(Nota da Maria: eu cá tenho boas recordações de um destes...)
Há vinte anos que não compro um carro novo; podia ser por falta de dinheiro mas, felizmente e por enquanto, no meu caso, não é! Chateia-me – para não empregar uma palavra menos convencional – pagar uma pipa de massa por um popó novinho em folha e levar com uma desvalorização de quase um vinte e cinco por cento assim que me apanham do lado de fora do stand.
O meu popó, um descapotável, vai fazer, no mês que vem, onze anos de vida, oito dos quais guiados pelas minhas extraordinárias mãos. A sua compra foi a realização dum dos meus sonhos, um carro que eu há muitos anos cobiçava, uma máquina que, se conseguir, vou guardar até esticar o pernil, coisa que deve acontecer lá para o final do século – deste século, entenda-se!
Outra razão importante para eu fazer um manguito à compra dum bólide em primeira mão tem a ver com o fisco, aquela rapaziada não aceita que, acima dum determinado valor, eu possa deduzir os encargos com a coisa e, ainda por cima, aplica-me uma taxa adicional sobre a gasosa, os sapatos com que o calço e sobre o que gasto em mais alguns mimos que, de quando em vez, sou obrigado a dar-lhe.
Felizmente nem toda a gente pensa como eu senão a crise do sector automóvel estaria muito pior do que está, se é que, para além das oficinas de reparações e de meia dúzia de fabricantes de peças, ainda restasse alguma coisa digna de se ver.
A Assembleia da Republica, num gesto patriótico e demonstrativo do nojo que tem à crise que afecta dois milhões de portugueses – vinte por cento! – que vivem na pobreza, deu uma ajuda significativa ao comprar 14 popós novos, todos eles da marca BMW, um custo total aproximado de um milhão de euros.
Como não podia deixar de ser, para o senhor presidente da Assembleia, foi-se buscar o topo de gama, um modelo da série 7 ao qual se juntou mais um veiculo, da série cinco, uma coisita mais modesta para quando o senhor presidente precisar de se deslocar e o carrão estiver a lavar a tripa ou outra a tratar de outra doença do género
Da dúzia restante, a maioria modelos da série 5, foi repartida por três dos quatro senhores vice-presidentes da casa da democracia (o representante do CDS diz que continua a andar num chaço que é muito mais velho que o meu e, se ele o disse para a televisão é porque deve ser verdade), por uma secretaria e até por um antigo presidente que, como é bom-tom e socialmente justo, mantém esta (e sabe-se lá que outras) regalia.
Segundo um porta-voz daquela casa, optou-se pela compra destes carros agora porque se gastaram, só nos últimos dois anos, duzentos mil euros com a manutenção dos carros antigos que estes vieram substituir. Como dizia o outro, é só fazer as contas: duzentos mil euros a dividirem por catorze carros em vinte e quatro meses dá…quinhentos e noventa e cinco euros por carro e por mês de despesas em oficinas. Acreditamos, ou fazemos de conta que sim só para eles não ficarem magoados e tristes “cá ca gente”?
Não sei porquê, lembrei-me dos suspiros de alivio do professor Costa, um antigo presidente da autarquia onde nasceu o “botas”, quando a presença em actos oficiais na capital não implicava mais nenhum encargo adicional ao seu bolso para além do preço do bilhete da camioneta e da estadia na pensão…
O meu popó, um descapotável, vai fazer, no mês que vem, onze anos de vida, oito dos quais guiados pelas minhas extraordinárias mãos. A sua compra foi a realização dum dos meus sonhos, um carro que eu há muitos anos cobiçava, uma máquina que, se conseguir, vou guardar até esticar o pernil, coisa que deve acontecer lá para o final do século – deste século, entenda-se!
Outra razão importante para eu fazer um manguito à compra dum bólide em primeira mão tem a ver com o fisco, aquela rapaziada não aceita que, acima dum determinado valor, eu possa deduzir os encargos com a coisa e, ainda por cima, aplica-me uma taxa adicional sobre a gasosa, os sapatos com que o calço e sobre o que gasto em mais alguns mimos que, de quando em vez, sou obrigado a dar-lhe.
Felizmente nem toda a gente pensa como eu senão a crise do sector automóvel estaria muito pior do que está, se é que, para além das oficinas de reparações e de meia dúzia de fabricantes de peças, ainda restasse alguma coisa digna de se ver.
A Assembleia da Republica, num gesto patriótico e demonstrativo do nojo que tem à crise que afecta dois milhões de portugueses – vinte por cento! – que vivem na pobreza, deu uma ajuda significativa ao comprar 14 popós novos, todos eles da marca BMW, um custo total aproximado de um milhão de euros.
Como não podia deixar de ser, para o senhor presidente da Assembleia, foi-se buscar o topo de gama, um modelo da série 7 ao qual se juntou mais um veiculo, da série cinco, uma coisita mais modesta para quando o senhor presidente precisar de se deslocar e o carrão estiver a lavar a tripa ou outra a tratar de outra doença do género
Da dúzia restante, a maioria modelos da série 5, foi repartida por três dos quatro senhores vice-presidentes da casa da democracia (o representante do CDS diz que continua a andar num chaço que é muito mais velho que o meu e, se ele o disse para a televisão é porque deve ser verdade), por uma secretaria e até por um antigo presidente que, como é bom-tom e socialmente justo, mantém esta (e sabe-se lá que outras) regalia.
Segundo um porta-voz daquela casa, optou-se pela compra destes carros agora porque se gastaram, só nos últimos dois anos, duzentos mil euros com a manutenção dos carros antigos que estes vieram substituir. Como dizia o outro, é só fazer as contas: duzentos mil euros a dividirem por catorze carros em vinte e quatro meses dá…quinhentos e noventa e cinco euros por carro e por mês de despesas em oficinas. Acreditamos, ou fazemos de conta que sim só para eles não ficarem magoados e tristes “cá ca gente”?
Não sei porquê, lembrei-me dos suspiros de alivio do professor Costa, um antigo presidente da autarquia onde nasceu o “botas”, quando a presença em actos oficiais na capital não implicava mais nenhum encargo adicional ao seu bolso para além do preço do bilhete da camioneta e da estadia na pensão…
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