Monday, June 30, 2008

Invejas

(foto daqui)

Grande baile de futebol espectáculo deram os nuestros hermanos à quadrada selecção alemã, uma faena com direito a ramalhete completo, música, orelhas, rabo e taça, na final do europeu de futebol, competição que, devido à minúscula dimensão e aos pindéricos recursos económicos dos organizadores, teve que ser repartido por dois países, pela Suiça e pela Áustria, grandes totós, uns pobretanas incapazes de se aguentarem à bronca com os desperdícios duma organização a solo como nós aguentamos desde há 4 anos.

Este método pindérico de repartir os custos com a organização de grandes eventos está na moda, constou-me que o próximo euro também vai ter esta saloiice, com a agravante das distâncias a percorrer pelas equipas que forem passando às fases seguintes serem ainda maiores, aumentando os custos com a deslocação das vedetas e das delegações, custos que serão pagos pelos bolsos dos eufóricos contribuintes candidatos a uma vitória na final.

Pensei que o método fosse original mas não é, ele é decalcado do modelo de governação da nossa Europa, mais concretamente do importante parlamento europeu, que funciona em duas salas, uma sala na capital belga e a outra, tipo anexo, a quatrocentos e poucos quilómetros de distância, em Estrasburgo, uma cidade francesa.

Uma vez por mês, os trezentos e setenta e tal euro deputados mais as suas respectivas e completas comitivas, arrumam a trouxa e zarpam do edifício de Bruxelas para o edifício de Estrasburgo, fazendo rigorosamente o mesmo trabalho nos dois locais, graças a uma birra dos franciús, na opinião de alguns conhecedores que acumulam malandrice e alcovitice.

A partir das 9:57 horas do dia 7 do próximo mês de Julho, dia da primeira viagem, estas alminhas vão deixar os anteriores meios de transporte e vão começar a fazer o trajecto – à segunda o da ida, à terça o da volta – num luxuoso comboio especial, umas quantas belas carruagens, cada uma destas viagens mensais a provocar um descarrilamento de cerca de duzentos mil euros nos impostos dos cidadãos, os tais que não têm conhecimentos suficientes para se pronunciarem sobre a constituição europeia o tratado de Lisboa mas cujos bolsos, quase tão vazios como as cabeças, estão ali a jeito, a pedir mãozinhas de mexer.

Para completa comodidade das senhoras e dos senhores passageiros, está anunciada uma carruagem com muitos bebes e variados snacks.

Você, miserável leitor destas linhas, se está a pensar ir, um dia, nem que seja só pela sensação e pelo gozo da coisa, botar o seu pezinho no brinquedo, pode tirar o cavalinho da chuva pois terá a mesma sorte que bom jogador na equipa do Benfica: não entra!

Fique aí quietinho, dê-se por muito feliz por não ser obrigado a ter aquela porcaria de vida, sempre às costas dos trouxas com as trouxas às costas! Você deve pensar que aquilo é um mar de rosas, não? Acha, não acha? Pois não é! Fique sabendo, seu…seu…seu…invejoso, fique sabendo que está redondamente enganado!

Segundo informações surripiadas aos meus vastos contactos nos meios da espionagem mundial, suas Senhorias e demais comitivas, sofrerão gravíssimos incómodos com esta luxuosa, mas imposta, mudança: terão que encurtar o fim-de-semana, retornar a Bruxelas ao domingo à noite em vez do salutar hábito de voltar na segunda de manhã, caso contrário arriscam-se a perder o pouca-terra-pouca-terra e – arrepiem-se! – com o horário da chegada a Estrasburgo, previsto para cerca da uma e meia da tarde, muitos poderão não ter tempo para um almoço a sério ou até para gozarem a habitual pausa, a que têm direito, nesse período!
Ainda lhe hão-de chamar o Guantanamo train!

Friday, June 27, 2008

Delírios

AO (Antes de Obama)

DO (Depois de Obama)




Depois duma boa refeição, especialmente depois dum bom jantar, neste caso dum muito bem regado bacalhau com grão, mais ou menos como a condessa do “ó Ambrósio, pá, quero algo!”, apetece-me, muitas vezes, uma dose ou duas de serviço público de televisão, é o tipo de digestivo que normalmente estimula a minha digestão e o soporífero ideal para tomar quando o álcool anda à solta por tudo quanto é veia e artéria deste meu corpo de adolescente, precocemente envelhecido.

Foi este vício, atiçado pelo Meio Queijo e pelo destino, que me deu o privilégio de assistir a parte do novo programa do vosso muito querido e excelentíssimo senhor doutor Mário Soares, um programa cor-de-rosa, em que ele, de converseta com uns quantos convidados, percorre o roteiro dos paraísos socialistas que ainda existem no mundo e descreve os perigos que os seus corajosos príncipes encantados têm que enfrentar para os governarem em paz e sossego, mas com muitas propriedades.
O grande democrata eleito para a primeira converseta foi o camarada Hugo – el presidente ou simplesmente usted como o vosso querido ex-governante o tratou – o príncipe encantado da Venezuela, aquele que fala pelos cotovelos, grande amigo do nosso primeiro, “mi casa es su casa” dizia-lhe o nosso Zé há meses, o pintas sul-americano lá foi vendendo o seu peixe perante o olhar nostalgicamente embevecido do seu fã e interlocutor.

Não sei porquê, talvez por causa do tinto, mantive-me insensível, sem me impressionar nem convencer, para mim aquele peixe está impróprio para consumo e fora de prazo mas enfim, gostos não se discutem, cada um tem todo o direito a promover o que muito bem lhe apetece, só é chato que o faça usando dinheiro que não é, nem dele nem da sua fundação.
Como é para vender ilusões e sonhos esquerdistas a malta encolhe os ombros, pronto está bem, deixem lá os homens usarem a massa de todos nós para fazerem propaganda à vontade, ainda por cima aproveita-se e dá-se mais umas quantas traulitadas no Bush, aquele grande burro que é o causador de todos os males que assolam o nosso mundo, desde a eliminação da nossa selecção até ao escaravelho da batata.

Com a badalada, desejada e mais que anunciada vitória em Novembro próximo do candidato Barraca Hussein Abana, estes vendedores de ilusões vão ficar de ressaca, como eu próprio ficaria se me tirassem a minha dose de serviço público de televisão – vade retro Satanás! Temo até pela saúde deles, especialmente a dos simpáticos e bonacheirões esquerdistas europeus, não sei mesmo se aguentarão tantas e tão drásticas mudanças, eles que adoram o remanso das águas paradas.

Como toda a gente de bem sabe, com a vitória do dito Messias, os pais deixam de bater nos filhos e vice-versa, a poluição emigra, o clima reentra nos eixos, as estações do ano começam nas mesmas datas de antigamente, chove e neva só quando deve e é preciso, furacões e tornados ainda sopram forte mas sem provocar estragos, pregam uns sustos “buh!” e depois vão-se embora, o capitalismo selvagem é, finalmente, domesticado e adopta trejeitos amaricados, os especuladores ficam de tanga e vivem em barracas minúsculas e sem esgotos, os podres de rico distribuem as suas fortunas pelos mais desfavorecidos (só os de direita, os podres de ricos de esquerda mantêm-nas intactas porque – é sabido – sempre souberam usar o seu bago como deve de ser, em benefícios para o povo), o petróleo vai jorrar de tudo quanto é sitio (menos do Beato que continuará amaldiçoado), as gorjetas e as esmolas são garrafões de cinco litros de gasolina ou gasóleo, das máquinas das empresas de armamento americanas (só destas!) brotarão cereais e gomas em vez de armas e de balas, a fome e a miséria tornam-se peças de museu, a Fundação Mário Soares entrega à casa do Gaiato o equivalente aos subsídios recebidos do estado, o sexto e o sétimo classificados da nossa liga têm acesso directo à liga dos campeões trazendo o Sporting e o Benfica, de novo, para a ribalta e eu, apesar de nunca jogar, ganho o maior jackpot de sempre do euromilhões, afogando-me em dinheiro precisamente na altura em que os impostos acabam em Portugal!
Vai ser porreiro, não vai pá?


Fobias




Desta vez, como tinha o depósito cheio, não fui dos que foram apanhados com as calças na mão mas, mesmo assim e apesar do calor, tenho ido a pé desde a minha casa até à estação dos correios, cento e cinquenta metros de rua plana e bem asfaltada, no centro de Caxias, a metrópole onde vivo. Poupo na gasosa, poupo nos amortecedores, nos travões e nos pneus do carro mas desgasto as minhas ancas, os joelhos e os tornozelos e gasto um pouco mais a sola dos meus sapatos; é chato, mas o que é que se há-de fazer, a não ser grandes sacrifícios, para ver se desbaratamos um pouco menos do nosso dinheiro na porcaria do exagero que são os impostos cá do burgo, heim?

Há dias foi feriado na capital, foi no dia de Santo António, o santo casamenteiro, dia em que, para quem não gosta da poluição dos fumos dos cozinhados e do cheirinho a sardinha assada, deve ser uma grande seca ter que andar lá a passear, no meio daquela populaça, aquilo pode ser tudo menos uma coisa porreira pá.

São quinze quilómetros da minha casa até ao coração da cidade, mais um até ao largo das Pichas Murchas em Alfama, lugar de que já vos falei e que, nesse dia feriado, uma sexta-feira 13, assentaria que nem ginjas aos governantes que não deixaram os seus povos pronunciar-se em referendo sobre umas matérias complicadas demais para uma cambada de analfabrutos encartados. Como os irlandeses, os únicos que tiveram voto na matéria, lhes fizeram um grande manguito, eles, que antes andavam tesos e emproados, agora andam em treinos, a fazer alongamentos, prática que dá jeito para evitar as dores quando se dão muitas cambalhotas (não sei bem porquê, estou farto de ler e reler este bocadito do texto e esta sensação de que, de alguma maneira, vou acabar por ser acusado de estar a cometer algum tipo de pecado não me larga. Que chatice!).

Ir àquela zona de Lisboa comer uma sardinhada é um dos rituais que, anualmente, eu gosto de cumprir e que, Deus querendo, para a semana espero concretizar.
Estou indeciso entre ir de popó ou de transportes públicos, entre ir de comboio até ao Cais do Sodré e, depois, optar por uma das duas soluções possíveis para chegar a Santa Apolónia, a pé ou de autocarro. A pé…hum…não me parece, é longe como o raio, o mais certo é ir de autocarro.

Também podia fazer esse percurso de metro mas, a mim, só se eu estiver distraído...não, não, não é bem assim, só se eu estiver perdido de bêbado e muiiiiiiiiiiiiiiito distraído é que me apanham a andar debaixo da terra, enfiado numa caixa metálica, entalado entre duas paredes escuras, de tectos baixos e demasiado juntas para o meu gosto.

Uma vez em Londres – só conto isto para dizer que viajo de quando em vez – dei por mim, descidos que foram quinhentos degraus, encafuado numa carruagem que, no seu ponto mais alto, não tinha a minha altura e que, na sua parte mais larga, não dava para eu esbracejar com os braços e os dedos esticadinhos. Escusado será dizer que fiz o que o diabo faz quando vê uma cruz, pirei-me como um foguete logo na primeira estação onde aquilo parou e, até hoje, felizmente, ainda não fui obrigado a testar aquela que é uma das minhas fobias mais chatas, comparável à fobia dos governantes europeus aos referendos sobre o tratado-que-já-foi-porreiro-pá-mas-que-agora-parece-que-já-não-é.

Não é preciso exagerar, eu não tenho assim tantas fobias; tenho algumas, é verdade, de certeza que vocês também têm, deixem-se de tretas, não pensem que me enganam, para aí armados em fortes!
Mas esta é a mãe de todas elas, depois desta e da fobia que tenho ao pagamento de impostos exagerados, só as favas é que conseguem assustar-me tanto; mas isso fica para outra vez, por hoje a minha terapia chegou ao fim. Até para a semana.

Monday, June 09, 2008

Memórias





Começo por informar que recebi uma resposta correcta ao problema que lancei na edição 892 deste jornal!

Apesar de já ter terminado o prazo dado para me enviarem a solução, apesar do leitor que a enviou não ser adepto do meu clube, eu dispus-me e enviar-lhe o prémio prometido, um livro da minha autoria e totalmente em branco, um exemplar autografado da 13.ª edição, edição que deverá chegar às bancas brevemente, lá para o final do século.

O senhor Diamantino Marques, residente no Laranjeiro em Almada, acertou em cheio no cálculo e na resposta, ainda lembrado da matemática que lhe foi ensinada em 71 pelo senhor Professor Isaías, do Campo de Besteiros. Agradeço ao leitor do Jornal de Tondela a sua participação, dou-lhe os meus parabéns e, conforme combinado, far-lhe-ei chegar a edição numero 100 do meu livro.

Estou a pensar em enviar, para o seu antigo professor, os contactos de alguns dos outros leitores que concorreram, pode ser que ele ainda consiga ensinar-lhes umas contas.

Eu falo muito mas se calhar também a mim me fazia bem uma ajudinha nesse campo. É que eu hoje estou completamente estoirado, tudo porque me saíram furadas umas contas que fiz e que, por norma, me saem até muito bem.

Todos os anos, algures durante um dos fins-de-semana da primavera, é preciso polir duas mesas e oito cadeiras de madeira que tenho no meu jardim, para lhes descascar a roupa com que se foram vestindo para se protegerem do frio, da chuva e da falta de pontaria de pássaros, passarinhos e passarões.

Normalmente, por capricho de um sorteio que teima em ser-lhe desfavorável ano após ano, é a Maria que também tem de fazer todos estes trabalhos mais pesados, mas como este ano é ano de campeonato europeu de futebol, eu, por bondade – sim, eu sou bondoso! – e já que a vou obrigar a ver tanto futebol, decidi que ia ajudá-la, decidi aliviar um pouco o seu trabalho, decidi polir pelo menos uma das cadeiras e encher a minha roupa e mãos com pó, isto tudo apesar de já estar muito cansado por ter andado a jogar ténis nos dois dias anteriores. Tenho um coração mole, é o que é!

Só que fiz mal as contas! A Maria já aprendeu uns truques e quando dei por mim metade do trabalho estava feito e ela à sombrinha, toda repimpada a supervisionar. Ou me ponho a pau ou não tarda nada estou a fazer alguns dos trabalhos caseiros. Urgggghhhh…até tremo!

Consta por aí que tabém o meu FêCêPê estará necessitado dumas aulitas com o Professor Isaías. Verdade ou não, aqueles cálculos furados já estão prejudicar a minha saúde graças a uma catrefada de amigos meus que têm passado estes dias a telefonarem-me cá para casa e a dizer-me “ó pá, se queres veres o teu clube a jogar nas competições europeias, tens de mudar já para o Canal Memória da TV Cabo”.

E logo eu, que nunca gozo com ninguém…acham isto justo? É, eu também!