Monday, March 17, 2008

Churrasco




Um amigo meu acaba de me dar uma pata de javali, o material vem limpinho e pronto para o tratamento culinário que se impõe, com excepção do pé do falecido que ainda traz o casco calçado como selo de garantia do produto. Está, da parte dele, cumprida a promessa, agora hei-de eu cumprir a minha.

A embrulhar a pata do bicho vinham algumas páginas de um dos jornais do regime, o semanário Expresso, a página da capa incluída e, da mistura das letras com o sangue da besta, sobressaiam em titulo as afirmações dum antigo dirigente centrista, arguido num processo que, em entrevista, afirmava ter entregue em 1989 dois mil contos a José Pacheco Pereira (JPP) para financiar uma campanha em Loures.

Aguçado o apetite pela carne e a curiosidade pela entrevista atirei-me – sôfrego – à leitura da dita, na busca das pistas para tão incriminatório titulo.
Espero bem que, ao malhar o bicho, não fique com o mesmo amargo de boca com que fiquei depois da leitura!
Ou tão “referente” jornal não publicou a totalidade da conversa ou então sou eu que – pató até dizer chega! – não consigo entender os porquês daquele título, supostamente seleccionando e atacando o peixe mais graúdo a ser alvo das acusações do entrevistado.
Presunto, perdão, presumo que sejam as minhas cada vez mais débeis capacidades mentais a não compreender a opção editorial e não uma mesquinha vingança do semanário (e do entrevistado) contra aquela que é, concorde-se com ela ou não, uma das mais independentes cabeças e uma das vozes mais incómodas que ainda restam no país politico e jornalístico, para aqueles que estão e para os que também querem instalar-se no bem-bom.
No meu miserável e absolutamente desnecessário ponto de vista, obviamente!

O acusado, no seu blogue o Abrupto, nega tudo e, através dum texto de Júlio Dinis, parte do qual eu transcrevo, retrata o caldinho preparado pelo Joãozinho das Perdizes (não, não sou eu, eu sou mais para o Joãozinho fogueteiro):

“…O morgado vinha, como já disse, à frente. (...) Atrás vinham os eleitores de Pinchões, velhos e moços, ricos e pobres, mas todos com o olhar tímido e estúpido, todos com movimentos enleados, todos com os olhos no caudilho, para saber o que deviam fazer; se ele parava a cumprimentar um amigo, paravam todos com ele; a direcção que tomava, tomavam-na todos a um tempo; apressavam ou demoravam o passo, segundo a velocidade que ele dava aos seus; se ria, sorriam; se praguejava, tudo ficava sério. O cortejo parou à porta da igreja. O morgado passou revista à sua tropa, à qual deu instruções. Os homens, com os cabelos para diante dos olhos, os braços estendidos e a cabeça baixa, não ousavam fazer um movimento e conservaram-se enfileirados até nova ordem do Sr. Joãozinho. Pareciam envergonhados de serem precisos a alguém. No bolso de cada um destes homens havia um oitavo de papel almaço dobrado, no qual estava escrito um nome; um nome de um homem que eles nem sabiam se existia no mundo. No momento devido, cada um deles, chamado pela voz do escrutinador eleitoral, respondia "presente" ; aproximar-se-ia da urna, entregaria ao presidente da mesa aquele papel e retirar-se-ia satisfeito, como se descarregado de um peso que o oprimia. Se lhes perguntassem o que tinham feito, qual o alcance daquele acto que acabavam de executar, não sabiam dizê-lo; se lhes perguntassem o nome do eleito para advogado dos seus interesses e defensor das sua liberdades, a mesma ignorância; se lhes propusessem a resignação do direito de votar, aceitariam com júbilo; se, finalmente, lhes dissessem que naquele dia estavam nas suas mãos e dos seus pares os destinos do país, abririam os olhos de espantados, ou sorririam com a desconfiança própria dos ignorantes.Inocente povo! Querem-te assim os ambiciosos, a quem serves de cómodo degrau.”

O que os ambiciosos, os instalados e os a instalar, querem fazer às (poucas) cabeças e vozes chatas, aqui personalizadas no JPP, é o que eu vou fazer ao javali: grelhá-lo e, à mesa com os meus amigos, comê-lo aos bocadinhos! Nham…nham…nham!

“P. S. – Quanto tempo esperarei até que uma das referências televisivas se digne falar sobre os sermões do “mentor espiritual” do senhor Barack Hussein Obama? Já estão, pelo menos, com semana e meia de atraso…”

Sunday, March 16, 2008

ASS



Com três letras apenas, independentemente do número das que compõem o seu nome próprio, se escreve a palavra Mãe. Esta simplificação é uma das principais ajudas que os putos têm quando, depois do nascimento, são largados às feras. Imagino como seria difícil o relacionamento se tivéssemos que chamar às nossas progenitoras “senhora-dona-maria-não-sei-das-quantas”! Com a palavra Mãe, que abrange, para aí, meio mundo, o assunto fica resolvido.

Facilitado assim o diálogo entre as duas partes, abrem-se alguns, e bons, anos de razoável relacionamento entre aqueles dois seres sendo desejável que os estafermozinhos tirem o maior partido dos ensinamentos que lhes vão sendo ministrados.

Esta mesma teoria pode também aplicar-se aos progenitores masculinos dos estafermozinhos que, de “senhor-dom-manuel-não-sei-dos-quantos” passam a Pai, outra simples palavra de três letras que abrange, para aí, o outro meio mundo.

É este mesmo critério que vou usar para, simplificando, não ter que dar muito ao dedo ao escrever sobre o ministro Augusto Santos Silva, o nosso ministro dos assuntos parlamentares e, daí, o título do meu texto, ASS, o conjunto das inicias que compõem o seu nome e que abrange eu sei lá que parte do mundo.

A cara do ASS é patusca e faz-me rir! ASS, durante a campanha eleitoral para a presidência da república disse que a eleição do actual presidente seria igual a um golpe de estado.
Por esta e por outras piadas, eu acho que o ASS é muito mais fedorento do que os gatos, quer dizer, acho que ele tem imensa piada, uma enorme queda para cómico, quase tanta como tinha (e ainda tem) o menino guerreiro, o tal menino que, de tanto sujar as fraldas de primeiro-ministro, não sobreviveu ao tempo da incubadora!
Ao contrário do nado morto, a quem bastava abrir a boca para logo entrar mosca acompanhada de bordoada mediática aos montes, ASS nasceu virado para a lua, nasceu com paio como se diz habitualmente. O menino guerreiro, esse, coitado, nasceu sampaio e por ele morreu.

ASS foi a Chaves e, como qualquer estremada mãe perante uma birra inoportuna do seu mal educado e mal habituado bebé, logo desancou nalguns populares que assobiaram e apuparam sua senhoria. Ò abrunhos, ouçam bem:
- ASS lutou contra o fascismo! Por isso:
- ASS é que tem moral!
- ASS distingue um democrata de um ditador!
- ASS é que é democrata!
- ASS é que sabe o que é bom para os outros!
- ASS é que é o último a calar-se!

Em resumo: ASS é socialista! ASS é mais, muito mais do que mãe e pai! A minha preciosa liberdade é devida ao ASS e aos seus socialistas amigos! A eles e a mais ninguém!

É ou não é um castiço? Ah, grande ASS!

Vénias

John Stillwell / EPA
Quando andava a estudar, uma das matérias de que eu mais gostava era da disciplina de história. Não tanto da história do tempo dos dinossauros, dos trogloditas mais as suas salas de jantar cheias de graffitis nas paredes e de outras velharias do género, mas dos acontecimentos mais recentes. Gostava especialmente da nossa história, dos nossos reis, das nossas heroínas e dos nossos heróis, das suas proezas e até das suas desgraças, sempre em pé de guerra na defesa dos seus ideais, dos seus interesses, das suas coisas.

Como quase todos os energúmenos do meu tempo, eu sabia de cor e salteado o nome e o cognome de cada um dos reis e as respectivas dinastias com excepção da última, da quarta, sobre a qual era, e continuo, um burro chapado.
Ainda hoje sou menino para me bater em duelo com qualquer um e recitar, de olhos abertos ou fechados, as três primeiras dinastias (só não desafio a minha Mãe porque ela teima em não se esquecer do que aprendeu no século passado).

Havia os actores principais, muitos, e os secundários, poucos, mais raros. O meu actor secundário preferido era o porta-bandeira na batalha do Toro, aquele bravo e desempoeirado alferes que, sem braços, se manteve firme e hirto em cima do cavalo com a bandeira sempre levantada, bem presa pelos dentes. Na altura nem sequer me passou pela mona que aquilo era publicidade enganosa já que, com os braços decepados e a esvair-se em sangue ainda vá, sim, ainda acredito que o gajo se aguentasse, agora conseguir aguentar a bandeira com os dentes numa época em que ainda não havia o pepsodente, o flúor nem a super cola 3, não, eu isso, hoje, já não engulo. Já a padeira de Aljubarrota nunca me disse nada, não só porque os mortos não falam mas também porque, em vez de a terem descrito como a Brigite Bardot do pastel de Belém, passou para o meu livro de história como uma gorduchona desgrenhada e pouco limpa.

Dos actores principais, o meu preferido era (ainda é!) o mestre de Avis, o D. João I, porque eu tenho o mesmo nome que Sua Alteza tinha, porque deu uma trepa das antigas nos castelhanos e porque, do seu casamento com uma duquesa inglesa, teve um conjunto de filhos com muita pinta, ninhada que ficou célebre na nossa história.

Hoje, republicano ferrenho, tenho muito pouca simpatia pelas realezas que ainda sobrevivem e que, na minha opinião, para pouco mais servem do que para ocupar as páginas dos mexericos e da imprensa cor-de-rosa.

Porém, respeitosamente me curvo perante o príncipe Harry, o filho mais novo da falecida princesa Diana – aquela baby que foi para a cama com a cara do Carlos sem apanhar urticária – e o terceiro na linha de sucessão ao trono inglês.

O jovem príncipe esteve, por ser esse o seu desejo, durante dois meses e meio no Afeganistão a ajudar na guerra contra os talibans, um dos grupelhos que quer mandar a nossa civilização de volta aos tempos do meu mestre de Avis, quando a liberdade, a dignidade do individuo e a democracia ainda não eram o núcleo dos valores que, penso eu, hoje, nos une.

Thank you Sir!