Thursday, October 11, 2007

Arrepios

(foto daqui )





Quando o calor vai de férias, aquecer os corpos que se passeiam noutras paragens, vem o estafermo do frio para tomar conta de nós, sempre à coca, a ver quando é que metemos o pezinho, descalço, numa poça de água gelada e, mal nos apanha de corpinho bem feito, acama-nos com uma bruta e estúpida gripe. Para o ajudar a torturar-nos vem, como dizem no


Porto, o bento (mas é aquele que assopra e não aquele que faz aquelas poucas vergonhas com a senhora marquesa) e enche o ar que respiramos com micróbios, qual deles o mais pestilento, resultando numa sinfonia de espirros que nunca mais acaba, coisa tão desprovida de graça como o primeiro episodio da segunda edição do programa dos gatos fedorentos que estreou ontem, domingo, no canal de televisão estatal e que eu e a minha gente, aguentámos até ao fim, sempre naquela vã esperança, esperança nem sei bem de quê.

Já há umas noites atrás, também naquela estação, um concurso do tipo festival da canção, mas para putos, me tinha mandado para a cama todo arrepiado e com uma dor de ouvidos levada da breca, uma vontade danada de experimentar saltar dum avião sem me preocupar em levar o pára-quedas ou até a vestir e fazer explodir um desses fatos de macaco que os islâmicos fascistas usam, convencidos de que é a maneira mais rápida de irem às meninas.
A ultima vez que eu me lembro de ouvir uma tão horrorosa chinfrineira e de ter tão inocentes pensamentos foi quando o meu filho mais velho, então com uma mão cheia de anos, tirou a chupeta da boca do mais novo e este, ainda incapaz de lhe ir ás trombas sem a minha ajuda, desatou num berreiro tal que acabou por rachar a parede da porta da entrada da minha casa, onde está, desde então, pendurado aquele que é o nosso maior quadro e também onde, durante o Inverno, mantemos as garrafas de vinho branco sempre geladinho.

Ainda pensei que os pais daquelas barulhentas criancinhas fossem como eu e que, quando confrontado com a óptica duma câmara de televisão a transmitir as minhas fuças em directo e em simultâneo com a actuação do meu desafinado petiz, meteria aquele meu ar aparvalhado e surpreso, género “que é que foi?, vire essa coisa para lá, eu?, ter alguma coisa a ver com aquilo?,


você é maluco ou faz-se?, porra, já viu como o puto canta mal como o raio, chiça penico, caramba pastel de coco!, coitados dos pais da criatura, bom, eu só vim ver a bola, agora tenho que me ir embora, em que rua é que fica o museu do ruído?”.

Juro, puto meu, naquela idade, enfiar-se numa situação daquelas, sem ter jeitinho nenhum para a poda, como castigo – Deus me livre, me perdoe e me poupe – não recebia a mesada até conseguir cantar tão bem como aquele senhor de bigode que, com o bacalhau, quer alho.
Mas não, não senhor! Aqueles paizinhos não só não invadiram o palco para cascar e calar os fedelhos como ainda por cima estavam felizes, contentes e saltitantes sempre que as câmaras os mostravam e os rotulavam como os progenitores, os tios, os primos, ou os avós daquelas pestes desafinadas e guinchadoras.

Se algum dia, por muito distante que ainda possa estar (e espero bem que sim), algum filho de um dos meus filhos me levar a comportamentos destes, desde já vos suplico: internem-me!

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