Saturday, April 25, 2009

Viganças




Ahhh que maravilha! O Sócrates foi para Cabo Verde e eles vieram para aqui!
Eles, são os dias quentinhos, dias que, para minha alegria, regressaram ao fim de ausência prolongada; graças a eles, estou quase a mandar de férias a máquina do aquecimento, uma das várias máquinas com quem mantenho uma complicada relação de amor e ódio, a malvada reconforta-me o esqueleto e arrefece-me a carteira a um nível que me põe doente.

Passam os anos e eu também me vou passando, dá a impressão que a minha pele está a ficar mais fina e menos resistente ao frio, não sei se isto é de série, quer dizer, se isto também acontece com vocês ou se, pelo contrário, é mais um defeito de fabrico de que eu devia reclamar, por escrito, aos progenitores.

Esta maior vulnerabilidade ao frio provoca também uma maior deterioração na saúde da minha carteira já que, para me manter relativamente menos enregelado, recorro cada vez mais ao gás natural, produto que é, em Portugal e só por acaso, mais um dos muitos que atiram para o carote. Com o preço a que ele está, qualquer aumento da temperatura é muito bem-vindo e é menos uma ralação para a carteira, a infeliz precisa de descanso, o que lhe fazia bem era ir para termas, seis anitos de cura a convite dum generoso vencedor do euromilhões.

Para poupar na factura, eu podia muito bem vestir para aí umas quatro camisolas mais aquelas ceroulas com ursinhos cor-de-rosa bebé que comprei há trinta anos quando tive aquele febrão e me quis mascarar de comuna, mas isso depois ia dar-me uma trabalheira do caraças a despir e arrepio-me só de imaginar todos aqueles minutos com partes do corpo ao léu antes de me poder enfiar no quentinho dos lençóis.

Para complicar ainda mais a coisa, os filhos da Maria são uns desleixados de todo o tamanho; aqueles energúmenos têm, entre outras coisas, o termóstato cerebral avariado, fazem tudo ao contrário do que deviam, quando estão presentes de corpo raramente têm os aquecedores ligados mas quando estão fora de casa, no laró, e calha eu passar lá pelos seus aposentos, sobe-me logo a tensão porque, invariavelmente, não está nada desligado. É mundialmente sabido que os aquecedores têm muito medo do escuro de modos que eles também deixam as luzes acesas – são duma atenção que me comovem quase até às lágrimas!

O conceito de ser avô, além de tonturas, boca seca e urticária, causa-me o mesmo tipo de entusiasmo e alegria fúnebre que tenho quando os lagartos ou os lampiões estão à frente do meu fcp na tabela classificativa; mas são tantos os desleixos daqueles dois idiotas que eu já dou por mim a pensar no gozo que me dava ver a Maria ser avó de trigémeos (ou mais…) para os gajos verem como é que elas doem. Como dizia a minha Avó materna: julgam que berimbau é gaita mas ele é um instrumento real.

Agora que penso nisto, às tantas é mesmo por vingança que os avós mimam e estragam os netos, como quem dá um recado aos filhos: tomem e embrulhem! Cá se fazem cá se pagam! Antes que me esqueça, um recado para os gajos: malta, bom dia do Pai para vocês!

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