Friday, June 27, 2008

Delírios

AO (Antes de Obama)

DO (Depois de Obama)




Depois duma boa refeição, especialmente depois dum bom jantar, neste caso dum muito bem regado bacalhau com grão, mais ou menos como a condessa do “ó Ambrósio, pá, quero algo!”, apetece-me, muitas vezes, uma dose ou duas de serviço público de televisão, é o tipo de digestivo que normalmente estimula a minha digestão e o soporífero ideal para tomar quando o álcool anda à solta por tudo quanto é veia e artéria deste meu corpo de adolescente, precocemente envelhecido.

Foi este vício, atiçado pelo Meio Queijo e pelo destino, que me deu o privilégio de assistir a parte do novo programa do vosso muito querido e excelentíssimo senhor doutor Mário Soares, um programa cor-de-rosa, em que ele, de converseta com uns quantos convidados, percorre o roteiro dos paraísos socialistas que ainda existem no mundo e descreve os perigos que os seus corajosos príncipes encantados têm que enfrentar para os governarem em paz e sossego, mas com muitas propriedades.
O grande democrata eleito para a primeira converseta foi o camarada Hugo – el presidente ou simplesmente usted como o vosso querido ex-governante o tratou – o príncipe encantado da Venezuela, aquele que fala pelos cotovelos, grande amigo do nosso primeiro, “mi casa es su casa” dizia-lhe o nosso Zé há meses, o pintas sul-americano lá foi vendendo o seu peixe perante o olhar nostalgicamente embevecido do seu fã e interlocutor.

Não sei porquê, talvez por causa do tinto, mantive-me insensível, sem me impressionar nem convencer, para mim aquele peixe está impróprio para consumo e fora de prazo mas enfim, gostos não se discutem, cada um tem todo o direito a promover o que muito bem lhe apetece, só é chato que o faça usando dinheiro que não é, nem dele nem da sua fundação.
Como é para vender ilusões e sonhos esquerdistas a malta encolhe os ombros, pronto está bem, deixem lá os homens usarem a massa de todos nós para fazerem propaganda à vontade, ainda por cima aproveita-se e dá-se mais umas quantas traulitadas no Bush, aquele grande burro que é o causador de todos os males que assolam o nosso mundo, desde a eliminação da nossa selecção até ao escaravelho da batata.

Com a badalada, desejada e mais que anunciada vitória em Novembro próximo do candidato Barraca Hussein Abana, estes vendedores de ilusões vão ficar de ressaca, como eu próprio ficaria se me tirassem a minha dose de serviço público de televisão – vade retro Satanás! Temo até pela saúde deles, especialmente a dos simpáticos e bonacheirões esquerdistas europeus, não sei mesmo se aguentarão tantas e tão drásticas mudanças, eles que adoram o remanso das águas paradas.

Como toda a gente de bem sabe, com a vitória do dito Messias, os pais deixam de bater nos filhos e vice-versa, a poluição emigra, o clima reentra nos eixos, as estações do ano começam nas mesmas datas de antigamente, chove e neva só quando deve e é preciso, furacões e tornados ainda sopram forte mas sem provocar estragos, pregam uns sustos “buh!” e depois vão-se embora, o capitalismo selvagem é, finalmente, domesticado e adopta trejeitos amaricados, os especuladores ficam de tanga e vivem em barracas minúsculas e sem esgotos, os podres de rico distribuem as suas fortunas pelos mais desfavorecidos (só os de direita, os podres de ricos de esquerda mantêm-nas intactas porque – é sabido – sempre souberam usar o seu bago como deve de ser, em benefícios para o povo), o petróleo vai jorrar de tudo quanto é sitio (menos do Beato que continuará amaldiçoado), as gorjetas e as esmolas são garrafões de cinco litros de gasolina ou gasóleo, das máquinas das empresas de armamento americanas (só destas!) brotarão cereais e gomas em vez de armas e de balas, a fome e a miséria tornam-se peças de museu, a Fundação Mário Soares entrega à casa do Gaiato o equivalente aos subsídios recebidos do estado, o sexto e o sétimo classificados da nossa liga têm acesso directo à liga dos campeões trazendo o Sporting e o Benfica, de novo, para a ribalta e eu, apesar de nunca jogar, ganho o maior jackpot de sempre do euromilhões, afogando-me em dinheiro precisamente na altura em que os impostos acabam em Portugal!
Vai ser porreiro, não vai pá?


1 comment:

Igor said...

Gostar muito suas escritos. Ter muita ironia. Parabéns