Monday, March 05, 2007

Muralha de aço




O ministro afirmou, com ar sério, que o Estado não tinha dado nenhumas instruções à CGD para que esta votasse contra a desblindagem dos estatutos da PT (Portugal Telecom). O André Agassi apesar de ser um dos melhores tenistas do mundo ainda não me conseguiu ganhar uma única partida. Eu também não estou a mentir!

A verdade do senhor ministro está escarrapachada no efusivo abraço entre o anónimo barbudo sindicalista e o magnata capitalista Joe Berardo, abraço amplamente difundido pelas televisões e que aconteceu antes da reunião da assembleia-geral da empresa de telecomunicações onde se discutia, na minha modestíssima opinião, muito mais do que o rumo da Opa feita pela família Azevedo (lembre-se que, há anos, o patriarca da família, o Eng.º Belmiro, porque os senhores deputados exigiam ouvi-lo sobre determinada matéria, os obrigou a levantar mais cedo e a abrir o tasco muito antes da hora habitual).

Aquele abraço ternurento explica muitas das razões para o nosso eterno atraso. Curioso como algumas das maiores fortunas deste país, donos de grandes empresas privadas, acabam por nos mostrar, em momentos decisivos, como afinal, ou lhes convém, ou então não conseguem mesmo viver/sobreviver sem a estado-dependência. O Joe, um conhecido especulador bolsista e hoje o mais mediático empresário do regime, concluiu há meses, um excelente negócio de arte com o poder central.

Ao senhor ministro, ao sindicalista e ao empresário capitalista falta juntar um senhor socialista bancário (ou um bancário socialista) e um senhor deputado do PSD para ficarmos com os ingredientes principais do cozinhado que, em lume brando, foi preparado e servido aos comensais.

Surpreendeu-me mais o senhor deputado! Eleito pelas listas de um partido que apregoa a defesa da iniciativa privada e a necessidade de reduzir o peso do estado na vida dos portugueses, quando chamado a comprovar na prática a sua ideologia, foi incapaz de fugir ao faz o que eu digo, não faças o que eu faço! Teve medo do mercado livre! Votou ao lado dos privilégios pela manutenção dos mesmos! Senhor deputado: qualquer pequeno accionista, que o senhor disse representar, que não quisesse vender, não vendia!

No fundo, estes artistas acagaçaram-se e recearam que, valendo cada acção um voto (assim como cada homem vale um voto nas eleições que elegeram o senhor deputado do PSD), as tetas da PT pudessem ser substancialmente reduzidas, contagiando as tetas das outras empresas privatizadas criando uma razia nos chupistas e enfraquecendo a capacidade de distribuição de tetinas para uma saudável manutenção do fluxo do liquido mordómico.

Ao senhor ministro, ao senhor sindicalista, ao senhor magnata capitalista do regime e ao senhor socialista bancário (ou bancário socialista) eu já topava de ginjeira; quanto ao senhor deputado do PSD, já andava desconfiado. Agora fiquei com a certeza!
Cá no burgo, ser liberal (no sentido europeu do termo) é obra! Estamos blindados! E mal pagos!

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