Sunday, December 03, 2006

Liberdades






Morreram, na semana passada, duas pessoas que eu admirei: o futebolista Puskas e o economista Milton Friedman.
Do primeiro as lembranças já são muito vagas, transportam-me a um tempo da minha vida que eu, então um puto na escola primária, não gosto muito de recordar, a minha infância era um inferno, estava infectado por um vírus que comandava toda a minha existência, um bicharoco terrível cujo nome cientifico era estrafego-te-aos-poucos benfiquismus e que curiosamente atacava mais aos domingos à tarde, punha-me os joelhos a tremer, um nó no estômago e as unhas nos dentes.

O húngaro Puskas era um dos fabulosos curandeiros nesse, já então, gigantesco Real Madrid; numa noite do ano de 62, ele quase me ia livrando do benfiquismus tendo-lhe acertado com três injecções na primeira das duas partes daquilo que se anunciara ir ser simplesmente um tratamento do tipo toma lá e embrulha; só que o treinador do vírus, também ele húngaro e portanto conhecedor das poções do compatriota, tinha um antídoto contra as mezinhas, um produto novo das africas chamado Eusébio, que lá conseguiu retardar a minha cura. Nessa noite ri-me à brava à custa do Puskas e pelo facto me penitencio.

Quando contactei com o segundo falecido já o meu intelecto estava crescidinho, tinha chegado à fase do “penso, logo sou do … porto”, estava portanto curado de tudo o que era má influência da cor vermelha, algo que o próprio senhor Friedman, prémio Nobel da Economia em 1976, ajudou a reforçar e a cimentar.

Este senhor, um gigante dos nossos tempos, insultado pelo comunismo e pelos adeptos dos governos paternalistas, deixou-nos um legado extraordinário através de ideais que realçam o tremendo respeito pelo indivíduo e pelos enormes benefícios que se obtêm quando somos “livres de escolher”. Com estas três palavras se pode resumir o seu legado. Conselheiro de muitos governantes desde o fim da primeira guerra mundial foi com Ronald Reagan e com Margaret Tatcher que o mundo mais se familiarizou com as suas ideias.

Na sua maneira simples de explicar a economia, dizia ele que eu posso gastar o dinheiro de quatro maneiras diferentes:
- Posso gastar o meu próprio dinheiro em mim mesmo. Se o gastar assim, então terei o máximo cuidado com o que faço e tentarei receber o máximo de retorno por ele;
- Posso gastar o meu dinheiro com outra pessoa, num presente de aniversário de alguém, por exemplo. Nesse caso, a minha maior preocupação não será com a qualidade da prenda mas com o seu custo;
- Posso gastar o dinheiro de outra pessoa comigo. Se eu estiver a gastar o dinheiro de alguém comigo, podem apostar que vou ter um belo e bem regado almoço;
- Por ultimo, posso gastar o dinheiro de alguém noutra pessoa qualquer. Neste caso, não só não me vou preocupar com quanto gasto como também não me vou preocupar com o que obtenho em troca.

Será assim tão difícil perceber que quanto menor for o peso do (des)governo, melhor será a vida de cada um de nós?

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