Thursday, July 02, 2009

Sprays







A malta azul do norte pegou na toalha e na mesa do piquenique e rumou até à capital para despachar uma dobradinha; eu fiz exactamente o contrário, rumei ao interior norte e fui comer, entre outras iguarias, uma rica feijoada acompanhada duma pomada de cinco estrelas, um tinto da abençoada região do douro.
Como o repasto dos azuis do norte estava marcado para um restaurante relvado que fica mesmo à porta da minha casa, foi uma boa forma de me livrar do anunciado caos no trânsito que centenas de autocarros iriam provocar e da consequente emissão de muitos e mal cheirosos gases, altamente prejudiciais à fina mucosa da minha adunca penca.
Consegui o chamado efeito de 2 em 1, o efeito duplo, o género de resultado parecido com o daqueles produtos que os pobres coitados que têm cabelo precisam de usar para afugentar as lêndeas e outros bicharocos irritantes.
Eu não sou dado a sentimentos de inveja quanto à aridez do meu cocuruto mas devo confessar que me roo todo de cada vez que apanho um tempo de antena ou uma reportagem do candidato camarada Vital Sasson Moreira; é que não é só a inveja pela simpatia do homem nem pela quantidade do pelo, é a inveja pela qualidade do mesmo, sempre impecável, bem arranjadinho, sem abanar um só milímetro. Dá a sensação que nem um ciclone o revoltará.
Tenho dado por mim em profundas reflexões sobre isto mas continuo às escuras e às apalpadelas, a ver se entendo como é que aquilo é feito.
Em todo o caso, presumo que o segredo esteja na laca, calculo que o senhor use algo muito especial, infelizmente deve tratar-se dum produto de difícil acesso a qualquer Zé da esquina, não me admiro nada que seja uma coisa bastante mais barata lá fora do que cá dentro, o que ajudaria a explicar a candidatura.
Qualquer que seja a marca do produto em questão, acho que o camarada candidato deve abusar dele como eu abuso do chantilly em lata, quando borrifa a trunfa muito lhe há-de espirrar para a cara, o suficiente para lhe colar aos lábios aquele meio sorriso permanente e indefinido, de quem está, do alto da burra, a gozar com o pagode ou de quem está na presença da rainha montado numas socas seis números abaixo do seu tamanho.
Dizem-me que a grande maioria destes produtos, quando inalados assim, em doses industriais, provocam alterações na quantidade de oxigénio que chega às células azuis do snifante o que, na minha modestíssima opinião, explica que este candidato diga num dia que “certamente por acaso e só por acaso todos aqueles senhores [do caso BPN] são figuras gradas do PSD. Estamos à espera que o PSD se prenuncie sobre a roubalheira do BPN…o caso BPN é um escândalo vergonhoso e uma roubalheira…devemos denunciá-lo, porque é um escândalo, uma vergonha de utilização dos dinheiros da economia para efeitos puramente criminosos” e no outro afirme arrebatado que “o PSD, e a sua actual direcção, entrou em ruptura com a sua história e está a romper com a sua tradição, com o seu passado reformista…”.
Na impossibilidade de arranjar uma lata do produto para meu próprio gozo e consumo, vou tomar como boa a última afirmação do senhor socialista e vou ajudar o candidato parecido com os bonecos sempre em pé, o social-democrata Paulo Rangel, a manter a tal ruptura com o passado.

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