Por causa da nota final atribuída às contas da nossa república, uma nota final que é pior do que a conseguida num exame anterior, não só vamos pagar mais caro pelo dinheiro que já devemos e pelo que ainda teremos de pedir emprestado, como também vamos ter mais dificuldade em encontrar caramelos lá fora dispostos a emprestar-nos o guito, mesmo que a gente se atravesse com o nosso aval colectivo, o famoso aval do estado.
Como o examinador que nos deu a dita (má) nota tem acertado tantas vezes quantas as vezes que acertam os árbitros que apitam os jogos do futebol da nossa liga principal, ainda há por aí gente que, optimista, desdenha e chuta para canto, os gajos estão outra vez enganados e a coisa não vai ser tão preta como a pintam. Pode ser que sim mas também pode ser que não!
Embora os nossos governantes tentem impingir-nos que tudo isto que nos está a acontecer é uma surpresa do caraças, eu, especialista encartado na arte da adivinhação politica e económica – entre outras aptidões igualmente notáveis e úteis – há muito tempo que andava a prever estas maleitas, graças ao estudo aprofundado que venho fazendo a um órgão do nosso primeiro-ministro.
Em abono da verdade devo reconhecer que nem sempre acerto, por acaso às vezes até erro, ainda recentemente falhei rotundamente na previsão da capacidade do novo messias americano em conseguir o milagre prometido da mudança do mundo logo após a sua tomada de posse (quando soube que teve de repetir a posse por se ter enganado na cerimónia oficial, ainda pensei “ah bom, o truque não funcionou à primeira, falta de prática, no problem, à segunda vai ser canja” mas não, já nem num messias se pode confiar.). Mas acredito que não vou errar na minha previsão de que ele e os seus discípulos vão nacionalizar os grandes bancos americanos e que os europeus seguirão o exemplo. Vai uma aposta?
O meu método, que patenteei em todo o mundo com o nome de “método nasal by joãozinho”, consiste no estudo dos movimentos dos narizes dos indivíduos alvo e a sua comparação com a minha base de dados.
Adquiri esta técnica a observar o meu próprio nariz, milhares de horas passadas em frente de espelhos reflectindo sobre muita coisa, a ver a reacção do dito, analisado na sua individualidade intrínseca, na sua personalidade própria ou no todo, no conjunto a que vulgarmente chamo face (ou tromba quando a véspera foi longa e bem regada).
Em pensamento, em surdina ou em voz alta, testei-me em múltiplos temas: a estética e a arte, a filosofia da religião, a metafísica e, evidentemente, o sexo e a filosofia política. Como, felizmente, esta minha protuberância tem um volume razoável, tive um grande e fantástico campo de acção, tornando-me no famoso especialista que, modéstia à parte, hoje sou.
Os movimentos nasais do engenheiro na cena do seu canudo e dos seus projectos, como caixeiro-viajante na promoção e venda do Magalhães e no actual episodio das aprovações confusas num empreendimento em Alcochete, não deixam margem para dúvidas e levam-me a concluir: tal como eu, o seu tio e o seu primo, o homem é um verdadeiro chico esperto!
Se um chico esperto já faz mossa, quatro então nem se fala. Mais tarde ou mais cedo, esta característica comum, despromove-nos, baixa-nos as notas. Para já, ainda é só o que nos baixa; no futuro logo veremos se nos baixa mais alguma coisa.
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