Saturday, April 25, 2009

Gentilezas







O Manuel, que é fino também de nome, é um dos artistas portugueses que, ao longo dos anos, foi pedindo e obtendo milhões de euros de empréstimo do nosso banco do banco do regime, a Caixa Geral de Depósitos CGD), para ir à feira à bolsa comprar acções, mas comprar como deve ser, em quantidade suficiente para mandar bitaites na gestão de certas empresas, como a Soares da Costa, o BCP e a Cimpor, entre outras.

Nestes casos, enquanto dura o bem-bom é tudo um mar de rosas mas quando vem a tempestade, quando o valor das acções começa a descer sem parar, quanto mais gente houver a vender mais o preço baixa e estes tubarões – os que emprestam e os que pedem emprestado – têm que se aguentar à bronca, ficam amarrados ao prejuízo e a tentar manter o nariz de fora da água à espera que a maré vire outra vez (supondo que vira mesmo).

A CGD e o Manuel, que é fino também de nome, com água pelo nariz por causa da desvalorização das acções que garantiam os empréstimos, chegaram a acordo para a renegociação da divida; parte será reembolsando em sete anos e parte liquidada de imediato – 300 milhões – através dum contrato de compra e venda de dez por cento de acções da Cimpor.
O interessante é o preço negociado – 4,75 euros por cada acção – ou seja 25% acima do valor que elas valiam no mercado.
Uma prenda de sessenta e poucos milhões de euros!
Trocados por bejecas, esta modesta mas merecida prenda, matava-me a sede a mim, aos meus amigos mais próximos e a todos os meus descendentes até o homem pôr a pata em solo marciano ou o Benfica ganhar dois campeonatos seguidos.

Além da prenda, o Manuel, que também é fino de nome, pode, nos próximos três anos, optar por recomprar o lote de acções ou, melhor ainda, escolher quem é que terá direito a ficar com ele, se a prima direita ou aquela empregada estrangeira que lhe dá massajens.

Bem vistas as coisas – não duvido – esta é o tipo de benesse em tudo idêntica à que qualquer um de nós, precisando, obteria do mesmo banco. Nas calmas!

Para a enrascada em que se meteu o banco público cheira-me que o Manuel, que é fino também de nome, não está só; pelas muitas noticias publicadas durante os últimos anos, muitos mais milhões de euros foram emprestados a outras importantes figuras para reforço de posições no BCP numa altura em que as acções deste banco valiam quase seis vezes mais do que valem hoje, a saber, ao camarada Berardo, a Pedro Teixeira Duarte, à família Moniz da Maia, entre outros nomes dum grupo de vinte e tal amigos. Curiosamente, no grupo, estão os primeiros a apoiar a ida do antigo presidente da CGD para a presidência do BCP.

Quando o Ministério Público tiver decidido de vez o que fazer em relação a umas gajas nuas que desfiguravam um pobre dum computador Magalhães no corso de carnaval de Torres Vedras, talvez possam dedicar algum do seu tempo a coisas mais banais e mais ligeiras como esta curiosa negociata entre o Manuel, que é fino também de nome, e a CGD, o banco que-é-do-estado-e-que-Deus-nos-livre-de-ir-parar-às-mãos-dos-privados.

No comments: