (se for sem a ameixa) ou sericaia (com a dita).

Os meus conhecimentos sobre pintura estão ao mesmo nível de tudo o que eu sei sobre o cérebro da ratazana o que me qualifica para, pelo menos, saber que se o objecto em questão está pendurado por um ou mais pregos e eu o não posso contornar, então trata-se, claramente, de um quadro. Se me perguntarem se o borrão pendurado é um aguarela um óleo eu entupo, engasgo-me e, na melhor das hipóteses, quando quase pareço um intelectual vestido com a minha mais que coçada e algo esburacada ganga, a camisa amarrotada e por fora das calças, a barba por fazer e o cabelo comprido, faço uma cara de ofendido como se quem se atreve a fazer-me essa pergunta idiota queira, no fundo, ter algum género de contacto físico comigo, a modos que um estalo na tromba.

Também já sei que o Picasso não é nenhum jogador espanhol de futebol a jogar numa equipa inglesa e que a Paula Rego não é uma praticante da modalidade do salto à vara. Conhecimentos adquiridos, escrevo-o com orgulho, sem o recurso a explicações!

Percorro as exposições de pintura como a mesma velocidade com que o esfomeado do meu filho mais novo limpa um bife com batatas fritas e ovo a cavalo; como resultado, ficamos, ambos, cheios e a abarrotar durante uns tempos, incapazes de repetir a gracinha.

Conhecedora destes meus desarranjos artísticos, a minha amiga fez coincidir o sacrifício da exposição com as festas anuais da vila. Das várias actividades que constavam no programa para um turista acidental como eu, só consegui chegar a tempo a uma: à largada de toiros no domingo de manhã. Este é espectáculo em que o toiro, tal como o Zé-povinho às mãos do estado, é gozado até dizer chega. Alguns, poucos, dos funcionários públicos – oh perdão, enganei-me! – alguns, poucos, dos participantes na largada, quando o desgraçado do bicho já está preso por uma corda e a ser puxado para dentro da camioneta, desatam – à socapa, não vá, mesmo preso, o diabo tecê-las – à biqueirada ou à traulitada com a ponta de guarda-chuvas.

Borrei definitivamente a pintura quando, regressado à base depois de uma visita à “nossa” Olivenza, insultei a estátua de homenagem ao monarca da restauração, insultos justificados pelas esmagadoras diferenças que há entre o lado de cá e o lado de lá, mal se atravessa a ponte sobre o rio Guadiana e se passa para lá da simples tabuleta que sinaliza a entrada em Espanha.

Antes de, rapidamente, me por na alheta, tinha desabafado para os meus companheiros de viagem: que pena os gajos não terem posto a tabuleta em Oeiras!

Misérias

(photo by wrigham on Flickr)

É no próximo fim-de-semana que vai decorrer mais uma festa do “Avante”, o jornal do partido comunista português, que contará com a presença de muitos democratas, representando partidos irmãos. Uns estão no poder, como o de Cuba e o da Coreia do norte, e outros gostariam de estar mas, por enquanto, não estão. É o caso dos representantes do partido comunista colombiano que, teme-se, poderá trazer outra vez as FARC, organização que a união europeia classificou como terrorista e que, entre outras acções de cariz social, mantém refém e prisioneira politica, há cinco anos, uma senhora que dá pelo nome de Ingrid Betancourt.

Imagina-se a chinfrineira que, por esta altura, já se faria ouvir por tudo quanto é imprensa de referência, escrita e falada, se em vez de esquerdistas, os terroristas que nos pudessem vir fazer uma visitar, fossem de uma qualquer organização ligada à extrema-direita.

Faço figas para que nenhum dos cubanos que cá vem se lembre de aproveitar a viagem para dar o salto e pirar-se do paraíso do camarada Fidel; os últimos rapazes que o tentaram num país onde se fala a língua portuguesa – o Brasil – acabaram apanhados pela polícia local e recambiados para a ilha onde, alegadamente, foram premiados com um programa, grátis, de aperfeiçoamento e aprofundamento da noção de liberdade e do respeitinho (além de uma colecção de cromos e outra de alfinetes de lapela, ambas de Lula da Silva).

Confesso que não entendo como é que há tanta gente a querer sair de lá. Se calhar é tudo mentira e não passam de invenções dos inimigos dos camaradas, que não olham a meios para tentar denegrir a imagem das democracias comunistas, a cubana neste particular. Pior: segundo consta, os tolões, não só querem sair aos magotes como – ai valha-me o camarada Estaline! – escolhem como principal destino os … USA.

Preocupado, eu vou cumprir a minha parte e vou, mesmo que vá sozinho, levar-lhes à festa do Avante, alguns milhares de exemplares (para eles depois poderem distribuir lá na terrinha) de uma das edições da semana passada do Diário de Noticias, onde se dá conta que o número de pobres lá nos states é de 36 milhões! Tantos que, segundo o diário, constituiriam o terceiro maior estado, à frente da Califórnia. Perguntar-lhes-ei: é para lá que quereis ir? Heim? Dir-lhes-ei: pensem bem rapazes, pensem bem se querem viver como esses trinta e seis milhões, com:
- Salário anual inferior a 13,167 dólares (mais ou menos 9,700 euros). Já agora, a título de curiosidade, o rendimento médio anual dos agregados americanos foi de 48,200 dólares em 2006 (uns míseros 35, 500 euros por ano, bem longe da média que existe nos paraísos dos camaradas e até da nossa própria média).
- 43% desses pobres são proprietários das suas casas (com três quartos em média, garagem, terraço e quintal; 80% têm ar condicionado; 75% têm 1 carro; 97% têm uma televisão a cores e 50% tem duas; 62% têm televisão por cabo ou satélite; 89% têm micro-ondas e um terço tem máquina de lavar louça, etc., etc.

Só mesmo a jovens completamente destrambelhados da cabeça é que lhes passaria pela mona querer ir para uma terra assim. Inconscientes e muy locos de la cabeza!

Monday, September 03, 2007

Celebrando


(Nota da administradora deste blog: como quem "posta", "ilustra" e mantém este blog sou eu, escolhi este cartoon como forma de protesto pelas baboseiras que abaixo são escritas sobre mulheres, mulheres ao volante e fornecimento de cerveja pelas ditas. Pela parte que me cabe, a partir de agora quem quiser cerveja nesta casa que a vá buscar:)!!!)

Hoje somos nós, os dragões, que estamos a aproveitar o sol! Mandámos os lagartos para dentro, para a sombra, e eles foram em bando mas com tranquilidade juntar-se às águias que, coitaditas, estão feridas. Presumo que ambos se vão limitar a travar aquela luta renhida que, nas ultimas duas décadas, têm travado pelo titulo de campeão da segunda circular, competição menor e sobre a qual eu nada sei o que, em boa verdade, me não interessa.

Nestes assuntos importantes e vitais (como é o caso do futebol) eu, quando posso, vou logo de peito feito para a gozação e aproveito a maré enquanto ela dá. Como é o caso! Quando muda, enfio a viola no saco, fico surdo, encolho-me na posição fetal e deixo que me martelem os costados até se fartarem ou até a maré me sorrir outra vez. Ainda há coisa de umas semanas levei tantas que ainda tenho algumas nódoas verdes.

Ontem celebrei a nossa vitória com cerveja! E muita! Por isso não estou a conseguir escrever sobre o tema que tinha escolhido para hoje, sobre a teoria da relatividade e o seu efeito nos verdeufémios

Não sei se sabem mas a cerveja e a roda são as duas principais invenções de todos os tempos e explicam o modo como a nossa sociedade se comporta hoje.

Reza a história que primeiro foi inventada a cerveja; os homens, para ficarem perto da fábrica, formaram as primeiras aldeias levando consigo as suas mulheres para que estas se levantassem cedo, fizessem as camas e fossem buscar a caloria enquanto a maior parte dos homens curtia a buba da véspera e ia à caça para ter qualquer coisa que petiscar enquanto mamava a dita.
Era função da mulher providenciar para que a casa se mantivesse sempre bem fornecida com o liquido enquanto esperávamos pela descoberta da garrafa e da lata, invenções que viriam a facilitar a sua conservação e o seu armazenamento.

Alguns dos homens não bebiam e, entretanto, começaram a coser, a tratar dos cabelos, das unhas, etc. Muitos tornaram-se activistas e outros conseguiram até transformar-se em mulheres.

Como não há mal que sempre dure nem bem que se não acabe, quando elas começaram a recusar-se a ir buscar a nossa cerveja, fomos forçados a pensar; desse esforço mental nasceu a roda.

No princípio como elas não perceberam logo a utilidade da coisa ainda tivemos que ser nós a pedalar até à linha de produção.
Quando conseguimos que elas percebessem a utilidade da roda, caíram-nos em cima as contas das reparações dos estragos que elas faziam quando andavam sobre as rodas e fomos forçados a inventar o frigorifico e o camião e convencer o fabricante a trazê-la até nós.
E assim estamos, nos dias de hoje, como os dragões: sempre a malhar!