Monday, April 27, 2009

Liberdades


Ilustração de John Dyson daqui

Gastei uma pequena fortuna numas sapatilhas xis-pê-tê-ó e agora ando todo torto; eu não devia escrever “sapatilhas” porque os idiotas dos meus filhos, de cada vez que digo “sapatilhas” reviram os olhos, ficam com aquela cara de enjoados que fazem quando a Maria lhes arrefinfa com peixe cozido no prato e tratam-me como se eu os obrigasse a partilhar o quarto com um extraterrestre. Para eles, uma sapatilha é aquela espécie de sapato que um bacano usa, sem meias, no ginásio da escola. Tudo o resto é um “ténis”.
Bom, dizia eu que, por causa do formato das sapatilhas, a unha do dedo grande do meu pé esquerdo está muito parecida a governação cá no burgo e com o nosso primeiro em especial: uma nódoa negra e em riscos de cair!

Ainda por cima, resolvi, por estes dias, vir de férias para o Algarve, bronzear a pernoca, e é uma vergonha andar de xanatos na praia com o dedão à mostra, parece-me que toda a gente olha exactamente para lá, o único sitio do meu esbelto corpo que devia estar, em obras de restauro, escondido atrás dum taipal bem opaco.
Como é que toda esta a gente, portugueses e estrangeiros, que se cruza comigo na praia tem conhecimento desta nódoa é para mim um mistério; a nódoa está em segredo de justiça, este nosso país está mesmo nas lonas, tudo se sabe..
Às tantas foi o telejornal da Manuela Moura Guedes que espalhou a notícia, a moça, com aquela boca enorme, tipo reforma de muitos jovens políticos, não sabe ouvir e calar como a maioria dos seus colegas da estação pública.

Ainda se ela só desvendasse segredos sobre a nódoa negra do meu dedo do pé, vá que não vá; agora, andar, todas as sextas-feiras, a noticiar coisas sobre o Zézito e algumas práticas de companheiros seus, isso é que é inadmissível e está mesmo a precisar de levar com um processo em cima para ver como é que elas lhe doem.

Em matéria de processos, o Zézito anda cá numa roda viva, numa azáfama tal que temo pela sua saúde, tanta excitação ainda acaba por lhe provocar um desarranjo nalgum órgão vital, logo agora que a crise fez como a Toyota, veio para ficar e ficou mesmo e esta coisa de passar o tempo e ler os jornais e a ver as televisões é capaz de interferir, negativamente, com o trabalho do homem.
Consta que na 11ª Vara – 3.ª Secção deu entrada a Acção de Processo Ordinário 783/09.2TVLSB, no valor de EUR 250,000 cujo autor é José Sócrates Carvalho Pinho de Sousa e tendo por réus o jornal Púbico, o seu director José Manuel Fernandes e ainda Paulo Ferreira e Cristina Ferreira. Repito: consta, não estou a afirmar que seja verdade!

Além dos processos aos marmanjos que referi lá em cima, o primeiro-ministro, alegadamente, também processou criminalmente João Miguel Tavares, um cronista que escreve no DN, para quem ver a pornográfica Cicciolina defender a monogamia teria tanta credibilidade como ver o senhor José Sócrates a apelar à moral na política portuguesa.
Na sua prosa, o cronista relembrou as declarações do primeiro-ministro, durante o congresso albanês do partido socialista, contra alguns directores de jornais e de televisão, lembrando que “quem escolhe é o povo porque em democracia é o povo que mais ordena”, uma versão revista e actualizada da tese defendida, com muito sucesso diga-se de passagem, pela Fatinha de Felgueiras e pelo major Valentim de Gondomar.
Bem, com tanta conversa dei uma topada, vou ter que recorrer a um especialista. Vou ali e venho já!

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