Monday, August 24, 2009

Descontraindo




Por esta altura do ano, altura em que o sol está bem quentinho e anda pelo ar aquele cheiro a férias, sempre que posso enfio um dos meus fatos de banho e estendo-me de papo para o ar na esperança de que o calor derreta os pneus.

Foi um curandeiro amigo que me falou desta técnica de reposição da estética abdominal, a mais barata e indolor que ele tinha no catálogo para clientes broncos e tesos como eu, aconselhou-me a tirar partido das horas de maior calor para me esparramar, ele chama-lhe a teoria do torresmo, quanto mais quente mais possibilidade há de a banha derreter, lentamente, mas mantendo as propriedades da carne.

Não poupo nos esforços nesta luta sem quartel pelo regresso ao apetitoso trinca espinhas que eu era aos vinte anos e todos os sacrifícios são poucos para atingir esse objectivo; ao meio-dia e um quarto calço as chinelas de praia, pego num livro, numa garrafa de água e no boné, na toalha e na Maria, tudo por esta ordem, e deito-me, ora a ler ora a pensar na morte da bezerra, coitadita, vejam lá uma vaca ainda tão jovem e tão cheia de vida, com tanta erva para ruminar e, de repente, zás, ali está ela às fatias, no talho do tio Antunes, embrulhada em papel celofane, a catorze euros o quilo.

Ao fim de algum tempo os raios solares começam-me a chatear, já estive deitado de costas e de barriga para baixo, estou tão farto duma posição como da outra, suo que eu sei lá, estou tão cheio de calor que já não aguento mais.
Como a água ainda não está à temperatura ideal para que os meus ossos apreciem devidamente o prazer da natação – a partir de vinte e oito graus começa a ser aceitável – bato no ombro da Maria e aviso-a de que “já estou cheio de calor, não aguento mais!”. Ela cumpre logo com a sua obrigação, levanta-se e vai tomar banho.

Mesmo que não queiram, eu faço a pergunta por vocês: isso não é muito chato para ti? Claro! Sim, quer dizer, apesar dela não fazer fita e ir logo ao banho, a verdade é que nem meia hora depois já eu estou outra vez aflito, sem conseguir ter posição e cheio de calor! Que remédio tenho senão interromper, mais uma vez, a minha leitura para lhe dizer que se levante e que faça o que tem a fazer. Obviamente que é chato!

Além de chato e cansativo, de cada vez que ela volta da água e chega ao pé de mim, acha muita piada a passar-me a mão, gelada e molhada, pelas costas abaixo e eu não só fico tão arrepiado como ficou a Elisa Ferreira quando viu as últimas sondagens para a câmara do Porto como, naturalmente, fico danado como o raio porque aquela cabecinha não se dá conta de que, com tanta mudança de temperatura, ainda acabo possuído pela gripe suína e depois quero ver como é que vou continuar com este tratamento.

Quando a Maria não está mando o cão. Dá-me bastante mais trabalho porque o estafermo tem medo da água e eu tenho que o empurrar lá para dentro. Cinco minutos depois, cansado de ouvir a Maria a berrar comigo e farto de ouvir o bicho a ganir, vou buscá-lo porque o animal ainda não aprendeu a sair sozinho. Que canseira!



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