Saturday, December 16, 2006

Amores e desamores




Carolina abrandou o ritmo do passeio dominical a pé pela marginal da foz de modo a quase poder ver bem de frente o rosto do marido, ajeitou-lhe a gola do sobretudo, ergueu ligeiramente a cabeça, olhou-o nos olhos, esboçou um sorriso satisfeito e perguntou-lhe:
- Ó querido, se a primeira mulher que te cumprimentou, aquela morena de há bocado, é a amante do teu sócio e se a segunda, a bomba loira de mini-saia que te disse adeus é a tua, então estamos de parabéns, porque a nossa amante é, de longe, muito melhor do que a amante do Fagundes.

Pinochet morreu, já está enterrado e a vida de Fidel de Castro parece estar por um fio.
De entre as várias coisas que tinham em comum há uma que se destaca: ambos foram ditadores. Reza a lenda que Pinochet foi um ditador de “direita” e Fidel um ditador de “esquerda”.
Como bons ditadores, fosse porque fosse, mandaram prender, torturar e assassinar algumas dezenas de milhar de pessoas Ainda como bons ditadores que eram, roubaram os seus conterrâneos (e não só) tendo amealhado e dispersado fortunas que provavelmente ficarão por calcular.

Pinochet chegou ao poder, em 1973; por essa altura já Fidel era um veterano como primeiro-ministro, cargo que ocupou desde a revolução até 1976.

Os primeiros tempos de Pinochet terão também sido os mais brutais. Em poucos anos Pinochet privatizou quase tudo o que tinha sido nacionalizado por Allende, o homem que ele derrubou; porém, no inicio da década de oitenta, as más condições da economia forçam-no a reformar as suas próprias reformas, ficando parte dessa obra a cargo de um grupo de jovens economistas chilenos, conhecidos como os “Chicago boys” e muito influenciados pelas teorias de vários defensores da liberdade individual e da economia de mercado. No fim dessa década, um plebiscito negou-lhe um segundo mandato como presidente da república e, a pouco e pouco, foi perdendo peso e influência. O Chile já vai no terceiro presidente da república eleito por sufrágio universal desde o último mandato de Pinochet.

Em Cuba, com Fidel doente, dizem as más-línguas que tudo se mantém hoje como em 1973, nos tempos áureos da mãe Rússia. O estado, que é o patrão de todos os cubanos, continuará a depender das ajudas rotativas de outros países, para ir mantendo, racionada, a vida da sua gente. Poucos são os dados disponíveis sobre a economia da ilha embora sejam cada vez mais os turistas que a visitam.

Segundo um estudo, feito em conjunto pela fundação Heritage e pelo jornal americano Wall Street Journal, sobre o grau de desenvolvimento e liberdade na economia tendo por base o ano de 2004, o Chile ocupava a 14ª posição (integrando o grupo dos mais livres), Portugal a 30ª (grupo dos parcialmente livres) e Cuba a 150ª (grupo dos reprimidos). Apenas por curiosidade, o primeiro país europeu a aparecer na tabela é a Irlanda, na 3ª posição, os USA aparecem na 9ª, a Espanha na 33ª e a minha terra natal, o antigo Zaire, nem sequer tem cabidela para lá constar).
Nesse ano o Chile cresceu 6,1%, Cuba 2,9% e Portugal 1%.
Fidel é tão aclamado por esse mundo fora quanto Pinochet é odiado.
Como diria a Carolina, o meu ditador é, de longe, muito melhor do que o teu.

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