Wednesday, August 13, 2008

Lata



E pronto, acabou-se o que era doce, as duas semaninhas de papo para o ar já lá vão, por acaso na ultima até nem consegui descansar, vim completamente estoirado, fui fisicamente abusado por águas mediterrânicas a vinte e oito graus de temperatura, forçado a banhos com duração interminável, enfim, estou pronto para descansar no escritório, alapado à secretária, a fazer de conta que estou a trabalhar, sempre atento às investidas do patrão, o gajo é malandro que se farta e aparece, sorrateiro, quando menos espero e, no meu estado actual, com o meu tempo de reacção igual ao de um caracol enfrascado com valiums, é despedimento pela certa.

Na primeira semana, para me lavar em água gelada, paguei cada litro de gasolina a um euro e cinquenta e três cêntimos por litro e, na segunda semana, logo depois de ter atravessado a linha imaginária que separa o nosso país da Espanha, à laia de comité de recepção, fui castigado com um desconto de trinta e um cêntimos por litro, cada litro de gasosa de 95 octanas vendido a um euro e vinte e dois cêntimos, cada maço de Marlboro normal trinta cêntimos mais barato, centenas de quilómetros em auto-estradas sem portagem, Iva mais baixo, etc. Trauma atrás de trauma!

Ainda bem que o conde D. Henrique conseguiu estoirar com o cinto de castidade da senhora D.ª Teresa de Leão, acto que, por não ter sido efectuado com as devidas precauções, acabou por gerar o nosso primeiro rei, jovem belicoso e mal criado que, ingrato, respondeu à estalada à senhora sua mãe, tendo o seu mau feitio levado à independência deste rectângulo à beira-mar despejado. Tivesse o conde falhado a pontaria naquela noite fatídica e, sabe-se lá, se não estaríamos nós agora obrigados aos mesmos traumas com que os desgraçados dos espanhóis têm de conviver.

Sem contar com o frete que deve ser ter as contas publicas equilibradas e uma economia que fugiu da nossa a sete pés, ter que andar a celebrar a vitória num campeonato da Europa em futebol, a celebrar vitórias nas maiores provas mundiais de ciclismo, do desporto automóvel, do ténis, eu sei lá mais o quê. Desconheço que defeito de fabrico é que os tipos têm, que raio de cromossoma é que lhes falta, que justifique a existência de tantas e tão grandes diferenças.

Há, pelo menos, uma coisa em que eles não nos batem; refiro-me – claro! – à lata! À lata meus senhores, à lata! Os espanhóis ganham-nos por KO técnico em tudo o que lá em cima escrevi, mas na lata, sim, na lata, aí, ainda têm que comer muito pão para cheirarem os nossos calcanhares!

Sim, é preciso muita lata, montes de lata, um descaramento do caraças, do governo e dos jornalistas para, através das televisões, das rádios e dos jornais, numa orgia publicitária, venderem como um “projecto português produzido em Portugal” ou como um “produto desenvolvido por empresas nacionais e pela Intel” ou ainda “o primeiro computador portátil com acesso à Internet montado em Portugal”, a assinatura, entre o nosso governo e a Intel, do contrato para a montagem, cá no burgo, de quinhentas mil unidades do Magalhães.

O Magalhães é, tão só, a versão actualizada (de resto já divulgada em Abril numa feira na China) dum computador portátil de baixo custo, lançado em 2006 pela Intel, com o nome de “Classmate” e destinado a clientes do terceiro mundo; o portátil da Intel, cujo nome varia em função do país com quem a Intel também tem contratos assinados (incluindo países da UE), pode ser muita coisa mas, além da fábrica onde vai ser montado e de um par de programas de software, tem tanto de português como eu devo ter de chinês.

Talvez que, algum dos cromossomas dos desgraçados dos nossos vizinhos espanhóis, venha sem os genes saloius bacôcus. Nós temos em excesso, podemos exportar à vontade mas, será que eles comprarão?

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