Monday, November 06, 2006
Ressacas
Se continuar a chover pelas minhas bandas como choveu ontem à noite (domingo), em breve devo estar a escrever do Porto Santo ou do Funchal, dois lugares aonde eu acho que só mesmo uma enxurrada me pode levar, o mesmo é dizer que muito provavelmente só por via marítima é que me por lá apanham, por via aérea está quieto ó melro.
Não é que eu tenha medo de voar, não senhor, antes pelo contrário, eu entro num avião e fico logo ferradinho a dormir ainda antes dele levantar voo; claro está que quem me leva por companhia é que não aprecia nada este comportamento mas é superior a mim e eu não resisto. De resto, é só vantagens: as viagens parecem mais curtas e nunca como as mixórdias que as companhias aéreas servem disfarçadas de comida.
Mas, voar para a Madeira? Nã, não é com certeza o irmão mais novo do filho mais velho dos meus pais que o vai fazer! Meteu-se-me de tal maneira na cachimónia que se entrar num avião com destino àquelas paragens acabo estampado, derretido e misturado com o alcatrão da pista do aeroporto que nem podre de bêbado me conseguem fazer embarcar.
Perdi a conta aos nomes que já me chamaram, todos eles – evidentemente – bastante elogiosos para a minha pessoa mas tenho aguentado todos os enxovalhos sem vacilar porque sou tão casmurro quanto irracional.
Se este meu medo é irracional, o que é que se há-de chamar à decisão do senhor Presidente da Câmara do Porto, Doutor Rui Rio, de acabar com os subsídios pecuniários a fundo perdido, a partir do próximo ano, exceptuando aqueles destinados às Juntas de Freguesia e às empresas associadas da Câmara para acabar com “o preocupante fenómeno de desajustada subsidio dependência”? Irreflectido, impensado, irracional? Não – diz ele – é tempo de acabar com esta cultura de mão estendida para os orçamentos públicos.
Acabar com a quê? Repita lá, se faz favor? Não devo ter ouvido bem! Ah, e ainda por cima quer que esse seu gesto seja também um sinal para as outras autarquias? Ai, ai, ai, mas o que é que o senhor anda a tomar?
Quer o senhor dizer que a partir do ano que vem, se eu quiser ir ver uma peça daquele teatro dito alternativo, o bilhete me vai custar quase tanto como um bom bife de lombo e uma garrafa de Esporão? Ou, posta a coisa de outro modo, acabam-se os bilhetes ao preço da sandes de coirato e do copo de três?
O quê, sujar-me todo para ir ver uma “instalação artística” ao estaleiro de uma empresa de construção civil quando, se houvesse um.. um… bem, o senhor sabe o que é que eu quero dizer, eu podia ir ver a mesma coisa, calçadito nos meus sapatinhos de pele de crocodilo, a um museu ou a uma fundação?
Homem, não é por nada, mas palpita-me que por sua causa vai andar muita gente ressacada.
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