Wednesday, March 17, 2010

Descaramentos


Agora que já não tenho que me preocupar com nenhuma das competições mais importantes por onde andava o meu Fóculporto, vou dedicar-me à pesca do sável, da truta ou dos joaquinzinhos com arroz de tomate malandrinho.
Felizmente que para o ano há mais, pelo menos na nossa liga marcaremos presença, na outra, naquela que dá mais bagalhoça, na dos campeões, talvez daqui a um par de anos. Estas dietas também são boas para desenjoar…
Terminei esta época mais cedo e em beleza, honrado e até comovido com as dezenas de convites que, amigos e conhecidos, tiveram a gentileza de me enviar para um bailarico a ter lugar num clube manhoso, lá para a rua do arsenal numero 5, baile a que, infelizmente, não pude comparecer porque tendo tirado a minha vesícula no mês passado, foram-me desaconselhadas situações propiciadoras a abundante fabrico de bílis.
Resta-me pois recordar as proezas passadas, ir ao baú das velharias buscar umas quantas razões para ver se me sai o amargo da boca, felizmente, agora com a internet, estes passeios são bastante mais simples e mais frutuosos, alguma coisa acabamos sempre por encontrar.
Por acaso até foi fácil, só precisei de recuar até ao mês de Agosto do ano passado para encontrar uma coisinha com aquele sabor a vingança, uma prova – mais uma – de que o chefe do governo é um verdadeiro vendedor da banha da cobra, um animal feroz capaz de rivalizar com os roucos feirantes que, por cem escudos, vendem não um, não dois, não três, mas quatro cobertores espectaculares para tirar o frio à sogra e ainda juntam uma toalha de renda novinha em folha e um napperon em plástico, em forma de losango, a base ideal para aquele cesto que tem lá dentro a banana, o ananás e a maçã artificiais e que decora a mesa da minha cozinha.
O objecto do crime é o vídeo com o debate entre dois grandes cromos socialistas da nossa praça politica – o Zezito e o tele evangelista frei Anacleto Louçã – durante as ultimas eleições legislativas, no tempo em que o nosso défice ainda andava pelos cinco por cento.
No debate, que na altura eu não vi, foi descrito como tendo sido uma coça monumental – à arsenal! – dada pelo chefe do governo (representante do socialismo moderado) ao pregador bloquista (representante do socialismo mais radical). Coisa rara e nunca vista, um habilidoso orador como o Anacleto a levar uma tareia num debate televisivo, até a generalidade da imprensa assim o descreveu o que, conhecido o amor que os jornalistas nutrem pelo pregador, foi obra.
O socialista moderado, em campanha de caça ao voto, atirou-se às propostas do bloco de esquerda, acusando-os de “guardarem como um segredo muito bem guardado as propostas para a politica fiscal”, e pedindo ao pregador que lhe “explicasse porque é que queriam eliminar todas as deduções fiscais com a saúde e educação e com os ppr’s já que, “estas pessoas que fazem estas deduções não são ricos, é a classe média e isso conduziria a um aumento fiscal brutal da classe média”.
Terminada a campanha e já empossado como chefe do governo, o socialista moderado, ao apresentar o PEC – a nossa nova via sacra – jurou pelas alminhas que não havia nenhum aumento de impostos apesar de ter aplicado a tal politica fiscal que os outros andavam a guardar muito em segredo e acabando exactamente com as tais deduções que, se tivessem sido eliminadas pelos bloquistas (os socialistas radicais) conduziriam a um aumento fiscal brutal da classe média.
Que raio de nome se dá a tipos assim, hein?...

Factos



Foi publicada durante a semana passada uma sondagem que uma empresa do ramo realizou a pedido de um jornal. Não me recordo do número de compatriotas nossos que foram seleccionados como cobaias. Também não sei como é que é seleccionado esse conjunto de tugas a quem as perguntas são feitas mas, dada a ciência da coisa, é de bom-tom aceitarmos os resultados como mostrando a realidade tal qual ela é.
Uma das perguntas feitas aos inquiridas foi se achavam que o chefe do governo socialista tinha deliberadamente mentido à Assembleia da República quando afirmou, no inicio do último verão e a três meses de eleições legislativas e autárquicas, que não sabia a ponta dum dito sobre se a Portugal Telecom queria abocanhar uma percentagem do capital da chamada televisão independente, a TVI.
Sessenta por cento dos interrogados disse que sim senhor, que achava que o Zezito tinha mentido quando jurou que não sabia peva acerca do negócio e setenta por cento disse que achava que ele tinha aldrabado sem que para isso tivesse havido qualquer justificação, a modos que deu-lhe para ali porque sim.
Aqui chegados, dir-se-ia que as respostas dos portugueses sondados às outras perguntas do inquérito envolvendo o chefe do governo socialista mostrassem que o antigo animal feroz estaria com guia de marcha passada e com os patins calçados, pronto para uma descida até aos Infernos.
Mas não, não senhor, os portugueses sondados, apesar de acharem que o chefe do governo mentiu à assembleia da república, também acham que é ele que deve continuar a dar cabo do país ser o primeiro-ministro por muitos e bons anos.
Dizem-no quarenta por cento dos nossos conterrâneos, percentagem de portugueses que prometem tornar a votar neste partido socialista, enquanto quase cinquenta e cinco por cento afirma que o governo tem todas as condições para continuar a governar como até aqui.
Ao ler os resultados pus imediatamente a hipótese dos senhores da empresa de sondagens serem uns brincalhões, terem alterado as respostas para gozarem comigo e com todos os que não tiveram oportunidade de participar no inquérito mas, sete copos de água fria depois, achei que os tipos não se atreveriam a publicar falsificações.
Se realmente os resultados desta sondagem são representativos do nosso País, temos pois que para a esmagadora maioria dos portugueses tanto se lhes dá como se lhes deu que o chefe do governo tenha mentido aos senhores deputados, deputados que foram eleitos com os seus votos.
Bate certo com a situação a que chegámos: doze anos e meio (em quinze!) de governos socialistas, um país cada vez mais empobrecido, cada vez mais cheio de dívidas, cada vez mais afastado da média dos outros países europeus, com cada vez mais gente a sair para ver se consegue trabalho no estrangeiro, um estado sanguessuga que controla quase toda a economia e que esmaga com impostos tudo o que ainda mexe e ainda respira. Abençoados sejam.

Friday, March 05, 2010

Ops, enganei-me!




Eu não sei como é que vocês andam mas eu estou farto deste mau tempo até às orelhas, qualquer dia nascem-me umas barbatanas entre os dedos dos pés ou então, muito pior do que isso, vou começar a respirar por guelras o que vai complicar ainda mais a minha vida de fumador.
Não é que eu fume muito, por acaso até devo pertencer à classe dos fumadores mais moderados mas quem me tira aqueles três cigarritos logo a seguir à janta põe-me piurço, fico-lhe com um pó que nem sei, fico mais danado do que quando o meu Fóculporto perde as peneiras de arrecadar o penta.
Mas voltando ao mau tempo, à chuva e ao frio, a este maldito frio, no final do ano passado houve muita publicidade a uma cimeira sobre o clima que teve lugar na Dinamarca, cimeira essa que foi tema de abertura em muitos telejornais e que serviu para muita noticia sobre o tão famoso aquecimento global.
Segundo as noticias de então, aquela reunião, que contaria com a presença dos mais iluminados cientistas mundiais, era vista como uma das últimas oportunidades de que o estafermo do homem ia dispor para pôr de lado um conjunto de maus comportamentos que levariam o planeta terra a um espetanço monumental devido ao aumento astronómico da sua temperatura (fala-se muito em igualdades entre os sexos mas o certo é que as Marias ficaram de fora do rol dos causadores de prejuízos à mãe natureza e, como de costume, só nós homens é que pagamos as favas).
Embora não pareça e ninguém ainda tenha desconfiado, vejo-me forçado a confessar-vos que não sou perito neste assunto e os meus conhecimentos na matéria resumem-se aos humores do calo que vive no dedo pequeno do meu pé esquerdo; quando ele me dói é certo e sabido que pode chover ou fazer sol e quando não me dói é um claro sinal de que vai estar bom tempo ou mau tempo. Tirando este tecnologicamente avançado instrumento científico de análise climática, pouco mais sei do que a maior parte dos outros terráqueos.
Por causa da minha ignorância, tenho pois que me fiar nas palavras dos cientistas que, supostamente, se esfalfam a estudar essas matérias e sou gentilmente convidado (e levado) a acreditar nos organismos internacionais que tratam da coisa, organismos esses que são escolhidos pelos representantes dos governos mundiais.
E aí é que a porca começa a torcer o rabo porque, para mim, a versão oficial que andam, há anos, a tentar vender-me sobre a existência dum aquecimento global causado pelo homem sabe-me tão mal como me sabiam as colheres de óleo de fígado de bacalhau que me impingiam na escola primária.
Ainda por cima, um dos maiores vendedores da teoria, um poderoso organismo chamado IPCC e que ganhou o Nobel da Paz em 2007 em conjunto com o meu amigo Al, tem sido apanhado numa série de erros de palmatória. Num desses erros, a “certeza absoluta, absoluta, absoluta” de que os glaciares dos Himalaias iam desaparecer em 2035 foi rectificada e adiada para o ano 2350 e justificada como um simples lapso tipográfico.
Com “erros tipográficos” deste calibre não admira que eu ande a tiritar de frio: prometem-me calor e depois saem-me estas temperaturas da treta!

Friday, February 26, 2010

Quem sabe



Apesar de todo este mau tempo, da ventania e da chuva chata e persistente, da constante nebulosidade que tapa o azul do céu, é o sol que está a grelhar o nosso primeiro-ministro em lume brando, em episódios semanais.

A prolongada exposição do chefe do governo aos raios do sol dará razão às campanhas publicitárias que, todos os verões, nos alertam para os cuidados a ter com a gravidade das queimaduras que o estafermo pode provocar na nossa pele.

Como consequência, devagar devagarinho, há cada vez mais gente importante a dizer, claramente e na televisão, que o Zezito mentiu no e ao parlamento sobre a trapalhada do falhado negócio da compra da TVI pela PT.

É certo que todas essas pessoas são do PSD – Manuela Ferreira Leite, Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo Rangel – o que poderá tirar independência à afirmação mas a verdade é que não há, até ao momento, conhecimento de nenhum processo crime por difamação interposto pelo chefe do governo. Mentiu, ponto final parágrafo, disseram eles.

Neste fim-de-semana deram à costa noticias segundo as quais também o senhor Procurador-Geral da Republica teria, alegadamente, mentido nas respostas que deu às perguntas colocadas por dois deputados social-democratas sobre os despachos de arquivamento das famosas escutas entre o chefe do governo e o seu amigo Armando Vara.

Até ao momento, as únicas posições conhecidas do senhor procurador em relação às contradições publicadas são a de que responderá na segunda-feira “se assim o entender” e o anúncio da instauração de mais um processo por violação do segredo de justiça.

Neste diz que disse, o desgraçado do portuguesito, tal como o mexilhão, vai batendo na rocha, cada vez com mais força, incapaz de se segurar e encontrar pé, manipulado por gente com olho em terra de cegos.

Talvez que uma das causas deste nosso destino esteja na quantidade de exemplos semelhantes ao do aluno do 9º ano duma escola em Espinho que, de acordo com uma notícia que corre pela internet, ao enunciado “num teste estruturado e linguisticamente cuidado, com um mínimo de 10 linhas, exprime a tua opinião sobre o papel da escola na formação de um cidadão” respondeu:

" O papel da escola eu axo que é igual a um papel qualquer de imprensa A4. E de certeza que é. tem a mesma grossura e tudo. Agora se estão a falar, por exemplo, das folhas de Teste que é uma folha A3 duberada ao meio fazendo duas folhas A4, axo melhor que as folhas de teste sejam assim do que só uma folha A4, essas fichas que os professores dão são sempre folhas de formato A4 ou de formato A5 . Os testes As professoras metem sempre folhas de formato A4 mas quando são mais as professoras agrafam sempre as folhas e nunca fazem teste com folhas formato A5. Por isso eu axo que as folhas desta escola são iguais às das outras escolas ou de outras empresas."

É, também axo que, se calhar, é por estas e por outras que nos tratam como umas marionetas.

Assim seja!


(ilustração por Greg Horn)



Estou farto de puxar pelos miolos para ver se consigo escrever sobre um assunto sério mas a coisa, como é habitual em mim, não está fácil.
E até nem se pode dizer que não haja muito por onde escolher, (in)felizmente a nossa vida quotidiana está cheia de material onde eu me podia debruçar e, nas calmas, alinhavar umas quantas tiradas.
Ainda ontem à noite o senhor presidente do supremo tribunal de justiça fez o pleno e apareceu nos três canais de televisão, a tentar explicar aquilo das escutas e dos despachos e mais uma série de coisas. Como é tudo muito técnico, muito complicado e muito difícil de perceber, fiquei na mesma e não me arrisco a dar um único palpite que seja. Ou estou cada vez mais burro (o que não é de admirar), ou o senhor não se explica nada bem ou então as regras estão feitas para não serem percebidas. Contou porém, nas três entrevistas, que há um caso na sua vida de magistrado que ainda hoje o comove, com o qual ainda sonha regularmente, provavelmente foi um caso envolvendo uma boazona mamalhuda que se meteu em sarilhos.
Se aquele senhor, que é a quarta figura da nossa república, se dispôs a fazer o papel de simples figurante perante a comunicação social na mesma noite em que quiseram tapar o semanário Sol com uma peneira, vou ali e já venho.
Ou podia escrever sobre a candidatura ao cargo de presidente do PSD apresentada pelo eurodeputado Paulo Rangel mas, apesar de ser um político que eu admiro, vou ficar à espera e ver se ele me explica exactamente o que é que quer dizer com aquilo de ruptura com quinze anos de governos socialistas.
Ainda que ele explique a coisa como deve ser e consiga conquistar o lugar a que se candidata, vai ter muito trabalhinho a convencer-me de que o partido a que quer presidir ainda tem, como um todo, com os seus vários feudos, algo de diferente a oferecer, a começar por fiabilidade.
Optei, obviamente, pelo mais fácil, por um assunto ligeiro e lateral, um assunto que tem a ver com a grande amizade e o enorme carinho que nutro pelos lampiões deste país e cujo número, assim por grosso e à vista desarmada, deve andar aí pelos seis milhões de almas penadas, um número parecido com o total dos portugueses que vivem, dependem ou necessitam da ajuda do Estado português, nas formas mais benignas ou não.
Porque com o fim do carnaval se entra na Quaresma, sinto que é minha obrigação alertar-vos para que se preparem para o pior.
Em verdade vos digo que, para o vosso Jesus, depois de ele ter conseguido o milagre de pôr uma cambada de toscos a dar uns toques numa bola e a meter uns golitos, vai em breve começar um calvário que eu não desejo nem ao meu pior inimigo.
Dentro em breve, o vosso Jesus vai ser assobiado, sob as mãos dos lampiões associados vai sofrer e ser humilhado, vai descer aos balneários e às mãos dos vossos dirigentes vai ser castigado, despedido e mal pago e conforme o que constará no contrato não, não subirá de novo aos relvados para se sentar no banco dos suplentes e não festejará títulos em glória e a sua estadia no vosso clube terá fim.
Assim seja!

Sunday, February 21, 2010




Pouco barulho! Não mexe, não resfolega, quietinho, isso, lindo menino, dá cá a pata dá, isso, rebola, só mais uma vez, isso, agora deita, muito bem, toma lá um subsídio doce!
É assim que estamos, nós, os portugueses, estes milhões de marmanjos que pastoreiam a zona mais ocidental da península ibérica.
Dizia o meu professor da terceira classe, que também era meu tio, que ou a malta aprendia cedo a saber interpretar bem os textos que vinham no livro de leitura ou então arriscávamo-nos a, em adultos e como profissionais, ser uns grandes nabos e a dar com os burros (e com os camelos e os macacos, enfim, com a bicharia toda) na água, passaríamos a vida a misturar alhos com bugalhos. Posso dizer – e isto é mesmo para me gabar já que, para vossa informação, sigo o lema “a gente nunca gaba os outros” – que aprendi umas coisitas sobre a matéria e não me tenho desenrascado nada mal a esse nível.
Desde o fim do verão passado que dois dos mais altos e ilustres intervenientes do nosso sistema de justiça nos andaram a jurar que, no material interceptado em conversas telefónicas de gente graúda da nossa praça, nada havia de errado, nada justificava o alarido feito pela imprensa, um deles até disse que, por ele, divulgava tudo o que havia e assim o povo ficaria ciente da justeza das suas sábias decisões.
Estes dois dos mais ilustres magistrados, um deles é a quarta figura do Estado a que isto chegou, contrariaram o parecer de outros dois dos seus pares – um procurador e um juiz dum tribunal – e, do alto do seu poderio, disseram ao povo “vão cordeirinhos vão, fiquem tranquilos que não há lobos maus à vista, votem tranquilamente, está tudo bem…”.
E nós, os cordeirinhos, lá fomos, cantando e rindo, cumprimos o nosso dever e andámos com as nossas vidinhas para a frente.
Eis senão quando, através dum acto corajoso criminoso praticado pelo semanário Sol, os segredinhos são desvendados e são divulgadas as primeiras parcelas das escutas, bem como as conclusões a que chegaram os dois intervenientes judiciais menos importantes, conclusões que os levaram a considerar haver indícios de graves ilícitos que, na sua essência, consistiam num esquema governamental, nomeadamente do senhor primeiro-ministro, para controlo dos meios de comunicação social visando limitar as liberdades de expressão e informação
Eu, um peão desse tal bando de cordeiros, já que me era dada a oportunidade de ler o texto do exame, lá acorri a comprar o dito semanário e perdi meia hora e depois mais outra e ainda mais outra a ler e a reler as seis páginas dedicadas ao assunto.
No fim, pasmei e chorei!
Pasmei porque não consegui chegar à mesma interpretação a que chegaram os dois altos e ilustres intervenientes do nosso sistema de justiça e chorei por, durante estes anos todos, ter andado convencido de que o meu mestre da terceira classe tinha sido um mestre de se lhe tirar o chapéu e, afinal, tudo o que aprendi com ele e com todos os outros professores de português que se lhe seguiram enquanto estudei não me valeu de nada.
Como, como é que é possível que eu, logo eu que ainda agora me gabei lá atrás dos meus dotes de interpretação, não tenha sido capaz de fazer a mesma leitura que os nossos grandes e ilustres magistrados fizeram? Ó triste vida a minha, o que vai ser de mim daqui para a frente? Preciso de ir para a reeducação. Mas é que é já! Táxi!...

Mistérios




“Ó senhor ministro, diga-me lá como é isso para eu ver se eu encontro ali nalguma gaveta da sua secretária”.
Não, obviamente isto não me foi perguntado a mim mas, conseguisse eu, por qualquer bambúrrio, chegar a ministro, então esta talvez fosse uma das frases mais escutadas no gabinete.
Como ando sempre à procura das minhas coisas, sou um verdadeiro despistado, um daqueles desgraçados a quem os outros, especialmente os que estão mais em contacto comigo, massacram com a frase “só não perdes a cabeça porque ela está agarrada ao corpo”. O que, por enquanto, é verdade sim senhor. Deve estar por um fio, mas por enquanto ainda cá está, agarradinha.
A minha carteira é, teimosamente, o bolso da minha camisa ou um dos bolsos do casaco que visto, um molho solto de documentos avulsos e à balda que transporto sempre comigo: carta de condução, bilhete de identidade, cartão da segurança social, cartão de contribuinte, cartão de eleitor, cartão multibanco, uma nota de vinte euros, duas de dez e uma de cinco, um bocado de papel amarrotado com qualquer coisa escrita por mim mas que eu próprio já não percebo, alguns recibos de compras feitas há meses, um minúsculo bocado de linha azul escura que não sei de onde veio e…acho que é tudo.
Com esta espécie de carteira, é portanto a coisa mais vulgar do mundo eu andar à rasca porque agora perdi isto, depois perdi aquilo, bolas, onde é que terei metido a porcaria do cartão multibanco, já viste no casaco que trazias ontem? já e não estava lá, então e na camisa que puseste para lavar?, ah, espera lá, já encontrei, afinal estava aqui no molho, estava agarrado ao cartão do contribuinte. O costume! Tantas vezes isto se repete que a Maria abana a mona com resignação mas já nem diz nada o que, no caso dela, é obra!
Apesar da portabilidade da minha carteira, é raríssimo perder documentos ou dinheiro; quando perco, calha sempre ao bilhete de identidade ou então algum dinheiro, muito pouco aliás e normalmente é porque algum dos filhos da Maria me pediu um empréstimo e ainda não teve oportunidade de falar comigo e entregar a documentação necessária devidamente preenchida e assinada.
A frase, a pergunta que começa este texto, resultou da exclamação de desespero do senhor ministro das finanças, escutada há dias por estes ouvidos que a terra há-de sujar e cuja transcrição é mais ou menos “porra, valha-me santo Constâncio, aonde raio é que meti aqueles 1,3% do PIB português, ainda há duas semanas os tinha aqui guardados e agora não os encontro!”
Se isto me acontecesse a mim, além de dois pulos e dum valente berro, caía-me logo tudo, o Carmo a trindade e os tintins. Não necessariamente por esta ordem! Obviamente ficaria a falar fininho e não entendo como é que o ministro ainda fala grosso.
É verdade que o hábito faz o monge e o senhor ministro até já está habituado a perder grandes nacos do nosso produto interno bruto por atacado.
Em Outubro de 2008 dizia que o défice em 2009 ia ser de 2,2% do PIB, depois já eram 3,9% em Janeiro de 2009, depois 5,9% em Maio e, finalmente 8% em Dezembro. Agora lá desapareceram mais estes 1,3%.
À data em que teclo estas letras, a secretária do senhor ministro continua à procura.
A sorte dele não é ter a cabeça agarrada ao corpo, não! A sorte dele é outra, mas é mistério…

Tuesday, January 26, 2010

Obrigações




Parece que há para aí umas mentes brilhantes que já andam a engendrar uma forma (ainda) mais sofisticada de nos mexer nas algibeiras, uma versão da canção do bandido, uma balada a puxar ao sentimento e ao patriotismo.
Eu não vi nem ouvi, mas li algures que, durante o programa Prós e Prós do canal do Sócrates do Partido Socialista do Governo um da RTP, uma dessas mentes brilhantes convidadas propôs que, aproveitando o centenário da implantação da Republica, fosse lançado um empréstimo interno, quem sabe sob a forma de obrigações do Tesouro, para acudir ao sufoco financeiro que está aí à porta, a modos que um empréstimo obrigacionista.
Não sei se isto tem pernas para andar mas, com tanta epidemia que há por aí, não me espantava nada que o vírus desatasse a infectar meio mundo e se espalhasse à velocidade estonteante do vírus da gripe A.
Por mim, bem podem tirar o cavalinho da chuva, podem meter tais ideias pelo buraco que muito bem entenderem e quiserem, de mim levam mas é a ponta dum grande corno.
Obrigacionista a fazer em empréstimos à Republica já eu sou, empréstimos adiantados e por conta, obrigado que sou a fazê-los pelos que têm mamado nas tetas da nossa querida e amada República nas últimas décadas. Faço-os em três prestações anuais, calculadas com base no que ganhei no ano anterior. E chega!
É claro que para os mamadores, todo o empresário em nome individual tuga como eu, é, claramente, um tipo de sucesso, um barra nos negócios e, com crise ou sem crise, "vá...anda lá ó tenrinho, passa para cá esse emprestimozinho, sem juros e não bufes. Se bufas, já sabes...ooops, vê lá bem a coisinha má que te poderá acontecer".
Como eu, há muitos milhares de obrigacionistas que vão sustentando outros tantos milhares de agradecidos, venerandos e obsequiados.
Se eu tivesse um tacho que fosse sustentado pelo dinheirinho dos outros, ah bom, garanto que também eu havia de puxar pela cachimónia para manter as tetas em boas condições pelo máximo de tempo que fosse possível. De facto, quem é que no seu perfeito juízo larga uma teta enquanto ela der? Só os mentirosos e os burros!
Ao empréstimo obrigacionista de que falei, há que juntar a brutalidade em impostos que pago quando compro combustíveis, os trinta e seis por cento da taxa do imposto sobre o rendimento, os trinta e cinco por cento para a segurança social, etc., etc., etc. (se alguém quiser pôr o ombro a jeito para eu poder chorar, está à vontade).
Como escrevia alguém, o estafermo do túnel é chato e comprido como o caraças. Há tantos anos que andamos dentro dele e, mesmo assim, não há meio de encontrar a famosa luz lá ao fundo.
O mais irritante é que o esqueleto do pagante vai envelhecendo durante a caminhada e, de repente, está-se com os pés para a cova sem ter verdadeiramente desapertado o cinto durante a passagem terrena. Um parêntesis para dizer - mais uma vez! - que eu sou um privilegiado e que barafusto de barriga cheia mas tenho pena que não haja muito mais gente como eu (eu prefiro acabar com os pobres do que acabar com os ricos...manias!).
Uma razão para o túnel ser muito comprido é a existência de deputados como a socialista Inês de Medeiros; com residência em Paris, aceitou um convite para ser eleita para o parlamento nacional e agora quer que lhe sejam pagas as viagens que faz para aquela cidade aos fins-de-semana. Para ver a família. E os tansos vão, através dum regime de excepção, pagá-las.
Com tanto desperdício, ainda querem mais empréstimos? Como dizia a minha tia Arminda: campava eu!

Wednesday, January 06, 2010

Banalidades



Em reacção à mensagem de Ano Novo do senhor Presidente da Republica (o tal que, em certos sectores é carinhosamente conhecido como “o gajo”), o chefe do grupo parlamentar do partido socialista, em entrevista a um jornal, disse que “… o PS governou, com sucesso, na redução do défice estrutural do nosso défice”. E disse-o sem se rir!

Na mensagem, o tal senhor que em certos sectores é conhecido como “o gajo”, deu-nos (mais) um murro no estômago para ver se a malta presta a devida atenção às nuvens negras que estão ali à frente, no nosso futuro imediato. E o que é que disse “o gajo”? Banalidades:

- “…quando gastamos mais do que aquilo que produzimos, há sempre um momento em que alguém tem de pagar a factura…”;

- “…com este aumento da dívida externa e do desemprego, a que se junta o desequilíbrio das contas públicas, podemos caminhar para uma situação explosiva”;

- “…é necessária uma maior exigência e responsabilidade para os detentores de cargos públicos porque o exemplo deve vir de cima…”

- …Os custos da correcção de um desequilíbrio das finanças públicas podem ser dramáticos…;

- Falo sempre com um imperativo: nunca vender ilusões nem esconder a realidade do País e em nome da verdade;

- A dívida do Estado (...) aproxima-se de um nível perigoso e o endividamento do País ao estrangeiro tem vindo a aumentar de forma muito rápida, atingindo já níveis preocupantes;

- Os dinheiros públicos não nos podemos dar ao luxo de os desperdiçar e o caminho do nosso futuro tem de assentar em duas prioridades fundamentais: o reforço da competitividade externa das nossas empresas e o aumento da produção de bens e serviços que concorrem com a produção estrangeira, já que é uma ficção pensar que é possível conseguir uma melhoria duradoura do nível de vida dos portugueses sem o aumento da produtividade e da competitividade da nossa economia e, por outro lado, o apoio social aos mais vulneráveis e desprotegidos e às vítimas da crise».

Para os muito distraídos, as banalidades apontadas podem ter sido causados pelo D. João II, pelo Marques de Pombal, pelo Salazar, pelos Marcelos (o Caetano e o Rebelo de Sousa) ou até pelos seis meses e meio da des(governação) do modernaço Santana Lopes.

Fruto da minha descontracção e estupidez natural, o recado pareceu-me essencialmente dirigido a quem, nos últimos quinze anos – desde 1995 – mandou no governo português durante doze anos e meio: o PS!

Sim, eu sei que é chato, mas há que não esquecer este pequeno detalhe quando se fala do nosso país e da sua situação, quando são divulgados, por entidades estrangeiras, os dados relativos aos nossos índices de desenvolvimento.

A questão é que, com a instrução do povo pelas ruas da amargura e com a maioria da imprensa anestesiada ou dependentemente domesticada, toda a gente é culpada menos a ideologia socialista, aquela ideologia em que um punhado de gente, de falinhas mansas e mamar doce, se apodera do estado, o engorda e o estende a tudo quanto mexe, com o objectivo de impedir o desenvolvimento da nossa verdadeira liberdade individual, fomentando o parasitismo e penalizando o sucesso do risco, formatando uma sociedade que reage como um bando de gente acéfala e acrítica, que bate palmas quando lhe mandam e que bate a bola baixa quando tem de ser. Veneranda e agradecida!

E, como é publicamente sabido, quem se mete com eles, com os socialistas, pimba, leva! Se “o gajo” tivesse barbas como o meu bisavô Ezequiel bem as podia pôr de molho; como não tem, que se ponha a pau!

Saturday, January 02, 2010

Adiantará?


A primeira década do século vinte e um está quase a dar o berro, está mesmo a acabar e, como é hábito, vai haver foguetório no final do ano, quando nos relógios tiver batido a décima segunda badalada. A julgar pelas primeiras noticias que ouvi desde a véspera de Natal até hoje, segunda-feira, havia gentinha interessada em que o fogo de artificio nos céus tivesse começado bem mais cedo do que o habitual. Um deles já foi apanhado.
Um adolescente nigeriano de dezanove anos, com a ajuda de uns amigos porreiraços, uns terroristas do bando do destrambelhado e desaparecido Bin Laden, coseu, nas cuecas, uma pequena quantidade de um explosivo e rumou da sua terra para as Américas, com passagem pela cidade holandesa de Amesterdão aonde, por portas travessas, embarcou num avião duma companhia aérea americana.
Já em pleno voo, em vésperas da celebração do nascimento de Jesus (o verdadeiro e não aquele marmanjo que treina aquela cambada de toscos), este incompreendido adolescente, tentou detonar o explosivo com a ajuda duma seringa mas, ou por incompetência ou por pura sorte, em vez da explosão só causou fumo e alguns dos outros passageiros fizeram-lhe a folha antes que fossem todos para os anjinhos.
Graças a este adolescente inconsciente, daqui para o futuro, as nossas cuecas passarão a ser um dos pontos com mais interesse para as equipas de segurança dos aeroportos; facilmente imagino um senhor muito circunspecto a olhar para um ecrã à sua frente, o tolão suicida a passar pela máquina especial, o segurança a franzir o sobrolho e a perguntar com ar de espanto “ó amigo, você tem mesmo três coisos ou aquilo ali é uma bomba?”.
Se entretanto, por qualquer razão de natureza técnica ou legal, não for viável pôr uma máquina a investigar-nos a artilharia, vai ser um espectáculo lidar com o caos causado pelo despe, apalpa e volta a vestir, de cada vez que se viajar de avião.
Já não me bastava ter a certeza de que estou com umas meias sem buracos porque nos obrigam a descalçar os sapatos; agora também preciso de ter cuidado com a apresentação do cuecame, que tem de estar impecável e pronto para uma inspecção aprofundada. Com tanta da minha concentração desviada para estas minudências ainda me arrisco a esquecer qualquer coisa importante – as calças por exemplo.
Ainda graças a este desenraizado adolescente, futuramente, quem for de avião para a terra do messias, não vai poder levar nada no colo (por acaso até pode ser um alivio porque alguns dos seguranças, depois de investigarem a lingerie dum passageiro poderiam sentir um forte impulso a meter-se no mesmo avião…) e durante a última hora de voo não se vai poder levantar do lugarzinho.
Se o presidente dos americanos ainda fosse o tolo do Bush, estas medidas teriam logo um rótulo de paranóia de um demente mental; como o presidente é o messias, ah bom…então é tudo pelo amor e carinho ao cidadão comum.
Por cá, só boas novas! Enquanto parece ser impossível esclarecer, no caso das escutas da Face Oculta, quais foram os factos criminosos imputados pelo juiz de instrução e pelo procurador coordenador ao senhor primeiro-ministro, o chefe do governo mandou-me uma mensagem pela televisão a dizer que está tudo bem, que a retoma da economia já se vê (eu sou míope e por isso não a topei) e que as obras públicas vão criar muitos mais empregos do que o número de vacinas contra a gripe A que não foram usadas.
Porreiro pá! Adiantará desejar um bom 2010?