Monday, May 12, 2008

Incestos Públicos





Beber vinhos topo de gama sem os pagar é raro, provar vinhos topo de gama e cuspi-los em vez de os beber é ainda mais raro mas foi exactamente o que tive oportunidade de fazer num evento gastronómico que decorreu em Lisboa, numas instalações no Terreiro do Paço, perto do local onde tiraram o trono à monarquia.

Quem também por lá andou na mesma noite foi o actual presidente da Câmara de Lisboa, o socialista António Costa que, pela comparação das nossas barrigas, me bate por KO absoluto nestas empreitadas, embora, a julgar pelos avisos das minhas calças, não deva faltar muito para eu o apanhar.

O dinheiro que a edilidade a que ele preside deve aos quinze maiores credores – para aí uns cento e oitenta milhões de euros – dava para me governar, a mim e a mais todos os meus, durante as próximas décadas, desde que eu deixasse já de fumar porque, ao ritmo a que aumenta o imposto sobre o vicio, daqui a uns trinta anos aquela verba dará, quando muito, para dois ou três macitos. Os porquês da dívida global não são discutidos, presume-se portanto que não haja qualquer dúvida sobre a sua exigibilidade.

A coisa estava complicada para o autarca e seus compadres pois, desde a campanha para a eleição intercalar ocorrida no verão passado, ainda não tinha sido possível arranjar o guito, nem mesmo através de empréstimos bancários muito badalados e muito chumbados e, já se sabe, quando a corda se aperta no pescoço é cá uma sensação de falta de ar que até chateia; isto para não falar no que a autarquia deve aos patos pequenos, armados em comerciantes que, distraídos ou não, lá foram fiando o descalabro da municipalidade.
Mas uma minuta de acordo entre a câmara e os principais credores promete trazer alguma tranquilidade. A ser aprovado, resultará num perdão de juros de mora anual no valor de EUR 12 milhões e num plano de pagamento ao longo de não sei quantos anos.

O que dá mais vontade de chorar, de rir, ou de chorar a rir conforme o gosto de cada um, é o nome dos accionistas das empresas na lista desses grandes credores, dos 6 principais, e os respectivos valores:
SIMTEJO – EUR 26,7M (Único accionista: os portugueses, através da AdP – Águas de Portugal SGPS, SA, Municípios de Lisboa, Loures, Vila Franca de Xira, Amadora, Mafra e Odivelas;
EDP – EUR 22,7 milhões (Principal accionista; os portugueses, através de uma quota de cerca de 28%);
CGD – EUR 19,7 milhões (Único accionista: os portugueses, através do Estado);
EMEL – EUR 18 milhões (Único accionista: os portugueses, através da Câmara Municipal de Lisboa
EPUL – EUR 15,9 milhões (Único accionista: os portugueses, através da Câmara Municipal de Lisboa);
VALORSUL – EUR 13 milhões (Único accionista: os portugueses, através da Câmara Municipal de Amadora, da Câmara Municipal de Lisboa, da Câmara Municipal de Loures, da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, da Empresa Geral do Fomento, S.A. e da Parque Expo’98, S.A).

Tudo somado, só a estes credores, são cerca de 118 milhões de “aéreos” que a autarquia de Lisboa deve a empresas que criou e que lhe pertencem, ou que também pertencem a outras câmaras, ou que são empresas públicas (com excepção da EDP que ainda o é parcialmente); são, em todo o caso, empresas que vivem à custa dos nossos impostos e que se preparam para oferecer um perdão de juros de mora anual de doze milhões por ano, repito, de doze milhões por ano.

Teria o Zé dos Quintais, que também é dono destas empresas todas, o mesmo tratamento de luxo por atrasos, às vezes só de um dia, no pagamento de dezenas, de centenas ou de poucos milhares de “aéreos” dos seus impostos? Teria? Então não!
Parece aquela confusão criada no banco do jardim, com uns empréstimos esquisitos e perdões de juros um bocado fatelas a alguns dos seus donos e/ou familiares.
Dá gosto ser um espectador contribuinte destes, ou para estes, filmes eróticos! É cá uma excitação!

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