Monday, August 24, 2009

Virus II



Azar o vosso, desgraçados leitores!
Depois da alucinação da semana passada, muitos de vocês ficaram na esperança de que eu entretanto deixasse de respirar ou que fosse internado num hospício, enfiado num colete-de-forças e largado bem longe dum teclado.
Acontece que os hospícios precisam é de gente calma e tranquila, infelizmente todos eles disseram que estavam cheios, sem uma única vaga que fosse. A Maria, que tal como vocês também acha que lhe fazia bem pôr-me a saltar dum avião com um bruto rasgão no pára-quedas – estou a imaginá-la a olhar para o céu, a ver-me cair desamparado, a levar uma mão à boca, envergonhada e a dizer ooopppps, querido, esqueci-me de cozer aquilo – bem se fartou de chorar, implorar mas esta gente não tem sentimentos.
Deve ser um grande negócio este, tanto manicómio com a lotação esgotada mesmo com a crise do Sócrates que por aí vai, bem bom, quem me dera a mim gerir uma coisa destas! Isto se a minha cabeça funcionasse.
Ou então os responsáveis por aquelas chafaricas acharam que o mais acertado era fazer de contas que a lotação estava esgotada só porque, de vez em quando, dá-me para desatar a abrir muito os olhos, a encolher os ombros e a tremer os braços, pontapear bolas imaginarias e berrar como se estivesse a tomar banho à noite, todo nu, no pólo norte em plena noite de passagem de ano sem ter consumido uma única gota de álcool. Nada de grave mas parece que é embaraçante para quem tem uma relação familiar ou de proximidade comigo.
Não tendo ficado internado, lá terei que continuar com o relato da minha aventura à procura de gente infectada com o vírus dos porcos, dentro daquela furgoneta velha como eu sei lá o quê, um calor lá dentro que nem queiram saber, o único sitio fresco era um frigorifico minorca onde estavam guardadas as lamelas com as amostrar de sangue que iam para análise e aonde só dava para enfiar uma cabeça humana de cada vez.
Sabem o que é mais chato? É que, tantos sacrifícios que fiz e tantos perigos que corri e afinal não encontrei nem um só caso para amostra.
É quase tão frustrante como o crescimento da nossa economia: muitas promessas, muito alarido e depois, zás, é assim uma coisita ainda mais murchita e mais pindérica do que um girassol às duas e um quarto da manhã.
Vi porcos a espirrar, isso eu vi! Com o meu brio profissional cheguei-me tão perto deles que um acabou por espirrar mesmo em cima da minha tromba. Parecia o fim do mundo!
O pessoal entrou logo em alvoroço, a sirene a tocar como se as cuecas da motorista estivessem a arder, a velocidade nos limites do motor e da segurança, por pouco chegámos aos trinta e dois quilómetros por hora, um stress danado.
Grunhir ainda grunhi, mas a gripe não apanhei! Os exames ao sangue vieram perfeitos e limpinhos mas as autoridades competentes acharam por bem pôr o suíno de quarentena; também me pareceu um exagero tanto cuidado com o animal, afinal de contas a minha cabeçada não lhe acertou, acabei enfaixado junto ao tampão do depósito da gasolina, ainda tenho a marca na testa e os óculos no oculista. Se alguém precisava de cuidados era eu. Assim sendo, pode ser que vá mesmo de férias.

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