Tuesday, January 26, 2010

Obrigações




Parece que há para aí umas mentes brilhantes que já andam a engendrar uma forma (ainda) mais sofisticada de nos mexer nas algibeiras, uma versão da canção do bandido, uma balada a puxar ao sentimento e ao patriotismo.
Eu não vi nem ouvi, mas li algures que, durante o programa Prós e Prós do canal do Sócrates do Partido Socialista do Governo um da RTP, uma dessas mentes brilhantes convidadas propôs que, aproveitando o centenário da implantação da Republica, fosse lançado um empréstimo interno, quem sabe sob a forma de obrigações do Tesouro, para acudir ao sufoco financeiro que está aí à porta, a modos que um empréstimo obrigacionista.
Não sei se isto tem pernas para andar mas, com tanta epidemia que há por aí, não me espantava nada que o vírus desatasse a infectar meio mundo e se espalhasse à velocidade estonteante do vírus da gripe A.
Por mim, bem podem tirar o cavalinho da chuva, podem meter tais ideias pelo buraco que muito bem entenderem e quiserem, de mim levam mas é a ponta dum grande corno.
Obrigacionista a fazer em empréstimos à Republica já eu sou, empréstimos adiantados e por conta, obrigado que sou a fazê-los pelos que têm mamado nas tetas da nossa querida e amada República nas últimas décadas. Faço-os em três prestações anuais, calculadas com base no que ganhei no ano anterior. E chega!
É claro que para os mamadores, todo o empresário em nome individual tuga como eu, é, claramente, um tipo de sucesso, um barra nos negócios e, com crise ou sem crise, "vá...anda lá ó tenrinho, passa para cá esse emprestimozinho, sem juros e não bufes. Se bufas, já sabes...ooops, vê lá bem a coisinha má que te poderá acontecer".
Como eu, há muitos milhares de obrigacionistas que vão sustentando outros tantos milhares de agradecidos, venerandos e obsequiados.
Se eu tivesse um tacho que fosse sustentado pelo dinheirinho dos outros, ah bom, garanto que também eu havia de puxar pela cachimónia para manter as tetas em boas condições pelo máximo de tempo que fosse possível. De facto, quem é que no seu perfeito juízo larga uma teta enquanto ela der? Só os mentirosos e os burros!
Ao empréstimo obrigacionista de que falei, há que juntar a brutalidade em impostos que pago quando compro combustíveis, os trinta e seis por cento da taxa do imposto sobre o rendimento, os trinta e cinco por cento para a segurança social, etc., etc., etc. (se alguém quiser pôr o ombro a jeito para eu poder chorar, está à vontade).
Como escrevia alguém, o estafermo do túnel é chato e comprido como o caraças. Há tantos anos que andamos dentro dele e, mesmo assim, não há meio de encontrar a famosa luz lá ao fundo.
O mais irritante é que o esqueleto do pagante vai envelhecendo durante a caminhada e, de repente, está-se com os pés para a cova sem ter verdadeiramente desapertado o cinto durante a passagem terrena. Um parêntesis para dizer - mais uma vez! - que eu sou um privilegiado e que barafusto de barriga cheia mas tenho pena que não haja muito mais gente como eu (eu prefiro acabar com os pobres do que acabar com os ricos...manias!).
Uma razão para o túnel ser muito comprido é a existência de deputados como a socialista Inês de Medeiros; com residência em Paris, aceitou um convite para ser eleita para o parlamento nacional e agora quer que lhe sejam pagas as viagens que faz para aquela cidade aos fins-de-semana. Para ver a família. E os tansos vão, através dum regime de excepção, pagá-las.
Com tanto desperdício, ainda querem mais empréstimos? Como dizia a minha tia Arminda: campava eu!

Wednesday, January 06, 2010

Banalidades



Em reacção à mensagem de Ano Novo do senhor Presidente da Republica (o tal que, em certos sectores é carinhosamente conhecido como “o gajo”), o chefe do grupo parlamentar do partido socialista, em entrevista a um jornal, disse que “… o PS governou, com sucesso, na redução do défice estrutural do nosso défice”. E disse-o sem se rir!

Na mensagem, o tal senhor que em certos sectores é conhecido como “o gajo”, deu-nos (mais) um murro no estômago para ver se a malta presta a devida atenção às nuvens negras que estão ali à frente, no nosso futuro imediato. E o que é que disse “o gajo”? Banalidades:

- “…quando gastamos mais do que aquilo que produzimos, há sempre um momento em que alguém tem de pagar a factura…”;

- “…com este aumento da dívida externa e do desemprego, a que se junta o desequilíbrio das contas públicas, podemos caminhar para uma situação explosiva”;

- “…é necessária uma maior exigência e responsabilidade para os detentores de cargos públicos porque o exemplo deve vir de cima…”

- …Os custos da correcção de um desequilíbrio das finanças públicas podem ser dramáticos…;

- Falo sempre com um imperativo: nunca vender ilusões nem esconder a realidade do País e em nome da verdade;

- A dívida do Estado (...) aproxima-se de um nível perigoso e o endividamento do País ao estrangeiro tem vindo a aumentar de forma muito rápida, atingindo já níveis preocupantes;

- Os dinheiros públicos não nos podemos dar ao luxo de os desperdiçar e o caminho do nosso futuro tem de assentar em duas prioridades fundamentais: o reforço da competitividade externa das nossas empresas e o aumento da produção de bens e serviços que concorrem com a produção estrangeira, já que é uma ficção pensar que é possível conseguir uma melhoria duradoura do nível de vida dos portugueses sem o aumento da produtividade e da competitividade da nossa economia e, por outro lado, o apoio social aos mais vulneráveis e desprotegidos e às vítimas da crise».

Para os muito distraídos, as banalidades apontadas podem ter sido causados pelo D. João II, pelo Marques de Pombal, pelo Salazar, pelos Marcelos (o Caetano e o Rebelo de Sousa) ou até pelos seis meses e meio da des(governação) do modernaço Santana Lopes.

Fruto da minha descontracção e estupidez natural, o recado pareceu-me essencialmente dirigido a quem, nos últimos quinze anos – desde 1995 – mandou no governo português durante doze anos e meio: o PS!

Sim, eu sei que é chato, mas há que não esquecer este pequeno detalhe quando se fala do nosso país e da sua situação, quando são divulgados, por entidades estrangeiras, os dados relativos aos nossos índices de desenvolvimento.

A questão é que, com a instrução do povo pelas ruas da amargura e com a maioria da imprensa anestesiada ou dependentemente domesticada, toda a gente é culpada menos a ideologia socialista, aquela ideologia em que um punhado de gente, de falinhas mansas e mamar doce, se apodera do estado, o engorda e o estende a tudo quanto mexe, com o objectivo de impedir o desenvolvimento da nossa verdadeira liberdade individual, fomentando o parasitismo e penalizando o sucesso do risco, formatando uma sociedade que reage como um bando de gente acéfala e acrítica, que bate palmas quando lhe mandam e que bate a bola baixa quando tem de ser. Veneranda e agradecida!

E, como é publicamente sabido, quem se mete com eles, com os socialistas, pimba, leva! Se “o gajo” tivesse barbas como o meu bisavô Ezequiel bem as podia pôr de molho; como não tem, que se ponha a pau!

Saturday, January 02, 2010

Adiantará?


A primeira década do século vinte e um está quase a dar o berro, está mesmo a acabar e, como é hábito, vai haver foguetório no final do ano, quando nos relógios tiver batido a décima segunda badalada. A julgar pelas primeiras noticias que ouvi desde a véspera de Natal até hoje, segunda-feira, havia gentinha interessada em que o fogo de artificio nos céus tivesse começado bem mais cedo do que o habitual. Um deles já foi apanhado.
Um adolescente nigeriano de dezanove anos, com a ajuda de uns amigos porreiraços, uns terroristas do bando do destrambelhado e desaparecido Bin Laden, coseu, nas cuecas, uma pequena quantidade de um explosivo e rumou da sua terra para as Américas, com passagem pela cidade holandesa de Amesterdão aonde, por portas travessas, embarcou num avião duma companhia aérea americana.
Já em pleno voo, em vésperas da celebração do nascimento de Jesus (o verdadeiro e não aquele marmanjo que treina aquela cambada de toscos), este incompreendido adolescente, tentou detonar o explosivo com a ajuda duma seringa mas, ou por incompetência ou por pura sorte, em vez da explosão só causou fumo e alguns dos outros passageiros fizeram-lhe a folha antes que fossem todos para os anjinhos.
Graças a este adolescente inconsciente, daqui para o futuro, as nossas cuecas passarão a ser um dos pontos com mais interesse para as equipas de segurança dos aeroportos; facilmente imagino um senhor muito circunspecto a olhar para um ecrã à sua frente, o tolão suicida a passar pela máquina especial, o segurança a franzir o sobrolho e a perguntar com ar de espanto “ó amigo, você tem mesmo três coisos ou aquilo ali é uma bomba?”.
Se entretanto, por qualquer razão de natureza técnica ou legal, não for viável pôr uma máquina a investigar-nos a artilharia, vai ser um espectáculo lidar com o caos causado pelo despe, apalpa e volta a vestir, de cada vez que se viajar de avião.
Já não me bastava ter a certeza de que estou com umas meias sem buracos porque nos obrigam a descalçar os sapatos; agora também preciso de ter cuidado com a apresentação do cuecame, que tem de estar impecável e pronto para uma inspecção aprofundada. Com tanta da minha concentração desviada para estas minudências ainda me arrisco a esquecer qualquer coisa importante – as calças por exemplo.
Ainda graças a este desenraizado adolescente, futuramente, quem for de avião para a terra do messias, não vai poder levar nada no colo (por acaso até pode ser um alivio porque alguns dos seguranças, depois de investigarem a lingerie dum passageiro poderiam sentir um forte impulso a meter-se no mesmo avião…) e durante a última hora de voo não se vai poder levantar do lugarzinho.
Se o presidente dos americanos ainda fosse o tolo do Bush, estas medidas teriam logo um rótulo de paranóia de um demente mental; como o presidente é o messias, ah bom…então é tudo pelo amor e carinho ao cidadão comum.
Por cá, só boas novas! Enquanto parece ser impossível esclarecer, no caso das escutas da Face Oculta, quais foram os factos criminosos imputados pelo juiz de instrução e pelo procurador coordenador ao senhor primeiro-ministro, o chefe do governo mandou-me uma mensagem pela televisão a dizer que está tudo bem, que a retoma da economia já se vê (eu sou míope e por isso não a topei) e que as obras públicas vão criar muitos mais empregos do que o número de vacinas contra a gripe A que não foram usadas.
Porreiro pá! Adiantará desejar um bom 2010?