Thursday, August 28, 2008

Defeitos

(foto daqui)

Todos os sábados, a minha Maria, por uma qualquer obscura razão que eu ainda não entendi, não contente por me despejar da cama de madrugada para ir comprar pão fresco para o seu pequeno-almoço, obriga-me também a comprar-lhe um dos dois semanários do nosso querido regime, o Expresso ou o Sol. Se ela usasse todo aquele papel para distinguir as coisas que mete no frigorifico ou na arca congeladora – o queijo, o fiambre, a marmelada, os ovos, as azeitonas, os rissóis e os pasteis de bacalhau crús, as costeletas de borrego, os cubos de gelo, etc. – talvez eu percebesse a razão de ser deste ritual, mas como tudo o que tiro daqueles dois aparelhos está enfiado em sacos de plástico transparentes ou embrulhado numa película adesiva, confesso que continuo a estranhar este desperdício de dinheiro. Devo porém dizer que, quando ela opta pelo semanário Sol, ainda tiro algum proveito, no meio daquela tonelada de papel vem um livrinho com vários jogos de Sudoku e problemas de palavras cruzadas, coisas que me entretêm durante alguns serões. Quanto ao mais…mistério!
De vez em quando, à laia de gozo, põe-se a ler em voz alta algumas das pérolas que eles imprimem e, foi assim que fiquei a saber, através do relato do colunista Marcelo Rebelo de Sousa, que o Messias, o senhor Hussein Obama, andou, enquanto estive de férias, em tournée pela Europa, com o esperado e o desejado sucesso, actuando sempre para grandes, cultas, embevecidas e embasbacadas audiências. Segundo o comentador, à parte uma ou outra gaffe do profeta maravilha, não se percebe porque carga de água é que os americanos não desistem das eleições de Novembro e não o nomeiam já como seu presidente, sendo certo que, na opinião do professor, a falta de cultura daquele povo talvez explique a razão para a persistência no acto eleitoral.
Aquilo ofendeu-me! E magoou-me! É que se eu votasse naquelas eleições, não votaria no salvador do mundo, pelas mesmíssimas razoes porque nunca votaria no tele-evangelista frei Louçã, são os dois muito socialistas, demasiado esquerdistoides para o meu gosto.
Que os meus amigos, aqueles que me conhecem bem, me chamem burro, estúpido, cabeça de alho chocho, energúmeno, estrambulhado da mona e outros predicados que não posso revelar publicamente, vá que não vá; agora, vir um marmanjo, que só conheço de o ver a pedinchar para votos e de mandar uns bitaites na televisão, insinuar que sou uma besta de um inculto por não fazer parte da carneirada dos que se babam com o Messias, isso entristece-me (nota para o senhor director: se entender que chamar marmanjo a tão ilustre figura nacional pode prejudicar a minha já frágil carreira como cronista neste jornal, agradeço que troque o termo por outro mais suave como troca tintas, alcoviteiro ou intriguista).
Ninguém, no seu perfeito juízo, gosta que gozem com os seus defeitos e eu pergunto: que culpa tenho eu que um dos muitos defeitos de fabrico com que vim ao mundo, seja o de ser incapaz de reconhecer as virtudes do socialismo e do seu estado todo-poderoso (outra nota para o senhor director: quanto aos meus defeitos de fabrico, vamos ter que conversar um dia destes...) Se já é duro ter que viver com este complexo, imaginem o que eu não sofro sempre que malta deste calibre me humilha por causa desta minha falta de apreço pelos bons da fita!
ii Felizmente que o ministro SS (Santos Silva), o ministro socialista da propaganda, que manda nas televisões publicas, conseguiu assegurar e gastar uns largos milhões do nosso taco para cumprir um serviço publico fundamental para a minha sobrevivência (e para a sobrevivência de qualquer povo subjugado por quem manda), garantindo as transmissões em sinal aberto de jogos de futebol no canal um, coisa que, é mais do que sabido, as privadas nunca fizeram, nem nunca pensaram em fazer por não poderem recorrer ao bago do contribuinte; assim, com montes de jogos à borla, sempre me distraio e não passo tanto tempo, obcecado, a pensar nos meus defeitos, livro-me de depressões e poupo na despesa da farmácia.

Wednesday, August 13, 2008

Lata



E pronto, acabou-se o que era doce, as duas semaninhas de papo para o ar já lá vão, por acaso na ultima até nem consegui descansar, vim completamente estoirado, fui fisicamente abusado por águas mediterrânicas a vinte e oito graus de temperatura, forçado a banhos com duração interminável, enfim, estou pronto para descansar no escritório, alapado à secretária, a fazer de conta que estou a trabalhar, sempre atento às investidas do patrão, o gajo é malandro que se farta e aparece, sorrateiro, quando menos espero e, no meu estado actual, com o meu tempo de reacção igual ao de um caracol enfrascado com valiums, é despedimento pela certa.

Na primeira semana, para me lavar em água gelada, paguei cada litro de gasolina a um euro e cinquenta e três cêntimos por litro e, na segunda semana, logo depois de ter atravessado a linha imaginária que separa o nosso país da Espanha, à laia de comité de recepção, fui castigado com um desconto de trinta e um cêntimos por litro, cada litro de gasosa de 95 octanas vendido a um euro e vinte e dois cêntimos, cada maço de Marlboro normal trinta cêntimos mais barato, centenas de quilómetros em auto-estradas sem portagem, Iva mais baixo, etc. Trauma atrás de trauma!

Ainda bem que o conde D. Henrique conseguiu estoirar com o cinto de castidade da senhora D.ª Teresa de Leão, acto que, por não ter sido efectuado com as devidas precauções, acabou por gerar o nosso primeiro rei, jovem belicoso e mal criado que, ingrato, respondeu à estalada à senhora sua mãe, tendo o seu mau feitio levado à independência deste rectângulo à beira-mar despejado. Tivesse o conde falhado a pontaria naquela noite fatídica e, sabe-se lá, se não estaríamos nós agora obrigados aos mesmos traumas com que os desgraçados dos espanhóis têm de conviver.

Sem contar com o frete que deve ser ter as contas publicas equilibradas e uma economia que fugiu da nossa a sete pés, ter que andar a celebrar a vitória num campeonato da Europa em futebol, a celebrar vitórias nas maiores provas mundiais de ciclismo, do desporto automóvel, do ténis, eu sei lá mais o quê. Desconheço que defeito de fabrico é que os tipos têm, que raio de cromossoma é que lhes falta, que justifique a existência de tantas e tão grandes diferenças.

Há, pelo menos, uma coisa em que eles não nos batem; refiro-me – claro! – à lata! À lata meus senhores, à lata! Os espanhóis ganham-nos por KO técnico em tudo o que lá em cima escrevi, mas na lata, sim, na lata, aí, ainda têm que comer muito pão para cheirarem os nossos calcanhares!

Sim, é preciso muita lata, montes de lata, um descaramento do caraças, do governo e dos jornalistas para, através das televisões, das rádios e dos jornais, numa orgia publicitária, venderem como um “projecto português produzido em Portugal” ou como um “produto desenvolvido por empresas nacionais e pela Intel” ou ainda “o primeiro computador portátil com acesso à Internet montado em Portugal”, a assinatura, entre o nosso governo e a Intel, do contrato para a montagem, cá no burgo, de quinhentas mil unidades do Magalhães.

O Magalhães é, tão só, a versão actualizada (de resto já divulgada em Abril numa feira na China) dum computador portátil de baixo custo, lançado em 2006 pela Intel, com o nome de “Classmate” e destinado a clientes do terceiro mundo; o portátil da Intel, cujo nome varia em função do país com quem a Intel também tem contratos assinados (incluindo países da UE), pode ser muita coisa mas, além da fábrica onde vai ser montado e de um par de programas de software, tem tanto de português como eu devo ter de chinês.

Talvez que, algum dos cromossomas dos desgraçados dos nossos vizinhos espanhóis, venha sem os genes saloius bacôcus. Nós temos em excesso, podemos exportar à vontade mas, será que eles comprarão?

A investigar

( foto daqui)

Habitualmente não sou gajo para dizer mal dos outros só por dizer, acho isso indecente, não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti foi o que me ensinaram desde puto, sou, ou procuro ser, muito cuidadoso quando me abalanço e atiro as culpas de qualquer coisa para cima de alguém.
Neste caso sei muito bem de quem é a culpa e nem em sonhos vocês iam acreditar no que é que o socialista Sócrates conseguiu fazer à água do mar em Vilamoura!
Eu, que acredito em quase tudo – sei que os jogadores dos leões e dos lampiões são todos do planeta Kritponabos – só depois de constatar no local é que acreditei. Ainda bem que as minhas férias começaram neste fim-de-semana porque assim tive oportunidade de vir ver com os meus próprios ossos.

Os lideres dos G-8 a discutir a questão do lunático do Zimbabué, a fome no mundo, gente preocupada com os calotes do nosso estado e com o estado das calotes polares, muita gente distraída e o que é que o nosso primeiro faz? À socapa, gela as águas do mar e, à boa maneira socialista, as águas das praias do Sotavento algarvio já não podem ser diferentes das outras, já não podem ter águas mais quentes do que as águas de todas as outras praias do país.

Agora, graças a este governo de socialistas e à sua mania de nivelar tudo por baixo, tomar um banho no mar em Vila Praia de Ancora ou em Vilamoura é rigorosamente a mesma coisa, um gajo entra todo airoso e sai com os tintins mais mirrados do que a ervilha congelada, o material em estado comatoso, fora de serviço, nalguns casos tenho até sérias dúvidas que voltem a exercer qualquer função útil ao resto do corpo. Uma desgraça!

Ainda não percebi como é que ele conseguiu mais esta extraordinária reforma mas acho que tem a ver com uns fulanos que eu nunca tinha visto numa paria, a calcorrear a beira-mar de fato e gravata, os pés descalços e as calças arregaçadas até aos joelhos, a mergulhar na água uns enormes termómetros que carregam nuns sacos que trazem às costas com publicidade a uma firma qualquer que se chama ASAE, retiram-nos e fazem a leitura, sacam dum aparelho que parece um telefone especial, falam com alguém que deve estar lá bem no alto e, de repente, quem está no banho, sente um jacto de água gelada junto aos calcanhares, um arrepio na espinha e um aperto…aí mesmo.

Para todos os efeitos, como estou de férias, vou tirar isto a limpo, às tantas o homem até está inocente e eu para aqui a dizer mal dele, vou investigar a fundo este mistério, coisa que, calculo, levará para aí umas duas semanas, provavelmente estarei tão ocupado que nem terei tempo para escrever nada de inútil durante este trabalho de campo, não estranhem que o Jornal de Tondela não traga aquele pedaço de folha que normalmente usam para embrulhar as coisas que mandam para o lixo.

Vou ter que andar disfarçado, o mais discreto possível, comprei uns calções compridos de licra cor-de-rosa, que caem ligeiramente abaixo dos joelhos e uma camisa havaiana amarela, carregada com desenhos de latas de Coca-Cola e guitarras eléctricas, umas gigantes e outras não.
A Maria recusa-se a andar ao meu lado enquanto eu usar o disfarce. Acho bem, afinal isto pode tornar-se perigoso.

Cálculos

(foto daqui)

Uma operação de subtracção, aparentemente com um grau de dificuldade digna do mais recente exame de matemática do décimo segundo ano no condado de Portugal, diminuiu em quinze o número de desgraçados que, contrariados, viviam sob a asa protectora dum bando de malfeitores famosos – as FARC – fora do alcance dos efeitos negativos da perigosa globalização capitalista.

Os comunas por esse mundo fora, incluindo os cá do burgo, andam, com muita razão, com uma azia dos diabos, um bocado atrapalhados para aceitarem, como válido e correcto, o resultado da operação, nem mesmo pedindo-lhes que façam a prova dos nove, não senhor, isso é que era bom, o instrutor que levou a cabo a resolução da dita foi, é e será, uma grande besta, talvez que se ele fosse uma besta de esquerda ainda vá que não vá, agora uma besta de direita, isso não, nem pensar, ainda por cima já tinham decidido libertá-los, a sério, desta vez era mesmo a sério! Além do que, a nível caseiro, estes episódios poderão pôr em causa a habitual presença daquela colectividade de cariz humanitário na festa do Avante.

Eu julgava, com base na opinião mundial publicada, a que interessa, aquela que procura guiar-me para um resultado final adequado e apropriado nas contas que só a mim deviam dizer respeito, que a tal besta (de direita) que atemoriza e governa os colombianos, estava praticamente derrotada, isolada numa redoma reaccionária, cercado por países comandados por bravos, heróicos, inteligentes e democráticos lideres, pouco faltando para cair de podre e, afinal, como quando dou por mim a fazer o pino, está tudo de pernas para o ar, parece o desmascarar súbito de certos personagens no fim das telenovelas “filho da mãe, vejam lá, um tipo destes, parecia que não fazia mal a uma mosca e agora, zás, de repente, o gajo é que é o chefe dos maus”.

Depois há aquela sonsinha, a Ingrid, o único dígito feminino no grupo dos subtraídos, filmada há uns meses com aquele mau aspecto que obrigaria a fechar as portas da loja para evitar o roubo eminente e que aparece agora como uma turista chegada de férias prolongadas numa praia de gelo derretido no pólo, toda arrebitada a reclamar contra o mau serviço prestado pela cadeia hoteleira durante a estadia.

A mim não me engana ela, podem dizer-me que ela está muito bem fisicamente, blá, blá, blá, mas, para mim, mesmo não sendo médico, ela mentalmente está fundida, completamente xexé.

Só alguém com os parafusos desapertados, destrambelhada dos pirolitos e cerebralmente morto é que ousaria denegrir o camarada Che Guevara, permitindo-se fazer deduções estapafúrdias do género “…pensei em quem seriam todas aquelas pessoas ali presentes, depois, à medida que nos aproximámos vi que eram das FARC porque tinham vestidas t-shirts com a fotografia do Che…”.

Confessem lá, conhecem alguém, mentalmente são e a viver no planeta terra, que possa continuar à solta depois de mandar uma bojarda destas, ligar um mito sagrado como o camarada Che, alguém que serviu e serve de inspiração para tanta coisa e para tanta gente, ligar tal criatura a uma cambada de sequestradores, traficantes e assassinos?

O único diagnóstico possível é mesmo o de demência precoce e galopante; eu sei do que falo porque sofro exactamente do mesmo mal, amigos meus tentam vestir-me um sobretudo de madeira e mandar-me para Marte de cada vez que, também eu, digo mal do mesmo senhor, eu insisto e continuo a dizer o mesmo, mas baixinho, já só para mim, eles ficam todos contentes porque, se estou a falar sozinho, é porque estou mesmo doido varrido, então está tudo em ordem. O tratamento é uma combinação de colete-de-forças com choques eléctricos.
O resultado, um dia destes, certo ou errado, há-de vir.