Thursday, March 22, 2007

Assédios e cultura


Photo by Rachel Papo

Não admira que haja tanta malta a malhar nos israelitas! Até eu começo a pensar que os tipos andam mesmo a pedi-las. Depois de anos de esforços, notoriamente antidemocráticos e anti civilizacionais, lá conseguiram fazer aprovar uma lei que protege e defende as jovens adolescentes, obrigadas a cumprir vinte meses de serviço militar, dos actos de assédio e de violação sexual praticados pelos homens, em particular pelos seus superiores hierárquicos. É lá coisa que se faça naquela parte do mundo? Em qualquer parte do mundo não ocidental?

Isto é o resultado desta nossa velha e estúpida mania de queremos impor os nossos valores e os nossos costumes a outras civilizações, humilhando-as e despindo-as dos seus próprios valores, valores que vêm de há séculos e que, não sei bem para quê, há que preservar. Gajas? Mulheres? Ó pá, não se metam nisso, tratem de manter as vossas destapadas (ih-ih-ih-ih-ih, nham…nham!) que das nossas cuidamos nós, afiambramos-lhes uns tabefes e umas violações de quando em vez, só para não perder o jeito. E, para não dar cabo da mercadoria muito depressa, deixem-nos lá ter umas quantas mais em stock, mesmo que a malta viva aí ao pé do vosso museu do Louvre. Multi qualquer coisa, como vocês tão bem dizem!

Não acho que seja coscuvilhice esta mania de nos intrometermos nos costumes dos outros; não senhor, isto é muito mais grave: é colonialismo! Do puro e do duro! E, como todos muito bem sabemos, abaixo com ele! Que dizer do nosso Infante, candidato ao posto de o maior português de todos os tempos, pioneiro na globalização deste colonialismo cultural? Bandalho! Porco colonialista! Vai para casa, ou como se diz em esperanto, a língua universal, go home mr Bush!

Não admira que o emplastro do Irão e os seus muchachos, entre outras brilhantes ideias, andem por aí alegremente a querer riscar Israel do mapa. Acho bem! Sentado, espero que os activistas do costume encham as ruas das ocidentais cidades e que partam, em manifestações nunca antes organizadas, em protesto contra mais este abuso dos direitos dos pobres violadores de mulheres e em defesa do tal multi não sei das quantas. Como já estão treinados, os primeiros a ir, podem ser aqueles pacíficos dinamarqueses que, há dias, resistiram heroicamente ao despejo – legal, hélas! – de um centro de juventude “alternativo” (não sei se é conotação com a palavra alterne ou com a arte do toureio a cavalo).

Atenção, quando eu digo que, sentado, espero que partam, não estou a querer sugerir que peguem na trouxa e que viajam para se manifestarem em sítios tão horrorosos como o Irão ou a Arábia Saudita. Não, isso não! Eu ia partir o meu coco a rir e vocês, é bom de ver, também iam partir o vosso. Consta que os camaradas de lá são gajos para não ligar peva aos vossos direitos humanos. Especificidades culturais!

Partam, no sentido de quebrar, destruir, como é o vosso pacífico hábito, uma pipa de montras, carros e outros objectos, só para mostrar a esses porcos capitalistas ocidentais, proprietários desses símbolos da exploração do homem pelo homem, como é triste e vergonhosa a vida deles em comparação com a vossa – dura, excitante e perigosíssima.

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