Thursday, July 02, 2009

Cordeirinhos







Estava eu muito bem refastelado no meu sofá, numa posição muito própria do homem – com o comando do televisor na mão, a passear de canal em canal – metido com os meus botões, a matutar nas coisas do meu dia-a-dia, quando, de repente, dei de caras com o rosto dum coitadinho no ecrã do aparelho.
Pareceu-me reconhecer o penteado, ia até jurar que a cara me fazia lembrar a do nosso querido líder e primeiro-ministro, mas o som estava tão baixo e a vozinha tão delico-doce que, confuso, fui incapaz de jurar a identidade do senhor, para lá de qualquer dúvida.
Embora tivesse elevado o nível do som do televisor, já não fui a tempo de ouvir mais nada do que estava a ser dito, excepto a afirmação de que sim senhor, o rosto estava muito satisfeito consigo mesmo.
A seguir ao choradinho do desgraçadinho, talvez aproveitando-se do facto do homem estar de rastos desde as últimas eleições, cerca duma trintena de economistas manifestaram-se a favor da revisão das grandes obras públicas, à laia de “arrive lui qu’il bouge encore” ou seja, traduzido para português, casca-lhe.
Ao que sei, a lista é constituída pela nata daquela classe, nomes muito sonantes, gente do mais competente que há, quase tudo (senão tudo) personalidades ligadas ou próximas dos socialistas, dos propriamente ditos e também da versão social-democrata, um grupo de amigos que reúne nada menos nada mais do que oito ex-ministros das finanças entre outras pastas e muitos gestores da coisa pública. Esta coisa pública inclui o que sai da minha algibeira para os cofres do monstro.
Eu cá não percebo puto de obras públicas, sejam elas grandes ou pequenas, trate-se de abrigos nucleares para as meninas do intendente ou de comboios de pequena ou grande velocidade.
Em boa verdade não é só de obras públicas que eu não percebo e felizmente sou um perfeito ignorante ambulante que se desloca em duas patas; mas sei muito bem que não gosto que saquem o guito do meu bolso em impostos elevados. Se ainda por cima é para o esbanjar, fico uma fera e, também eu, me transformo num animal feroz.
Para o gastar mal gasto até eu, na minha santa ignorância e no meu ritmo pachorrento, sou menino para ter umas quantas ideias e não preciso que os outros se incomodem por mim.
Daquele lote de notáveis economistas, exceptuando o Dr. Medina Carreira que, consistentemente diz mal da tropa fandanga que nos tem desgovernado, quer-me parecer que a esmagadora maioria dos outros anda um bocado distraída já há uns tempos.

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