Monday, December 01, 2008

Critérios

(foto daqui)


Escrevo depois de ter tomado o meu pequeno-almoço, um copo de sumo de laranja natural, duas canecas de chá preto e quente com uma pitadinha de leite frio (influências da ascendência aristocrática da Maria) e cento e vinte e oito gramas de manteiga que, à rasquinha, embrulharam os dois brutos e únicos croissants que ainda havia na padaria. É uma chatice esta coisa de ter que me levantar cedo aos sábados para os conseguir arranjar; se não chego cedo, se não chego pelo menos antes das onze e vinte da madrugada, é certo e sabido que já não apanho nenhum.
Quem me conhece deve estar a admirado: cento e vinte e oito gramas de manteiga? Pois é, é verdade! Eu sei, é triste mas é verdade!
Por causa do ácido não-sei-dos-quantos tive que reduzir, drasticamente, o consumo desta delícia e longe vão os bons tempos em que eu mamava trezentos e vinte e dois gramas por pequeno-almoço! Mais grama menos grama, a coisa rondava aí o meio quilo por fim-de-semana. Como muitos de vocês devem estar carecas de saber, a idade não perdoa e a gente tem que se adaptar às ineficiências do organismo, aos vícios que os estafermos dos órgãos e dos ossos ganham com o passar das velas e dos bolos de aniversário.
Agora, de cada vez que vou buscar as análises que me obrigam a fazer – para aí três exames por década – por causa deste maldito ácido que me impede de alambazar naquele maravilhoso derivado do leite, fico numa excitação tal para saber os resultados que mais pareço um professor de matemática quântica a ser avaliado pelo seu colega, o setor de musica.
Será que passei? Ou será que chumbei? No meu caso, ficar abaixo de sete é um feito notável, um alívio do caneco, um resultado digno duma comemoração à maneira, dúzias de bifinhos e de papos-secos bem encharcados no molho daquela especialidade da vóvó Jújú (pronto, já babei a porcaria do teclado! …).
Se a excitação de levar com um sete me põe tão contente como se tivesse ganho o primeiro prémio do sorteio de Natal do café da estação – um Magalhães – o mesmo, provavelmente, não se aplicará na avaliação do tal professor; aí, imagino, qualquer resultado abaixo de dez significará que ou o colega avaliador lhe está a mesmo a dar música e ficar ele com uma nota melhor ou que, no mínimo, o gajo não percebeu a ponta dum dito do que é a matemática quântica.
Se eu celebro os meus sete valores com batatas fritas e bifes, já os professores em situação semelhante talvez sejam obrigados a ficar-se pelos ovos, não a cavalo como eles tão bem sabem, mas crus e peganhentos. As inúmeras sessões de treinos que, por esse país fora, a garotada está a realizar no arremesso desses produtos oriundos dos cus das galinhas não são um bom prenúncio.
Confesso que sinto pena dos desgraçados dos professores que são obrigados a aturar as hordas de bárbaros imberbes que as televisões nos mostram; arrepia-me vê-los aos saltinhos e a gritar palavras de ordem como “os putos unidos nunca mais serão não-sei-o-quê”. Não tarda, vou vê-los a desfilar de boina e com uma t-shirt do Che e, aos berros, a entoar aquela da gaivota que voava, voava, voava e que – filha da mãe! – não se cansava. Agora vão desculpar-me mas vou deixar-vos. A ministra da educação está fora, as escolas estão fechadas e as ruas, a esta hora da matina, estão livres de cromos, o sol brilha, o dia está um espectáculo e eu vou aproveitar para pôr um pouco de bronzeado na tromba; vou pegar na Maria – não literalmente porque as cruzes já não me deixam fazer de burro de carga – e vou dar uma volta pela marginal e apreciar o mar (é claro, se o messias Barraca Hussein Abana não tivesse ganho, todas estas coisas boas não seriam possíveis, não senhor, hoje trovejaria e choveria a potes. Ámen! …

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