Wednesday, December 23, 2009

Vizinhos




Caxias, terra aonde habito, apesar de ficar a meia dúzia de quilómetros do centro da capital, não passa de uma aldeia com mais habitantes do que a maioria, razão pela qual, para além de mim, por cá vivem outros mânfios igualmente famosos.

O nome da terra é reconhecido no país inteiro não por eu cá morar mas por causa da famosa prisão para aonde eram recambiados, até ao vinte e cinco de setenta e quatro, os que não agradavam aos senhores que então estavam no poder. Não fora por isto, pouca gente no país saberia da sua existência.

Em Caxias, além da prisão e do seu hospital, está instalado, há mais de cem anos, um Instituto de reinserção social que tem, actualmente, como objectivo fundamental promover a prevenção criminal, através da reinserção social de jovens adultos delinquentes e, do apoio a menores em perigo ou com difícil adaptação social.

Por exemplo, jovens como o pê-esse-dê Pedro Passos Coelho que, numa entrevista, disse “fumei haxixe com uns amigos e, por acaso, só posteriormente percebi realmente o que tinha fumado” não têm estatuto para vir para cá, topa-se logo que são demasiado distraídos, são encaminhados para outras escolas mais especializadas ou então abraçam a carreira artística, vão para cómicos.

Segundo parece, o Instituto também presta apoio técnico aos Tribunais na aplicação de sanções penais e de medidas tutelares e correctivas, através da elaboração de relatórios sociais e de personalidade sobre o arguido e/ou, a vítima, assegurando o acompanhamento dos arguidos, dos indivíduos condenados e dos indivíduos em regime de liberdade condicional. Apoia ainda os Tribunais a nível da protecção e defesa dos direitos e interesses dos menores. Por outro lado, assegura apoio técnico aos indivíduos e famílias, a nível psicológico, social, económico e, a Instituições Particulares e Outras Organizações e à Comunidade em geral, no desenvolvimento de projectos e acções de Reinserção Social e de Prevenção da delinquência e da marginalidade e exclusão sociais.

Por ser um pouco daquilo tudo, um marginal e um excluído social é que José António Saraiva, director do semanário o Sol, foi, por três vezes, intimado por carta registada a comparecer no Centro de Reinserção Social, na “companhia de pessoa idónea, de preferência adulta”.

À terceira foi de vez e, conta o próprio, dado que a diligencia se referia a uma violação ao segredo de justiça no famoso caso de pedofilia, enquanto tentava dar com a morada calculou que a intimação à reinserção social fosse uma diligência para que “caso fosse condenado ao pagamento de multa, a juíza estaria interessada em saber quanto ganhava, se era casado, se tinha ou não filhos ou outros familiares a meu cargo, se vivia em casa própria, se tinha bens, etc.”.

Na morada, no número cinco da Estrada da Cartuxa, a pouco mais de duzentos metros da minha casa, diz ele que duas individuas não o questionaram sobre a sua capacidade financeira para pagar multas mas que “o interrogaram como se estivesse na policia, um interrogatório sobre o segredo de justiça, o que pensava da violação desse segredo, sobre a Lei de Imprensa, sobre o relacionamento dos jornalistas com as fontes, sobre a presunção de inocência e a preservação do bom nome da liberdade de imprensa, etc., etc., etc.”.

A “coordenadora da equipa” de inquisidoras informou-o de que ele "voltaria a ser interrogado por outras pessoas nos próximos dias. E que depois teriam de ir à sua casa, interrogar vizinhos e conhecidos".

Embasbacado, o jornalista diz que só há uma explicação para esta coisa aberrante: "Tratou-se de uma tentativa de intimidação".

Como não ouvi ninguém falar na coisa, nomeadamente o sindicato dos jornalistas ou a ERC, certamente que o episódio não terá nada de esquisito nem de grave, deve ser apenas um biscate que o Centro e as duas senhoras arranjaram.

Resta saber para que “Poder” andarão elas a biscatar.

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