Monday, January 21, 2008

Sotaques





Vendo terreno na Ota, óptima localização, água a dar com um pau e muito sol quando não chove.
Por razões de índole particular, tenho muita urgência na transacção, vendo a um preço muito barato e dou, como bónus, um cromo do Eusébio devidamente assinado (por mim) e o álbum “ó tempo volta para trás”, em vinil e em razoável estado de conservação (as duas metades do disco, se bem coladas, ainda fazem uma circunferência completa).
Ou então troco-o por qualquer coisinha no deserto do outro lado do Tejo. O que for mais rápido.

Os meus amigos bem me avisaram, a Maria zangou-se, durante três segundos não abriu a boca, mas eu não lhes dei ouvidos, sou teimoso que nem o Sócrates, e enterrei-me que nem um nabo naqueles doze metros quadrados, na esperança de que lá calhasse um balcão de “check-in” do (prometido) novo aeroporto ou, no mínimo, um WC para homens (se fosse um para mulheres não precisava de tanta terra, os delas são sempre mais pequenos, basta ver as bichas que elas fazem sempre que querem... vocês sabem... não é preciso fazer nenhum desenho, pois não?).

Eu devia ter desconfiado quando houve aquela algazarra toda com o diploma do nosso primeiro e foi publicada a cópia do seu exame escrito final da cadeira de inglês técnico; devia ter ficado em alerta vermelho quando o ouvi a falar em inglês na visita à Casa Branca e durante a presidência portuguesa. Além de crente e distraído, também nunca me passou pela cabeça que o ministro das obras públicas tivesse o mesmo grau de problemas, problemas de pronúncia, no francês. E estes erros de interpretação, pagam-se caros!

Se eu tivesse sido o único a interpretar mal o que o homem disse a propósito de “jamé, jamé, jamé” construir um aeroporto no deserto que é o lado sul do Tejo estaria a sentir-me pior do que estou; estou, felizmente, acompanhado por milhões de portugueses que pensaram que ele estava a dizer que construir o novo aeroporto do outro lado “nunca, nunca, nunca”.

Como estávamos todos enganados e que burro que eu sou! O homem quis dizer foi que “aeroporto do outro lado, no deserto, jémé, jémé, jémé” ou em francês de poesia “j´aimais, j´amais, j´aimais”.

Uma fonte que ainda fuma, próxima de mim e dos corredores do governo e que não se quis identificar por questões de saúde, contactou-me no sentido de me informar que a expressão em francês utilizada pelo senhor ministro e a sua posterior interpretação publicas tinham sido propositadamente encriptadas, a pedido do senhor Almeida Santos, para que os terroristas não ficassem a saber a verdadeira localização da nova infra-estrutura e da ponte que a vai ligar à capital, caso contrário correr-se-ia o risco de atentado.

Agora percebo porque é que o senhor ministro ainda lá está. Aposto que o senhor governador do banco de Portugal também deve ter alguma explicação deste género para explicar a sua distracção e, aparente, incompetência.

Hábitos


Então, o fim do ano, foi bom? Portaram-se bem e entraram no novo ano com o pé esquerdo bem levantado, comeram, sem se engasgar, as doze passas ao som das doze badaladas do sino que tocava na televisão mais próxima e juraram que – desta vez é que é – vão mesmo ser melhores, mais perfeitos, mais gordos e mais bonitos? Lindos meninos e lindas meninas! Sim senhor!

É, eu também sou assim, também minto muito! Das milhares de promessas e desejos que faço e peço em todas as passagens de ano enquanto espero que o gongo pare de me azucrinar os tímpanos para eu poder ir à minha vida e emborcar a minha primeira taça de champanhe do novo ano, só duas é que verdadeiramente têm uma taxa de sucesso bastante razoável, quase com tanto sucesso – modéstia à parte – como as reformas do estado e da administração publica feitas pelo nosso governo: vou acordando vivo, inteiro e sem mazelas graves como desejo e vou progressiva, mas firmemente, a caminho da perfeição na preguiça como prometo. Quanto ao resto, népia!

Prometi acabar com algumas rotinas e alguns hábitos de longa data. Um deles, a conselho do meu fisioterapeuta, é deixar de dar o pontapé diário na minha Maria mal acordo. Ela grita, portanto também está viva e eu fico logo mais relaxado! Diz ele, o fisioterapeuta, que a nódoa negra e a dor no dedo grande do meu pé esquerdo terão tendência a desaparecer. Vou experimentar, é bem capaz de ser verdade porque, quando aqui há tempos ela se refugiou num hospital para poli traumatizados durante duas semanas, eu melhorei bastante, já não tinha dores e até consegui andar o dia todo com os sapatos novos calçados sem andar torto.
Ele prometeu-me que ia investigar e ver se descobria outras formas de eu me certificar que a Maria acordava viva sem necessidade de me aleijar tanto. Não acredito que haja, mas enfim, não lho quis dizer logo porque, como um bom candidato, preciso dele e não quero ser frontal, não vá ele pensar que eu não o tenho em boa conta.

Porém, não quero elevar muito as expectativas da Maria porque depois, se não conseguir cumprir a minha promessa, vou ficar muito desapontado, arrisco-me a ficar tão deprimido como aqueles senhores que pensavam que viviam num regime de economia livre de mercado e acabaram recentemente atropelados pelo rolo compressor do estado empresa socialista, a propósito da oferta publica de aquisição do BCP.

Na sua coluna dominical no Público, a que deu o nome de “PS, SA”, o professor António Barreto, que os conhece de ginjeira, escreveu: “A sua penetração no mundo do dinheiro tem vindo a crescer, no que está a seguir a via inaugurada pelo PSD. Como é evidente, tal actuação é formalmente apresentada como uma prerrogativa do Governo, um dever cumprido no interesse nacional. Acreditemos ou não nessa versão, a verdade é que o PS está hoje directamente envolvido, através dos seus amigos, antigos dirigentes, filiados, sócios, simpatizantes e antigos governantes, em vários sectores da economia, banca, dos petróleos, da televisão, das telecomunicações, das redes de electricidade e gás e outros”.

Mas a quem é que eu quero enganar com os desejos que formulo e com as promessas de mudança a que me proponho a cada ano que começa? Um bom 2008 para vocês também!

Monday, January 07, 2008

Conspirações




“…Não sei se Sócrates é fascista. Não me parece, mas, sinceramente, não sei…O que ele não suporta é a independência dos outros, das pessoas, das organizações, das empresas, das instituições…(…)O primeiro-ministro José Sócrates é a mais séria ameaça contra a liberdade, contra a autonomia das iniciativas privadas e contra a independência pessoal que Portugal conheceu nas ultimas três décadas…temos de reconhecer: tão inquietante quanto esta tendência insaciável para o despotismo e a concentração de poder é a falta de reacção dos cidadãos. Será anestesia? Resignação? Acordo? Só se for medo…”.

A sorte do senhor que escreveu isto, e já agora a nossa, é que vamos ter mais um canal de televisão, mais um canal generalista, parece que vai começar a emitir algures durante o ano que vem, segundo nos informou, na semana que passou, o ministro SS (não confundir com a sigla da segurança social). Este novo canal, aposto, tudo há-de fazer para desmentir o autor do texto que citei acima, o concurso há-de ser ganho por gente com eles, gente sem medo, sem influencia politica nem dependência económica do governo e do estado português, investidores do planeta Plutão.

Como provável premiado, logo após o anuncio, um de dois potenciais concorrentes: o grupo dos Oliveirinhas ou o grupo Cofina.
Sobre a independência do primeiro em relação a quem manda, constatado pelo posicionamento, horizontal, dos seus dois jornais de referência, o JN e o DN, estamos conversados, acho que já nem mesmo quem acredita no pai natal deve ter dúvidas mas, anjinhos, com barrete, asas e tudo, ainda os há, portanto, se for esse o seu caso, não desespere, não está só.

Quanto ao segundo, ao grupo Cofina, a coisa apresenta-se um pouco mais complexa, os accionistas do grupo, além da forte presença no sector de media, têm também uma grande actividade industrial (pasta, papel, aços e sistemas de armazenagem) através de outra empresa, a Altri, também ela cotada na nossa bolsa. A Cofina, domina o mercado de publicidade, algumas das suas publicações são líderes destacados no segmento da imprensa escrita e escreve lá muita boa gente que, assumidamente, tem alergia ao açaime.

Coincidência ou não, no passado dia dois, um dia antes do anúncio publico do ministro SS, o nosso banco, a Caixa Geral de Depósitos, através da Caixagest, aumentou a sua participação na dita Cofina, detendo agora um pouco mais de dois por cento, participação que lhe dá uma posição qualificada, permitindo-lhe, para já, meter o bedelho.
Até ao resultado final do concurso se verá em que quantidade e de que modo vai ser administrada ao vencedor a dose necessária de respeitinho-que-é-preciso-teres-senão-não-comes!

Se o autor das tais frases que eu citei no começo do meu texto tiver razão naquilo que escreveu, estamos feitos ao bife e o melhor é emigrarmos para um país seguro, tranquilo, rico e amante da paz, como o Irão, Cuba ou a Venezuela.
Ah, antes que me esqueça: o autor é, mais uma vez, o socialista António Barreto, na sua crónica de domingo no jornal Público.