Thursday, August 09, 2007

Sensibilidade




Estou um bocadito mal disposto e sinto até uma ligeira sensação de enjoo. Talvez devesse ir escrever lá para fora, para a rua, sempre era uma forma de arejar o capacete. Só que fora de casa já não posso dizer mal de nenhum elemento do nosso governo, conforme lembrou – e muito bem! – a secretária de estado da saúde, Cármen Pignatelli, numa cerimónia oficial: “as pessoas são livres de dizer aquilo que pensam … nos locais apropriados, ou seja, nas suas casas, na esquina, no café”.
Cada cabeça sua sentença? Depende do sítio!

O enjoo não é por causa do programa televisivo deste fim-de-semana porque consegui, nas calmas e às mil maravilhas, evitar todo o contacto ocular e auditivo com os directos dos milhões de amigos da natureza, por esse mundo fora, aos berros e aos pulos, muito amiguinhos uns dos outros; no final, como é hábito nestes encontros, lá deixaram espalhadas pelo chão as impressões digitais de preocupados ecológicos, antes de irem para dentro, para as suas vidas diárias fazer, sabe-se lá, exactamente o quê sobre a matéria festejada.
Entre as celebridades mundiais anunciadas, algumas havia com um currículo público, em matéria ambiental e civilizacional, de fazer inveja ao estripador de Londres, aos irmãos Cavaco ou à antiga deputada Cicciolina.

Como não tenho filhos em exames no secundário, também não é efeito do modo airoso como o ministério da educação resolveu o problema causado pela anulação de uma alínea duma das perguntas do exame nacional de Física e Química do 11º ano em resultado dum erro que impossibilitava a resposta. Reunidas as cabecinhas pensadoras do ministério, a opção, rapidamente encontrada, foi a de multiplicar o resultado final obtido por cada um dos alunos por um coeficiente de 1,0417.
Isto é, quem obteve, por exemplo, 180 pontos no exame ficou com uma nota final de 187.50, com 104 se obteve 100 pontos e por aí fora. A mesma pergunta, impossível de responder por qualquer laminária, nacional ou estrangeira, valeu, óbvia e democraticamente, mais para os melhores alunos e menos para os piores.
Como a média final dos cerca de trinta mil alunos que fizeram o exame foi de 72 pontos significa que, para a esmagadora maioria, estar lá a pergunta ou não estar foi mesmo igual ao litro.

Nem mesmo a possibilidade do número de lampiões passar de seis para cerca de seiscentos milhões graças a uma engraçada chinesice pode ser a causa deste mau estar.

Às tantas, é simplesmente o meu fígado, sempre muito sensível, muito delicodoce, muito igual aos nossos governantes e desprovido de qualquer sentido de humor, a destilar bílis a granel, chateado por causa de umas quantas jolas que fui emborcando, durante o fim-de-semana, por causa do calor tórrido que se fez sentir. Que figadozinho mais copinho de leite!

No comments: