Friday, February 26, 2010

Assim seja!


(ilustração por Greg Horn)



Estou farto de puxar pelos miolos para ver se consigo escrever sobre um assunto sério mas a coisa, como é habitual em mim, não está fácil.
E até nem se pode dizer que não haja muito por onde escolher, (in)felizmente a nossa vida quotidiana está cheia de material onde eu me podia debruçar e, nas calmas, alinhavar umas quantas tiradas.
Ainda ontem à noite o senhor presidente do supremo tribunal de justiça fez o pleno e apareceu nos três canais de televisão, a tentar explicar aquilo das escutas e dos despachos e mais uma série de coisas. Como é tudo muito técnico, muito complicado e muito difícil de perceber, fiquei na mesma e não me arrisco a dar um único palpite que seja. Ou estou cada vez mais burro (o que não é de admirar), ou o senhor não se explica nada bem ou então as regras estão feitas para não serem percebidas. Contou porém, nas três entrevistas, que há um caso na sua vida de magistrado que ainda hoje o comove, com o qual ainda sonha regularmente, provavelmente foi um caso envolvendo uma boazona mamalhuda que se meteu em sarilhos.
Se aquele senhor, que é a quarta figura da nossa república, se dispôs a fazer o papel de simples figurante perante a comunicação social na mesma noite em que quiseram tapar o semanário Sol com uma peneira, vou ali e já venho.
Ou podia escrever sobre a candidatura ao cargo de presidente do PSD apresentada pelo eurodeputado Paulo Rangel mas, apesar de ser um político que eu admiro, vou ficar à espera e ver se ele me explica exactamente o que é que quer dizer com aquilo de ruptura com quinze anos de governos socialistas.
Ainda que ele explique a coisa como deve ser e consiga conquistar o lugar a que se candidata, vai ter muito trabalhinho a convencer-me de que o partido a que quer presidir ainda tem, como um todo, com os seus vários feudos, algo de diferente a oferecer, a começar por fiabilidade.
Optei, obviamente, pelo mais fácil, por um assunto ligeiro e lateral, um assunto que tem a ver com a grande amizade e o enorme carinho que nutro pelos lampiões deste país e cujo número, assim por grosso e à vista desarmada, deve andar aí pelos seis milhões de almas penadas, um número parecido com o total dos portugueses que vivem, dependem ou necessitam da ajuda do Estado português, nas formas mais benignas ou não.
Porque com o fim do carnaval se entra na Quaresma, sinto que é minha obrigação alertar-vos para que se preparem para o pior.
Em verdade vos digo que, para o vosso Jesus, depois de ele ter conseguido o milagre de pôr uma cambada de toscos a dar uns toques numa bola e a meter uns golitos, vai em breve começar um calvário que eu não desejo nem ao meu pior inimigo.
Dentro em breve, o vosso Jesus vai ser assobiado, sob as mãos dos lampiões associados vai sofrer e ser humilhado, vai descer aos balneários e às mãos dos vossos dirigentes vai ser castigado, despedido e mal pago e conforme o que constará no contrato não, não subirá de novo aos relvados para se sentar no banco dos suplentes e não festejará títulos em glória e a sua estadia no vosso clube terá fim.
Assim seja!

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