Era de tarde, no relógio da torre da igreja tinham-se ouvido quatro badaladas, o dia estava lindo, no céu sem nuvens o sol brilhava e aquecia as minhas costas, eu olhava para a avó dos meus filhos que à janela aberta do seu quarto acabara de responder à minha pergunta dizendo-me que o que estava ali a fazer era a secar a marmelada.
Pensei ter ouvido mal mas ela, sorridente, repetiu. Olhei em volta à procura do seu marido mas não o encontrei. Pus-me em bicos de pés, tentei espreitar para dentro do bem iluminado quarto. Não o vi mas podia muito bem-estar escondido.
Parece-me que de cada vez que me vêem no Tourigo, este par de alucinados fazem o possível para gozar com a minha cara.
Ele, o marido, não descansou enquanto não me levou a ver, de perto, a beleza duma groselheira carregadinha, vista bonita, confesso, mas que não passou, afinal, duma matreira e engenhosa maneira de fazer com que fosse eu a esmagar os ouriços e a apanhar as castanhas que tinham caído naquele lado do quintal. Com a desculpa da sua idade e do seu actual estatuto de presidente quem teve que dobrar a mola para apanhar as seis castanhas fui eu. Sozinho!
Eu quero lá saber aonde é que ela seca a marmelada! Nem sequer quero saber aonde é que ela faz a marmelada. Na minha idade é óbvio que já sei mais ou menos onde é que ela, a marmelada, se faz naquela casa, mas, francamente, há informações que eu preferia não receber. A minha mãe a fazer marmelada! Até evito pestanejar não vá dar-se o caso de, com os olhos fechados, me passarem imagens estranhas à frente. A curiosidade dos meus filhos sobre estas questões culinárias morreu por volta dos cinco anos e, agora que já deixaram a adolescência, se eu ou a minha Maria lhes perguntamos se há perguntas a fazer sobre a matéria, fogem como Maomé do presunto, aos gritos e com as mãos a tapar os ouvidos. Como eu os compreendo!
Recordei partes da conversa à hora do almoço, o meu pai a pedir-me para ser eu a fazer os trabalhos mais pesados que incluíram abrir a garrafa do vinho porque lhe doíam as mãos de tanto descascar os belos marmelos e a mulher a dizer que ele gostava mais da que tinham feito primeiro porque era menos azeda do que a segunda. Ela gostava das duas. Queixas houve, sim, mas das castanhas e das nozes que, segundo ela, estavam todas piladas as primeiras e quase todas podres as segundas.
Mesmo a suave palmadinha que ele lhe deu e as estridentes gargalhadas que se seguiram quando a apanhou, quieta, os braços no ar, os dois indicadores esticados e o tronco a balançar ao som duma qualquer música que só ela ouvia, me fez juntar dois mais dois (bolas, até esta ultima parte da frase me soa estranha).
E tinha eu pensado, ingenuamente na altura, que o clima alegre e quente que envolvia a cozinha se devia à nossa visita, ao arroz de cabidela e ao tinto.
À noite, já deitado a ler o meu livro, ouvi foguetes. Desliguei e luz, tapei a cabeça com a almofada e obriguei-me a dormir.
Pensei ter ouvido mal mas ela, sorridente, repetiu. Olhei em volta à procura do seu marido mas não o encontrei. Pus-me em bicos de pés, tentei espreitar para dentro do bem iluminado quarto. Não o vi mas podia muito bem-estar escondido.
Parece-me que de cada vez que me vêem no Tourigo, este par de alucinados fazem o possível para gozar com a minha cara.
Ele, o marido, não descansou enquanto não me levou a ver, de perto, a beleza duma groselheira carregadinha, vista bonita, confesso, mas que não passou, afinal, duma matreira e engenhosa maneira de fazer com que fosse eu a esmagar os ouriços e a apanhar as castanhas que tinham caído naquele lado do quintal. Com a desculpa da sua idade e do seu actual estatuto de presidente quem teve que dobrar a mola para apanhar as seis castanhas fui eu. Sozinho!
Eu quero lá saber aonde é que ela seca a marmelada! Nem sequer quero saber aonde é que ela faz a marmelada. Na minha idade é óbvio que já sei mais ou menos onde é que ela, a marmelada, se faz naquela casa, mas, francamente, há informações que eu preferia não receber. A minha mãe a fazer marmelada! Até evito pestanejar não vá dar-se o caso de, com os olhos fechados, me passarem imagens estranhas à frente. A curiosidade dos meus filhos sobre estas questões culinárias morreu por volta dos cinco anos e, agora que já deixaram a adolescência, se eu ou a minha Maria lhes perguntamos se há perguntas a fazer sobre a matéria, fogem como Maomé do presunto, aos gritos e com as mãos a tapar os ouvidos. Como eu os compreendo!
Recordei partes da conversa à hora do almoço, o meu pai a pedir-me para ser eu a fazer os trabalhos mais pesados que incluíram abrir a garrafa do vinho porque lhe doíam as mãos de tanto descascar os belos marmelos e a mulher a dizer que ele gostava mais da que tinham feito primeiro porque era menos azeda do que a segunda. Ela gostava das duas. Queixas houve, sim, mas das castanhas e das nozes que, segundo ela, estavam todas piladas as primeiras e quase todas podres as segundas.
Mesmo a suave palmadinha que ele lhe deu e as estridentes gargalhadas que se seguiram quando a apanhou, quieta, os braços no ar, os dois indicadores esticados e o tronco a balançar ao som duma qualquer música que só ela ouvia, me fez juntar dois mais dois (bolas, até esta ultima parte da frase me soa estranha).
E tinha eu pensado, ingenuamente na altura, que o clima alegre e quente que envolvia a cozinha se devia à nossa visita, ao arroz de cabidela e ao tinto.
À noite, já deitado a ler o meu livro, ouvi foguetes. Desliguei e luz, tapei a cabeça com a almofada e obriguei-me a dormir.
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