Monday, February 05, 2007

Musicando



Hoje apeteceu-me relembrar alguma da música que eu ouvia até para aí aos meus quinze anos. Tinha acabado de cortar a relva e quando me sentei – com dores por tudo quanto era João – para recuperar do esforço inglório a que fui obrigado, zás …assim, do nada, pensei: ó tempo volta para trás! Por mais que eu lhes diga, a minha patroa e os meus putos, não acreditam que daqui a dois meses a porcaria da relva vai estar outra vez na mesma: crescida! Não sei que mais hei-de fazer para meter naquelas cabeças duras que não adianta, não adianta perder tempo a cortá-la porque ela volta sempre a crescer. Mas, de um contra três, o que é que se espera? Casmurros, nem com uma oração os demovo!

O mar enrola na areia, ninguém sabe o que ele diz, rebola e desmaia, quanto mais se enrolam mais só nós dois é que sabemos, eu sou o lobo mau, as brotinhas a quererem passear no meu Calhambeque, aquele meu paleio de eu te darei o céu meu bem, as chatices com a namoradinha de um amigo meu, a malta a berrar pega ladrão e o senhor policia, quando se apercebe que eu roubo corações e não jóias, grita quero que tudo vá para o inferno, todas estas aventuras fazem parte desses meus primeiros anos e recordo-me de berrar algumas delas, a pedido, com a minha, na altura, voz esganiçada (felizmente não há registos gravados …).

Françoise Hardy levou-me, a mim e a tous les garçons et les filles de mon age a passear pelas ruas de Paris; quis que ela dançasse une valse à mille temps para ver até onde lhe subia a mini-saia, olhei-a como quem lhe diz, ó filha imagina que eu sou o Adamo e que te vou pôr mes mains sur tês anches. Ela gritou, apareceu l´italien, educadamente peço-lhe vous permettez monsieur que eu estou aqui a falar com a fofa, viens ma brune, não tenhas medo, o gajo era mesmo bronco, engalfinhámo-nos e eu fiquei sem une mêche de cheveux; acabou por me caçar e dei comigo feito um mèteque uma ilha italiana. Ainda hoje, para mim, Capri c´est fini! Com un peu d´amour ou d´amitié lá me consegui pirar et maintenant eis-me com o Bécaud na Rússia onde ele troca l´importance c´est la rose pela bela Natalie a quem diz je reviens te chercher um dia para te levar para o meu pommier à pommes, não sei se estão a ver bem a coisa.

Nesta desbunda total, a Sylvie Vartan e o Hallyday enrolaram-se, ela jura que si je chante c´est pour toi ele agradece e retribui je t´aime…je t´aime...je t´aime. Quando a Dalida me vê foi logo naquela de t´aimer follement, não gostei dp género dela, muito ele e ela, vou ali e já venho, ela não desiste, ne me quites pas, ó boneca, vá lá, tenho mesmo que ir, j´attendrai, tudo bem, tu é que sabes, mas é melhores sentares-te.

Sou um pupett on the strings por causa das pernas compridas e nuas da Sandy Shaw, e pour un flirt com ela até o pino estou disposto a fazer, escrevi-lhe cartas de amor a marcar encontros para Lisboa à noite; quando ela finalmente aceita e eu a aguardo numa canoa do Tejo, aparece-me, vindo não sei de onde, o carrapito da dona Aurora e ainda hoje me comparam com a lenda de el-rei D. Sebastião: passado que seja o susto, hei-de aparecer … um dia!

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