Wednesday, December 16, 2009

Às claras





Já não é só o rabo do gato que está de fora. O gato está todo ele de fora, a cauda, a cabeça, o tronco e os membros. Destapado e exposto. Todinho. Bastaram dois meses depois dos patos terem votado para que o felino deixasse o esconderijo, arreganhasse as beiças e afiasse as garras, pronto para as habituais e dolorosas carícias ao desgraçado do rato contribuinte.
Seguindo a táctica do polícia mau e do polícia bom, táctica muito utilizada nos filmes policiais americanos antes da era do Messias – agora, por lá, no paraíso, os policias e os ladrões juntam-se à esquina a tocar a concertina e a dançar o solidó – os felinos do governo socialista retomaram o tratamento ao nosso pêlo, voltaram ao assunto do aumento dos impostos. Nos filmes, o suspeito é primeiro confrontado com o trombudo polícia mau que em vez de chá e bolos o ameaça de todos os males possíveis e imaginários; depois vem o polícia bom, de cigarro na mão e sorriso nos lábios, todo ele mesuras, simpatia e promessas. No fim, destroçado, cansado e rendido o suspeito, os dois polícias acabam a noite nos copos, em grande e alegre farra com os amigos.
No papel de policia mau, o senhor governador do banco de Portugal, o tal que ganha mais por mês do que o presidente do banco central norte-americano, deu o mote em entrevista às televisões, largando a sua caríssima opinião de que, está na cara, para reduzir o défice até 2013 como nos impõem os malandros da união europeia, o aumento dos impostos é uma forte probabilidade.
Logo de seguida, no papel de policia bom, vem, não um mas dois senhores, o senhor ministro das finanças e o senhor primeiro-ministro, não pensem nisso, então, então, aumento de impostos?, esqueçam, nunca tal nos passou pela carola, que a velha caia já redonda no chão se nós estamos a mentir!, pelo contrário, se pudéssemos, até os descíamos, de tão bondosos que somos.
O felino actor que faz de polícia mau é o mesmo que fez, há anos, uma previsão até às centésimas para o défice do estado, com nove meses de antecedência. Também nessa altura tinham decorrido apenas cerca de dois meses desde as últimas eleições legislativas e a actuação do excelentíssimo técnico serviu de desculpa para que o então recém-empossado primeiro-ministro mandasse às urtigas a promessa, feita durante a campanha eleitoral, de não subir a carga fiscal. Afectado na sua capacidade de adivinho pelo aquecimento global do planeta em que vive, o actor que faz de policia mau, mostrou-se, há duas semanas, surpreendido pelo défice do estado ir atingir 8 por cento este ano, coisa que ele, apesar da sua sábia pessoa, nunca julgou possível. A idade não perdoa, até ao melhor dos cartomantes se evaporam as qualidades.
Os felinos actores que fazem, em conjunto, o papel de polícia bom, são igualmente criaturas reputadas, uma delas até é muito escutada mas, independentemente das suas excelsas qualidades, o desgraçado do rato contribuinte já percebeu o que lhe vai acontecer, vai mesmo levar nas ventas com mais aumentos nas suas contribuições em beneficio do grande esbanjador.
Como nos filmes americanos, estes nossos felinos que fazem o papel de policia mau e de policia bom, apesar de parecerem, aos olhos do suspeito rato contribuinte português, como sendo diferentes no tratamento e na preocupação com o bem estar do bicho, vão, também eles, acabar a noite na farra e nos copos com os amigos. São zangas públicas que escondem acordos e amizades privadas. E a gente a vê-los…

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