Friday, June 27, 2008

Fobias




Desta vez, como tinha o depósito cheio, não fui dos que foram apanhados com as calças na mão mas, mesmo assim e apesar do calor, tenho ido a pé desde a minha casa até à estação dos correios, cento e cinquenta metros de rua plana e bem asfaltada, no centro de Caxias, a metrópole onde vivo. Poupo na gasosa, poupo nos amortecedores, nos travões e nos pneus do carro mas desgasto as minhas ancas, os joelhos e os tornozelos e gasto um pouco mais a sola dos meus sapatos; é chato, mas o que é que se há-de fazer, a não ser grandes sacrifícios, para ver se desbaratamos um pouco menos do nosso dinheiro na porcaria do exagero que são os impostos cá do burgo, heim?

Há dias foi feriado na capital, foi no dia de Santo António, o santo casamenteiro, dia em que, para quem não gosta da poluição dos fumos dos cozinhados e do cheirinho a sardinha assada, deve ser uma grande seca ter que andar lá a passear, no meio daquela populaça, aquilo pode ser tudo menos uma coisa porreira pá.

São quinze quilómetros da minha casa até ao coração da cidade, mais um até ao largo das Pichas Murchas em Alfama, lugar de que já vos falei e que, nesse dia feriado, uma sexta-feira 13, assentaria que nem ginjas aos governantes que não deixaram os seus povos pronunciar-se em referendo sobre umas matérias complicadas demais para uma cambada de analfabrutos encartados. Como os irlandeses, os únicos que tiveram voto na matéria, lhes fizeram um grande manguito, eles, que antes andavam tesos e emproados, agora andam em treinos, a fazer alongamentos, prática que dá jeito para evitar as dores quando se dão muitas cambalhotas (não sei bem porquê, estou farto de ler e reler este bocadito do texto e esta sensação de que, de alguma maneira, vou acabar por ser acusado de estar a cometer algum tipo de pecado não me larga. Que chatice!).

Ir àquela zona de Lisboa comer uma sardinhada é um dos rituais que, anualmente, eu gosto de cumprir e que, Deus querendo, para a semana espero concretizar.
Estou indeciso entre ir de popó ou de transportes públicos, entre ir de comboio até ao Cais do Sodré e, depois, optar por uma das duas soluções possíveis para chegar a Santa Apolónia, a pé ou de autocarro. A pé…hum…não me parece, é longe como o raio, o mais certo é ir de autocarro.

Também podia fazer esse percurso de metro mas, a mim, só se eu estiver distraído...não, não, não é bem assim, só se eu estiver perdido de bêbado e muiiiiiiiiiiiiiiito distraído é que me apanham a andar debaixo da terra, enfiado numa caixa metálica, entalado entre duas paredes escuras, de tectos baixos e demasiado juntas para o meu gosto.

Uma vez em Londres – só conto isto para dizer que viajo de quando em vez – dei por mim, descidos que foram quinhentos degraus, encafuado numa carruagem que, no seu ponto mais alto, não tinha a minha altura e que, na sua parte mais larga, não dava para eu esbracejar com os braços e os dedos esticadinhos. Escusado será dizer que fiz o que o diabo faz quando vê uma cruz, pirei-me como um foguete logo na primeira estação onde aquilo parou e, até hoje, felizmente, ainda não fui obrigado a testar aquela que é uma das minhas fobias mais chatas, comparável à fobia dos governantes europeus aos referendos sobre o tratado-que-já-foi-porreiro-pá-mas-que-agora-parece-que-já-não-é.

Não é preciso exagerar, eu não tenho assim tantas fobias; tenho algumas, é verdade, de certeza que vocês também têm, deixem-se de tretas, não pensem que me enganam, para aí armados em fortes!
Mas esta é a mãe de todas elas, depois desta e da fobia que tenho ao pagamento de impostos exagerados, só as favas é que conseguem assustar-me tanto; mas isso fica para outra vez, por hoje a minha terapia chegou ao fim. Até para a semana.

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