Monday, December 01, 2008

Engenharias


O doutor Vítor Constâncio, que além de ser um socialista empenhado, acumula, desde a pré-história, com o cargo de governador do banco de Portugal, anda furibundo, pior do que uma barata por causa do atrevimento de alguns dos deputados da nação que, imagine-se, ousaram acusá-lo de ter sido, não uma mas por duas vezes, incompetente e desleixado nas suas funções de fiscal.
O homem, cujo salário, segundo consta, anda na casa dos dezassete mil euros por mês (corresponde a mais de 40 meses de salários mínimos…), empertigou-se, disse que parecia impossível acusarem-no e andarem a linchá-lo na praça pública por coisas de que ele não pode ser responsabilizado, essa agora, uma acusação destas nunca se viu, jamais em tempo algum em nenhum outro país do mundo civilizado e que a sua reputação está a ser injustamente prejudicada. Em português simples, está a ver se sacode a água do capote.

Como o canal de televisão de propaganda do governo está lá para fazer fretes e favores, este empenhado socialista foi, há dias, convidado para uma entrevista onde confessou as suas angustias e desvendou que o choradinho de setecentos e tal milhões de euros feito pelo BPP (banco privado português) não só não ia fazer chorar as pedras da calçada como também não iria ter a sua socialista aprovação; quanto muito, visto tratar-se duma banqueta e não dum banco com peso relevante no financiamento da economia nacional, poderia candidatar-se a uma verba correspondente ao seu verdadeiro peso na nossa economia, uma bagatela de quarenta e cinco milhões de “aéreos”.

Este tal de BPP, banco privadíssimo, criado com a massa de empresários do regime e os do costume, publicita, na página de internet, que “a sua missão primordial consiste na preservação e valorização do património dos clientes, através da implementação de estratégias de alocação de activos adaptados às expectativas de rendibilidade e ao perfil de investimento evidenciados”.
O notável sucesso no cumprimento desta missão – a preservação e valorização do património dos clientes – levou João Rendeiro, o seu fundador e maior accionista (cuja carreira de sucesso é contada num livro, ironicamente, apresentado a semana passada), a pedinchar aquela brutalidade de milhões ao nosso banco central; a tal irrelevância no financiamento da economia nacional valeu-lhe o dito manguito.

A feliz conjugação de conversas com as pessoas certas, da reunião dos ditos empresários entalados e da generosidade do espírito natalício (ou da influencia dos entalados), qual conto da Cinderela, e eis uma banqueta sem relevância na nossa economia, transformada, num passe de magica, num banco de prestigio cuja falência – ai Jesus – arruinaria a imagem de Portugal.
Constâncio, depois de bem baralhadas as coisas, com base na penhora dos activos do BPP, vai, afinal, avalizar seiscentos milhões de euros que outros seis bancos nacionais vão adiantar para o BPP cumprir a sua missão: salvar o património dos clientes accionistas, entalando o tuga contribuinte!

Chamem-me burro, ignorante, chamem-me o que quiserem mas, por mais que me esforce, não consigo enfiar nesta minha mona, estúpida e casmurra, porque carga de água é que os tais seis bancos não dispensam, pura e simplesmente, o aval do nosso banco central e aceitam directamente os activos do BPP como garantia do tal empréstimo que lhe vão fazer. Se os activos do BPP são bons para o banco central para que raio é que eles precisam de ter o aval do estado?
Será por esses activos – tipo, acções de empresas como o BCP, a Brisa, etc. – aos preços de hoje, não valerem um chavo, a ponta dum dito? Será? É que eu também preciso de liquidez e tenho uns prejuízos potenciais em algumas acções que gostava de partilhar com o resto dos meus compatriotas (só os prejuízos; dos lucros, se e quando ou houver, eu encarrego-me sozinho, muito obrigado!).

Já agora, se não for pedir muito, será que sua senhoria, o governador do banco de Portugal, poderia dizer, aos paspalhos que o sustentam com os seus impostos, que valor acrescentado trouxe, ou traz, ao banco que dirige e que tenha uma relação directa com o salário que recebe?
Entretanto, hoje comemoramos a restauração da nossa independência! Boas celebrações.


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