Volta e meia acontece! É raro... mas acontece! Às vezes, quando me sento ao computador para escrever, fico para ali especado a olhar para o monitor, ou para as teclas, ou para as unhas e, apesar do meu ar sério e compenetrado, não consigo encontrar o tema que seja o tiro de partida para a minha crónica. Hoje não, hoje sei exactamente sobre o que é que vou escrever, e vai ser sobre nada. Isso mesmo: nada!
Podia escrever sobre o referendo ao aborto, sobre o caso do sargento Gomes, sobre a justiça ou criticar a falta dela, sobre a crise na autarquia da capital e no maior partido da oposição e dizer cobras e lagartos de uns e de outros, sobre o problema do aquecimento global e esconjurar os seus maiores culpados, sobre a as alterações ao concurso do canal um por causa da vitória de Salazar, sobre mais uma derrota do maior clube de futebol do mundo e arredores, sobre o roubo que é o preço da gasolina face ao custo do petróleo e ao câmbio do euro contra o dólar americano, sobre o exagero que são os impostos mais as suas taxas escondidas, sobre o excessivo peso do estado na economia e na vida dos cidadãos, sobre aqueles buracos na berma da estrada do Tourigo para Mortágua, ao pé de Mortazel e que, como a Toyota, vieram para ficar, bem, se eu quisesse, matéria prima não faltava.
Mas queria ser original e, sei lá, escrever um texto a apoiar a politica do senhor Bush na sua luta contra o terrorismo; ou um a questionar porque carga de água não havemos nós de impor os nossos usos e costumes aos que escolhem ficar por cá (na Europa comunitária) a viver e a trabalhar se depois somos punidos pelas nossas autoridades, por violação da nossa constituição, se copiarmos alguns dos costumes deles; ou escrever a dizer que me estou nas tintas se uns quantos combatentes extremistas islâmicos foram obrigados a fazer o pino e a ouvir a música dos Red Hot Chili Peppers até cuspirem cá para fora a informação que evitou vários atentados contra alvos densamente povoados de civis (a minha vizinha, que tem setenta e muitos anos, foi torturada, ao murro, por dois putos de treze que continuam por aí, mais livres e arrogantes do que os voos da CIA, apesar do inquérito que, dizem, está a decorrer na policia).
No fundo, o que eu queria era escrever textos que seja raro lerem-se, provavelmente porque são poucos os que os têm no sitio! O senhor Pacheco Pereira é dos poucos que os tem, lá no sítio dele que é o www.abrupto.blogspot.pt; além dele, ou melhor, com a inteligência e com a independência dele, se calhar os dedos de uma só mão chegavam para contar quem tem a distinta ousadia de fugir à atracção do pc (politicamente correcto).
Querendo ser original mas não me sentindo à altura do senhor doutor Pacheco, decidi escrever sobre nada. Só chateio quem já leu até aqui e depois cada um vai à sua vidinha.
Hoje de manhã, domingo, esteve quase a nevar aqui em Lisboa; estavam quatro graus na rua e – juro – que vi dois farrapos de neve no meio da carga de água que caía quando cheguei ao clube para ir jogar ténis. Pois foi, a sério que vi!
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