Tuesday, March 03, 2009

Impressionismos























Um marciano que tivesse aterrado por cá na semana passada e percebesse o português falado e escrito, teria ficado surpreendido por o nível de desenvolvimento do nosso país não ser nada proporcional aos notáveis conhecimentos artísticos dos seus habitantes, pelo menos dos habitantes que publicitam os seus conhecimentos e interrogar-se-ia como é que um povo que aparece na cauda da Europa em quase tudo o que é estatística consegue ter tantos conhecimentos e tantos craques em pintura.

Infelizmente, nem todos são craques, não senhor! Como é óbvio, existem sempre uns quantos nabos que vieram ao mundo só para estragarem as estatísticas e chatearem os outros: os senhores agentes da polícia de segurança pública de Braga que, aparentemente a pedido dum cidadão mais incomodado, apreenderam meia dúzia de exemplares dum livro que tinha na capa uma senhora de barbas e…eu!

Sim, só eu e aqueles pobres representantes da autoridade é que não sabíamos que a capa do livro retratava uma conhecidíssima e famosíssima obra de arte, um desenho dum também conhecidíssimo e famosíssimo gajo chamado cu-qualquer-coisa, uma obra notável que está exposta, para admiração, (num quiosque qualquer) num igualmente conhecidíssimo e famosíssimo museu que fica num lugar de que já esqueci o nome.

Dada a minha santa ignorância, se fosse eu a dar de caras com o exemplar – só me sujeito a este violento exercício de imaginação em benefício da minha escrita – calculo que teria uma de três reacções possíveis: sentia um súbito desejo de juntar os trapinhos com um ser do mesmo sexo que eu, tinha um ataque de icterícia e entrava em coma profundo ou tornava-me simpatizante e apoiante do grande e querido líder inscrevendo-me, de imediato, no partido. Tropelias que eu não desejo nem ao meu pior inimigo!

Em matéria de pintura, além das tintas dyrup e robialac, pouco mais saberei que os agentes, o que constitui uma falta grave – eu sei e admito! No meu caso, ainda assim, a coisa é desculpável mas no caso dos agentes da autoridade a falha é intolerável. Nem quero pensar no perigo que corro se precisar, um dia, da presença dos agentes da autoridade no Tourigo e me mandarem uns elementos que não saibam dizer de cor, por ordem alfabética e em dez segundos o nome de catorze pintores dos séculos quinze, dezasseis e vinte. A segurança das populações é um assunto muito sério com o qual não se pode brincar!

É verdade que, ao contrário dos agentes, eu não teria confiscado o produto, sou mais do género “se não gosto não como mas também não tiro os pratos aos outros”; a diferença talvez seja a de que eu (ainda) não corro o risco de ser obrigado a cumprir um determinado tipo de ordens para ganhar a minha vida e receber o meu salário no fim de cada mês.

Se tivesse vergonha na cara, em vez de vir para aqui publicamente admitir que não passo dum bronco inculto, devia era aproveitar este espaço e malhar nos coitados dos senhores agentes e, a bem da segurança do país, lançar um peditório a nível nacional e angariar uns trocos para os levar numa visita de estudo (à zona da luz vermelha de Amesterdão) ao tal museu, dar-lhes a hipótese de aprenderem alguma coisa de jeito e útil à prossecução duma boa actividade policial na cidade de Braga, a cidade dos três ou cinco “pês” consoante se é visitante ou natural do local.