No texto anterior escrevi sobre jornalistas, muitos dos quais, de braço estendido e dedo em riste, apontam, apoiam, criticam, publicitam, bajulam, insultam e, como os toureiros face aos touros feridos, finalmente de rastos e humilhados, saem tranquilos e superiores para a programada ovação à volta da arena.
Uma noticia falsa, publicada no Jornal de Tondela, com os seus, digamos, duzentos mil leitores (peço desculpa se estiver a pecar por defeito), não tem o mesmo impacto – diria eu – que uma falsa noticia publicada no New York Times (NYT) com os seus escassos quase dois milhões.
As notícias que o Jornal de Tondela publica sobre os acontecimentos, no Iraque profundo por exemplo, têm, quase de certeza, origem na mesma fonte que as dá ao NYT, fonte que dá pelo nome de AP (Associated Press) e que quase detém o monopólio da informação em certas áreas do globo, como é o caso do médio oriente.
Há umas três semanas, a secção iraquiana da AP noticiou, com base no relato de um capitão da polícia local chamado Jamil Hussein, que algumas mesquitas tinham sido incendiadas e que seis sunitas tinham sido queimados vivos. Ouvi na SIC Noticias, na rádio Bagdad, na CNN, na BBC, na SKY e li em vários jornais americanos.
Face à falta das imagens de mais esta carnificina (as televisões árabes exibem os mortos e os feridos na mesma proporção que as nossas passam telenovelas em horário nobre), instalou-se a desconfiança entre certos sectores; feitas umas pesquisas, descobriu-se que o tal capitão da polícia, o senhor Jamil Hussein, tinha sido a fonte usada em 61 notícias dadas pela AP nos últimos dois anos. Contactados o Ministério do Interior do Iraque e o comando das forças americanas para mais detalhes sobre os ataques às mesquitas e o assassínio daquelas seis pessoas, chegou-se à situação actual: na área e datas indicadas, há registo do ataque a uma mesquita, nada sobre pessoas queimadas e a informação de que na polícia iraquiana, não há, nem houve, o registo de um capitão com o nome da fonte usada pela AP.
Este episódio segue-se a um anterior, a prisão, há cinco meses atrás, de um repórter local da AP, engavetado por ligações à organização terrorista Al-Qaida e a outros grupos corais congéneres, mas ainda não formalmente acusado.
Não estando em causa a gravidade da situação na zona o que se pede à AP é simples: que mostre o tal capitão, que o apresente ao público que por ele é “informado” através da AP e dos órgãos de comunicação social pelo mundo fora, umas fotografias dos acontecimentos tal como relatados. Se tal não for feito, é legitimo concluir que, pelo menos, parte da notícia é falsa, que a fonte usada, 61 vezes, não existe
A isto e até hoje, a AP disse: nada! Reconfirma a sua história, agora sustentada em mais três testemunhas – anónimas, claro – e jura pelas alminhas que a sua fonte é credível.
Mas se a malta não vir o famoso capitão, não será legitimo concluir que ele não existe? E, não existindo, quantas notícias vindas da AP são falseadas? Muitas, poucas, nenhumas, algumas, todas? E porquê falseadas? E, já agora, as notícias falseadas, será que beneficiam sempre os mesmos “ideais”? E acharão os leitores do Jornal de Tondela que este continue a mantê-la como fonte privilegiada?
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