Monday, June 22, 2009

Depressões





Era lindo era, cair-me aos pés uma oportunidade destas e eu não a aproveitar, desperdiçar este meu tempo de antena em rodriguinhos no meio campo, deixar a minha atenção desviar-se com assuntos menores.

Sei lá, coisas corriqueiras como as afirmações de Elisa Ferreira, candidata socialista a um cargo ao parlamento europeu e ao cargo de presidente da câmara da cidade do Porto, durante uma visita que fez, em campanha, a três centros da terceira idade; relatam dois jornais da nossa praça que, numa critica ao actual presidente, a senhora terá dito: “Pintaram os bairros, mas esqueceram-se de vos dizer que o dinheiro é do Estado, é do PS”.
Eu, como se nota por aquilo que escrevo, desde há muitos anos que ando desconfiado que, para muita malta daquela área e não só, o partido e o Estado são a mesma coisa, mas nunca me tinha passado pela cabeça que o descaramento chegasse ao cúmulo de largarem na praça pública o que lhes vai, realmente, na carola, ainda por cima pela boca de tão destacada figura.
Se fosse o Tino de Rãs, ainda era como o outro, mas este peso pesado?

De acordo com os jornalistas, um dos acompanhantes disse que a doutora, antes de pedir aos trinta utentes ali presentes para porem a cruzinha no quadrado com o seu nome no boletim de voto das autárquicas, ainda vai dar uma voltinha à Europa ao que ela, a doutora, terá respondido instintivamente “vou só dar o nome e volto” e “sinceramente, eu quero vir para o Porto. Quero-vos pedir que me ajudem a conquistar a Câmara do Porto. O meu objectivo é sair de onde estou e trabalhar para a cidade”.
Pode dar-se o caso dos jornais estarem a mentir, talvez ainda apareça um desmentido…

Outra coisita corriqueira que eu não quero deixar que me desvie do meu tema de hoje é a notícia do Público que informa que a Energie perdeu a certificação de produtora de equipamentos solares térmicos.
Perdeu-o porque, para os certificadores alemães, o que vende não são propriamente painéis solares mas bombas de calor.
A Energie é uma das duas empresas aonde o Zezito disse para nós irmos comprar painéis solares para instalarmos nas nossas casas e, assim, contribuirmos para haver mais emprego no país.
O Zezito disse também que o Estado ia ajudar, pagando metade do investimento. Entretanto, más-línguas a soldo de campanhas negras, andam por aí a dizer que a Energie recebeu umas massas “nossas” e até já deixou de pensar em se mudar, com armas e bagagens, para a Galiza.
Talvez esta notícia também seja desmentida.

Estas e outras banalidades sobre a paternidade e o uso dos nossos dinheiros não me desviam das notícias realmente importantes: seis milhões de portugueses que, oficialmente na noite do último domingo, viram o seu estado de depressão agravar-se. Causada por um tetra vírus de nome cientifico “dragonius fabulosus”, esta forma grave de depressão não tem ainda um tratamento eficaz e, teme-se que, a curto prazo, evolua para um penta vírus, mais raro e ainda mais debilitante.

Leituras







Daqui até às próximas eleições legislativas vai haver uma catrefada de sondagens que, como é da praxe, os órgãos de comunicação social usarão para informarem o povo sobre como é que esse mesmo povo está a pensar votar em cada um dos próximos actos eleitorais.

Trinta anos após o vinte e cinco e não sei quantas centenas de sondagens depois, nem uma única vez saí na rifa para dar um palpitezinho que fosse sobre as minhas intenções em matéria de voto; ou então saí e não dei por isso.Verdade seja dita que quando telefonam lá para casa, geralmente acertam na hora da paparoca a pedir uns minutos do meu precioso tempo e umas breves respostas a um estudo de opinião sobre não sei bem o quê, o mais certo é eu pedir, educadamente, que voltem a ligar depois da janta, coisa que, felizmente, acabam por não fazer.

Com estes estudos de opinião procura-se ter uma ideia de como é que o povo vai usar a arma e quem é que vai cantar de galo quando as vindimas estiverem, finalmente, concluídas. Tradicionalmente, os que aparecem mal no resultado final dos estudos desvalorizam a coisa, as sondagens valem o que valem, blá, blá, blá e os que têm bons resultados fazem de conta que não lhes dão importância de maior, ao mesmo tempo que sublinham a sua relevância como um indicador precioso.

Através de jornalistas e de analistas ditos independentes, os órgãos de comunicação esfalfam-se a legendar as intenções de voto das marmelas e dos marmelos que fazem parte da amostra da sondagem e, cândida e inocentemente, ensinam-nos e guiam-nos de forma a conhecermos as verdadeiras razões para os resultados apurados, a explicação para a inevitável derrota da senhora com os olhos tortos no confronto com o sucessor da picareta falante, a subida dos seguidores do tele evangelista frrrrei Louçã e por aí fora.
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Uma das legendas mais usadas é a da melhor ou pior imagem televisiva coisa que, invariavelmente, acaba por ser a principal explicação para o sucesso ou para a derrota dum politico, a par da sua capacidade para dourar a pílula e brincar às escondidas com a verdade.

A primeira sondagem que saiu sobre as eleições europeias, depois de serem conhecidos todos os principais candidatos, dava trinta e nove por cento de intenções de voto nos socialistas e trinta e seis por cento no PSD, o resultado mais aproximado entre os dois maiores partidos desde que…eu sei lá…já nem me lembro!
Um jornalista do DN, o tal diário cujo director é o único jornalista vivo com direito a elogio público do Zezito, fez, para os seus leitores, a seguinte interpretação das intenções de voto: “Os 36% que o PSD surpreendentemente alcança no estudo são, ao mesmo tempo, um prémio para a prestação de Paulo Rangel – apesar dos inquiridos ainda não o reconhecerem como o rosto do partido nestas eleições – e um cartão amarelo a Manuela Ferreira Leite”. Cartão amarelo? E se fosse uma vitória, seria o quê, cartão vermelho?
Tendo sido a Nelinha a escolher o senhor Paulo Rangel, escolha vendida como uma boa opção mas-que-veio-demasiado-tarde-e-que-diacho-havia-outros-nomes-bem-melhores, o jornalista quando escreveu aquilo estava grosso ou é mesmo assim, totó todos os dias? Ou então, o que é mais certo, sou eu que sou mesmo burro e não há meio de aprender a ler e a interpretar.